Facebook e Microsoft também estavam a ouvir as conversas dos utilizadores

Apple, Google, Facebook, Amazon e Microsoft – todas usavam trabalhadores externos para avaliar excertos de transcrições de áudio. Contrariamente às outras empresas, a Microsoft não suspendeu a prática. Apenas a tornou mais clara.

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O Skype é um dos mais populares serviços de videochamadas. Foi comprado pela Microsoft em 2011 Reuters/Dado Ruivic

A Microsoft tornou-se a mais recente empresa de tecnologia a admitir que tem pessoas a avaliar excertos de áudio gravados nos seus serviços. Mais especificamente, porções de conversas no Skype e pedidos feitos à Cortana, a assistente digital da Microsoft. 

O trabalho é feito por trabalhadores externos, que são contratados para controlo de qualidade. O objectivo é melhorar serviços que funcionam através da voz como a pesquisa, comandos de voz, transcrição, e serviços de tradução (pode-se ver o que a empresa guarda de cada utilizador através do painel de controlo de privacidade da conta Microsoft). É algo que o Facebook, a Amazon, a Apple, e o Google também já admitiram fazer – mas só depois de antigos trabalhadores denunciarem as práticas.

A Microsoft decidiu antecipar-se. “Percebemos que podíamos fazer um trabalho melhor a clarificar que, por vezes, o conteúdo [áudio] é revisto por humanos”, lê-se num comunicado da equipa da Microsoft sobre a alteração dos seus termos e serviços. Onde antes se lia que o “processamento de dados [áudio] pessoais incluem métodos automatizados e manuais” surge agora a explicação de que os “métodos manuais” são realizados por humanos.

O PÚBLICO tentou contactar a Microsoft para mais informações mas não obteve resposta até à hora de publicação desta notícia.

A notícia da Microsoft chega dias depois de o Facebook ter admitido usar trabalhadores externos para avaliar porções de áudio transcrito automaticamente. “Tal como a Apple e como o Google, parámos com a revisão de áudio por humanos há mais de uma semana”, lê-se em declarações da empresa à Bloomberg, que avançou com a história na terça-feira.

A Apple decidiu suspender o seu programa de revisão de áudio manual no começo de Agosto, após casos de gravações (de conversas sobre tráfico de drogas até utilizadores a terem sexo) serem relatados na comunicação social. O Google optou por fazer o mesmo na Europa, depois de admitir, em Julho, que tinha funcionários a ouvir e a gravar cerca de 0,2% das conversações dos utilizadores com o Assistant, o assistente virtual da empresa. A empresa também abriu uma investigação, depois de um canal de televisão belga mostrar que alguns clipes de áudio analisados estavam legendados com dados pessoais de utilizadores (por exemplo, a morada) e incluíam segmentos de discussão entre famílias.

Já a história do Facebook foi mudando. Numa audição no Senado norte-americano, em Abril de 2018, o presidente executivo do Facebook, Mark Zuckerberg, descreveu a possibilidade de a empresa escutar gravações como “uma teoria da conspiração”. Mais tarde, a empresa veio clarificar que “apenas acede ao microfone dos utilizadores” se estes deram autorização, e apenas para funcionalidades que requerem a voz (por exemplo, mensagens de áudio).

Num outro episódio, em Maio de 2018, uma discussão privada de um casal dono de uma coluna inteligente da Amazon foi gravada e enviada a um contacto por engano.

Nos últimos anos, as colunas inteligentes com assistentes digitais controladas por voz despertaram interesse, ao serem capazes de responder a perguntas em segundos, fazer chamadas, gerir outros aparelhos electrónicos e tocar música. Cada vez mais empresas oferecem assistentes digitais compatíveis com este tipo de colunas: a Microsoft tem a Cortana, o Google tem o Google Assistant, a Samsung está a desenvolver a Bixby, e a Amazon tem a Alexa. Todas as empresas dizem que as gravações são anonimizadas – uma técnica que permite que seja impossível perceber quem é o dono da voz – antes de serem enviadas para avaliação.

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