"Cavacologia é uma ciência oculta” que o PS não quer dominar

Os socialistas não contemplam a possibilidade de Cavaco Silva optar pelo Governo de gestão e aguardam indigitação de António Costa para breve.

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PS sem plano B para o caso de Cavaco não indigitar António Costa Miguel Manso

No rescaldo da demissão do segundo Governo Passos e da celebração do acordo à esquerda, o ambiente no PS é de inevitabilidade. O partido que lidera a nova maioria parlamentar antecipa para breve a indigitação, pelo Presidente da República, de António Costa como primeiro-ministro, sem admitir sequer a hipótese de Cavaco Silva vir a optar pela manutenção em gestão da coligação de direita ou pela nomeação de um chefe de Governo de iniciativa presidencial.

“Não contemplo outra hipótese”, assume o deputado e constitucionalista Pedro Delgado Alves. Para o socialista, a possibilidade de Cavaco Silva se recusar a dar posse a António Costa é inaceitável, uma vez que o PS cumpriu com todas as exigências feitas pelo Presidente em relação ao Governo. Nem mesmo as reticências assumidas pelo Presidente na sua última comunicação ao país em relação a um Executivo suportado por partidos que contestam os compromissos europeus e internacionais de Portugal entram nas contas de um possível volte-face em Belém.

“Cavacologia é uma ciência oculta que eu não domino e que, ainda por cima, é uma ciência a prazo”, acrescenta Pedro Delgado Alves. Esta posição reflecte esmagadoramente o sentimento generalizado no seio do grupo parlamentar do PS. Que, conforme reconheceu um dirigente daquele partido, está também suportado pela percepção de que até nos partidos da direita se espera pela indigitação de Costa.

 A deputada Ana Catarina Mendes, que fez parte do núcleo duro que negociou os acordos à esquerda, segue a mesma linha. “Nós não equacionámos ainda esse cenário. Para já, Cavaco Silva empossa António Costa”, confirma ao PÚBLICO. 

O máximo que um socialista admitia como hipótese remota, pelo que o PÚBLICO conseguiu apurar, é que o Chefe de Estado possa vir a exigir “garantias adicionais” às que estão acertadas nas “posições conjuntas” do PS, PCP, BE e Verdes. Ou então que exija – tal como fez a Passos e Portas após a crise da demissão irrevogável – a inclusão no Governo de elementos de todos os partidos que estão comprometidos com a solução gevernativa em causa.

Não há, portanto, qualquer resposta preparada para a eventualidade de Cavaco Silva fugir ao guião antecipado. Ainda assim, o Presidente parece ter optado por não seguir pelo caminho mais curto em direcção à indigitação. Cavaco Silva quererá ouvir personalidades fora do universo político antes de tomar a decisão.

A opção mais natural seria pela chamada a Belém de dirigentes de associações empresariais e de organizações da sociedade civil. Estão confirmadas audiências com a Confederação Empresarial de Portugal (CIP), a Confederação do Comércio e Serviços de Portugal (CCP), a Confederação dos Agricultores de Portugal (CAP), e a Confederação do Turismo Português (CTP). E depois disso, no início da próxima semana Cavaco suspende as audiências, para passar dois dias na Madeira, onde irá realizar a 7.ª jornada do Roteiro para uma Economia Dinâmica.

A verdade é que no caso de um Governo de gestão, os deputados ficariam de mãos atadas, mesmo admitindo que essa decisão fosse contra a Constituição. O deputado e constitucionalista Pedro Bacelar Vasconcelos é um dos que faz essa leitura. “Pode dizer-se que é substancialmente inconstitucional que deixe um governo em gestão e tornar uma situação que é um acidente numa situação da sua escolha”.

Mas um recurso para o Tribunal Constitucional levaria demasiado tempo para que essa acção fosse vantajosa. Daí o desabafo de um outro dirigente socialista quando confrontado com a possibilidade de Cavaco Silva não dar posse ao secretário-geral socialista. “O que é que a gente fazia, recuperávamos as G3?”

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