Fundador sai do PS acusando Costa de "vassalagem" à China

Costa assumiu-se "perplexo" com as reacções e acrescentou que não confundia "oposição com bota abaixismo"

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Alfredo Barroso é um dos fundadores do PS Rui Gaudêncio

O histórico socialista e chefe de gabinete e da Casa Civil durante a presidência da República de Mário Soares, Alfredo Barroso, anunciou ontem a sua desfiliação do PS devido às declarações do actual secretário-geral durante um encontro com a comunidade chinesa, onde António Costa agradeceu o apoio e investimento chinês, e afirmou que o país estava agora numa "situação diferente" da que estava há quatro anos.

Num texto publicado na rede social Facebook, Barroso acusou Costa de "prestar vassalagem à ditadura comunista e neoliberal da República Popular da China" e de desrespeitar "centenas de milhares de desempregados e cerca de dois milhões de portugueses no limiar da pobreza". Por isso anunciava, no fim, que tinha solicitado, "pura e simplesmente, a desfiliação do partido".

O secretário-geral do PS aproveitou o lançamento online do Acção Socialista para “contextualizar” a sua intervenção. António Costa manifestou-se “perplexo” com as leituras feitas às suas declarações. “Para destruir a confiança já basta o Governo”, afirmou na sede do PS, antes de acrescentar que não confundia “oposição com bota abaixismo”.

A polémica estalou quando se tornaram públicas declarações de António Costa já com alguns dias. No Casino da Póvoa, perante a comunidade chinesa que celebrava o ano novo chinês, agradeceu o investimento chinês de uma forma que o eurodeputado do CDS, Nuno Melo, fez questão de denunciar no Diário Económico. Disse Costa: “Como nós dizemos em Portugal, os amigos são para as ocasiões. E numa ocasião difícil para o país, em que muitos não acreditaram que o país tinha condições para enfrentar e vencer a crise, a verdade é que os chineses e os investidores chineses disseram presente, vieram e deram um grande contributo para que Portugal pudesse estar hoje na situação em que está, bastante diferente daquela em que estava há quatro anos atrás.”

No texto, escrito quarta-feira à noite, Alfredo Barroso afirmava ainda que não ia aderir a qualquer outro partido. "Mas vou apoiar e votar no Bloco de Esquerda, tentando contrariar o oportunismo daqueles que se tornaram dissidentes do BE aproximando-se do PS de António Costa, à espera de um «lugarzinho» na mesa do orçamento, ou seja, na distribuição de cargos num futuro governo". 

Entretanto, foram surgindo reacções à posição tomada por Barroso. Vítor Ramalho, ex-deputado e antigo dirigente distrital próximo de Mário Soares aconselhou a actual liderança a não desvalorizar o sucedido."É útil que a direcção do partido também não encare isto como uma situação de uma pessoa que bateu com a porta por razões que não têm algum fundamento", disse, ao mesmo tempo que reconhecia não ter feito a mesma leitura. "Porque reconheço que a posição de um secretário-geral e simultaneamente candidato a primeiro-ministro tem que se pautar também pelo reconhecimento do papel que os Estados representam hoje no mundo e os países emergentes também, entre os quais a China”, disse este socialista à rádio Antena 1.

Alfredo Barroso foi um dos 25 fundadores que assinaram um manifesto de apoio a António Costa antes da realização das primárias que o catapultaram para a liderança do PS. Pouco tempo depois, já se assumia "desiludido" por não ver nele a "coragem de explicar se vai ou não fazer um esforço para negociar uma plataforma de entendimento com os partidos da Esquerda". E destacava a sua indefinição em relação à "questão do Tratado Orçamental, da questão da renegociação e/ou reestruturação da dívida, da questão das privatizações e da questão da promiscuidade entre o PS e os negócios".

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