Como português, quer um futuro melhor?

Nem só de legislativas vive o homem.

Há fenómenos na nossa paisagem política que não podemos deixar de nos interrogar sobre a sua razão de ser. Porque é que em Portugal não existe um partido com um forte componente popular e com uma marcada atitude anti-sistema como o grego Syriza (Coligação de Esquerda Radical) ou o espanhol Podemos?

Porque é que em Portugal a extrema-direita não consegue ter existência visível e o PNR – Partido Nacional Renovador se vê reduzido a tristemente festejar no seu site a colocação de um outdoor no Saldanha em Lisboa com a frase “Refugiados aqui Não – A nossa prioridade Portugal e os Portugueses” enquanto em França Marine Le Pen e a Frente Nacional vão de vento em popa?

Porque é que para as próximas eleições para a Presidência da República, muito provavelmente, não vamos poder contar com um candidato populista ou xenófobo ou, mesmo, perigoso como Donald Trump?

À primeira vista, o que temos de mais expressivo neste campo seria Alberto João Jardim. Quem já se esqueceu das suas declarações públicas num qualquer evento na Madeira, há alguns anos, indignando-se com a chegada do perigo amarelo: “Os chineses estão a entrar por aí adentro. Os indianos a entrar por aí adentro”. E, depois de confirmar a presença de chineses na sala, acrescentou “É mesmo bom para eles ouvirem. É bom, porque eu não os quero aqui”. Não tem a dimensão e a expressividade do muro de Donald Trump para conter a invasão dos delinquentes mexicanos mas, ao nosso nível, já é notável.

Em 15 de Agosto – no que não pode deixar de se considerar um excelente timing político – Alberto João Jardim lançou no facebook, na página de apoio à sua candidatura às eleições Presidenciais de 2016, dez questões para cada português pensar, responder e... esperava-se avançar no apoio à sua candidatura. As perguntas, embora algo monótonas já que todas começam com a expressão “Como Português”, pareciam potenciar uma vaga de fundo.

Não sendo possível reproduzi-las todas, lembramos somente três delas, certos como estamos que a maior parte dos portugueses, como portugueses, as terão lido, se não decorado: “Como Português que quer um futuro melhor, tem medo da única mudança decisiva que é a constitucional, e prefere se deixar outra vez à mercê dos candidatos presidenciais apoiados pelas figuras e partidos situacionistas que nada de importante vão alterar?” ou “Como Português, em vez de uma subordinação escandalosa, inconstante e parca de garantias aos poderes políticos e financeiros de uma Europa decadente também no plano dos Valores, antes não prefere que Portugal tenha uma nova Constituição que a Si defenda dos constantes abusos de lançamento de impostos e estabeleça regras fiscais e orçamentais no tempo, as quais atraiam investimento e criem Emprego?”. Ou, ainda: “Como Português, se em consciência, por patriotismo e por solidariedade social, acha que deve ajudar a mudar o sistema político-constitucional e pôr fim ao beco sem saída para onde nos trouxeram os poderosos interesses e Partidos situacionistas, está disposto ao voluntariado cívico de, na Cidade ou Aldeia onde vive, sem qualquer vantagem material, responder a participar numa organização PARA MUDAR PORTUGAL?”.

O português não parece brilhante mas são perguntas arrebatadoras que poderiam ter feito levantar os Portugueses que “querem um futuro melhor” em uníssono e que, no entanto, não tiveram a almejada repercussão. O que explicará esta falta de adesão dos portugueses àquele que poderia ser o candidato presidencial populista e anti-sistema?

No passado dia 14, Alberto João Jardim deslocou-se ao Clube dos Pensadores em Vila Nova de Gaia para explicar o seu pensamento político. Referiu, como sempre, a necessidade da mudança da Constituição mas, segundo o jornal online Observador, quanto aos refugiados sublinhou que “tem de se ajudar as pessoas”, mas “é preciso saber quem se recebe, até por uma questão de segurança nacional”. E acrescentou que “é preciso saber onde é que é precisa força de trabalho porque não vamos ter turistas cá dentro. Vamos saber onde é que o país precisa de força de trabalho para dar uma oportunidade de nova vida a essas pessoas”.

Parece evidente que o PNR já não o vai apoiar. De resto, como o próprio referiu, terá de ser um movimento popular de base a sustentar a sua candidatura: “Se querem, de facto, uma mudança em Portugal então nas respectivas cidades e nas respectivas aldeias formem comissões e digam “Sim senhor, o senhor avance mas tem aqui uma comissão para apoiá-lo”; agora eu ir de casa em casa, de aldeia em aldeia, a dizer “Façam o favor...” ou mandar um tipo atrás mim a tocar corneta pelas ruas, não, nada disso, eu essas figuras não faço”.

Esta recusa de Alberto João Jardim em entrar em palhaçadas, só por si justificava um movimento popular e, no entanto...

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