Hollande vai tentar formar uma coligação única contra o Estado Islâmico

Nível de alerta para "ameaça iminente e precisa" continua em Bruxelas, onde o metro e as escolas vão estar encerrados esta segunda-feira.

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Militares belgas na Grand-Place de Bruxelas Yves Herman/Reuters

A 48 horas de receber o Presidente francês na Casa Branca, Barack Obama pediu domingo que “cada país envie um sinal de que a perversidade de uma mão-cheia de assassinos não impedirá o mundo de tratar de questões vitais”, numa referência à cimeira do clima que se abrirá daqui a uma semana em Paris. Dez dias depois dos atentados que fizeram 130 mortos na capital francesa, Bruxelas, sede das principais instituições da União Europeia e da NATO, vai iniciar a semana com o metro e as escolas encerradas – o nível de alerta que corresponde a “uma ameaça iminente e precisa” foi prolongado.

O nível de alerta 4, o máximo, permanece na cidade e região metropolitana, enquanto o resto do país está em nível 3, accionado quando há uma ameaça considerada “possível e provável”. Os receios são de “um ataque como o de Paris, com múltiplas acções coordenadas e alvos como centros comerciais, lojas e transportes colectivos". As autoridades procuram dois suspeitos de envolvimento nos ataques de dia 13 e temem que estes tenham explosivos.

Vários encontros e actividades considerados não essenciais foram anulados pela Comissão Europeia, mas uma reunião dos ministros das Finanças da zona euro marcada para a cidade nesta segunda-feira foi confirmada.

Para além de Washington, François Hollande vai a Moscovo e estará com os principais líderes da União Europeia com o objectivo de convencer as potências a aliar-se na “destruição” do autoproclamado Estado Islâmico, que reivindicou os atentados de dia 13. A França invocou o artigo 42-7 dos tratados europeus, que prevê uma cláusula de solidariedade em caso de agressão e Hollande repetiu que o seu país “está em guerra”.

Obama esteve os últimos dez dias em viagem, do G20 na Turquia partiu para a cimeira da APEC (Cooperação Económica Ásia-Pacífico) e da ASEAN (Associação de Nações do Sudeste Asiático), na Malásia, onde respondeu às críticas de que os Estados Unidos não se têm envolvido o suficiente na luta contra os jihadistas na Síria e no Iraque. “O povo americano enfrentou no passado ameaças enormes, muito reais. E vencemos. Desta vez, não será diferente”, garantiu.

“Além de caçar terroristas, reunir informações, ataques com mísseis e impedir o financiamento, a ferramenta mais poderosa que temos é dizer que não temos medo”, disse ainda Obama, apelando a todos os governantes para participarem na cimeira do clima, a partir de dia 30 na capital francesa. São esperados 138 chefes de Estado e de Governo.

Hollande vai a Washington pedir a Obama para fazer mais no combate aos extremistas. Os atentados deram à França “uma voz mais forte” e “uma influência acrescida para dizer: vejam, é isto que queremos no terreno”, afirmou um diplomata citado pela AFP em Paris.

O mesmo fará já na segunda-feira, dia em que recebe o primeiro-ministro britânico, David Cameron, e quarta, quando é visitado pela chanceler alemã, Angela Merkel. Quinta-feira, o Presidente francês estará em Moscovo para um encontro com Vladimir Putin – franceses e russos têm coordenado operações militares na Síria nos últimos dias, mas a desconfiança sobre os objectivos russos mantém-se e Hollande tentará avaliar as possibilidades de “uma coligação única” para enfrentar o Estado Islâmico.

O porta-aviões francês Charles de Gaulle pode envolver-se nas operações na Síria a partir de segunda-feira, depois de ter chegado ao Mediterrâneo oriental com 26 caças a bordo, aparelhos que irão realizar múltiplos voos de reconhecimento, aumentando a capacidade de recolher dados por parte da coligação.

Presença no terreno

Ao contrário dos Estados Unidos, que “em breve” fará chegar à Síria dezenas de membros das forças especiais, confirmou domingo Brett McGurk, enviado de Obama junto da coligação internacional de combate aos extremistas, Paris excluiu para já o envio de quaisquer militares para o terreno, incluindo forças especiais.

Mas França sabe que sem forças terrestres será impossível derrotar o Estado Islâmico. “Uma vitória e a destruição do Daash passará obrigatoriamente, a certa altura, por uma presença no terreno, o que não significa presença francesa no terreno”, disse o ministro da Defesa, Jean-Yvez Le Drian, evocando a participação dos combatentes do Exército Livre da Síria (primeiro grupo armado da oposição, formado por desertores do regime e civis) e as milícias curdas que já combatem os radicais.

“No quadro de uma coligação internacional, é possível que os peshemerga [combatentes curdos] façam parte da força que libertará a cidade de Raqqa”, capital do grupo, disse, citado pelo Journal du Dimanche. “É preciso perseguir os terroristas, atacá-los no campo de batalha”, afirmou o ministro da Defesa. Entre os alvos da aviação francesa, Le Drian falou de Raqqa mas também de Mossul, a grande cidade do Norte do Iraque controlada pelo Estado Islâmico desde Junho de 2014.

Do resto da União Europeia o ministro francês disse esperar diferentes níveis de apoio”: “Alguns estados [como o Reino Unido] irão, espero, participar com ataques fortes no território sírio e iraquiano”; “outros deverão dar apoio logístico à França”, o que incluiu a disponibilização de meios como helicópteros ou aviões de transporte, ou informações.

Depois dos encontros de Washington a Moscovo, e antes de começar a preparar a cimeira do clima, Hollande vai presidir, na sexta-feira, a uma homenagem nacional em memória dos 130 mortos de Paris.

 

 

 

 

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