Rússia inicia nova fase nas operações na Síria com disparo de mísseis de cruzeiro

Exército sírio lança ofensiva terrestre na região centro com apoio da aviação russa. EUA recusam cooperação militar com Moscovo

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A Rússia anunciou ter atingido 120 alvos desde o início da ofensiva Ministério da Defesa da Rússia /Reuters

Numa nova demonstração do seu poder bélico, a Rússia anunciou que quatro navios da sua frota do mar Cáspio dispararam 26 mísseis de cruzeiros contra alvos do Estado Islâmico (EI) na Síria, na mesma altura em que, a coberto de bombardeamentos aéreos russos, forças leais a Bashar al-Assad lançaram uma ofensiva terrestre contra a rebelião no centro do país.

O anúncio – durante uma reunião entre o Presidente Vladimir Putin e o ministro da Defesa Sergei Shoigu transmitida pela televisão russa – mostra a velocidade a que Moscovo está a embrenhar-se no conflito sírio, confundindo as estratégias dos Estados Unidos e dos aliados, que há um ano bombardeiam os jihadistas sem conseguir apoiar de forma coerente a rebelião síria. Putin insiste que não enviará soldados para combater ao lado de Assad, mas está a mobilizar para a Síria meios capazes de dar um novo impulso a um Exército enfraquecido por deserções, baixas e derrotas que nos últimos meses puseram em perigo posições estratégicas.

O Kremlin forneceu poucos detalhes sobre a operação, revelando apenas que os mísseis percorreram 1500 quilómetros até atingirem 11 alvos que foram totalmente destruídos. Inicialmente foi dito que o alvo tinha sido o Estado Islâmico, mas mais tarde Moscovo assegurou que foi também atingida a Frente al-Nusra, braço sírio da Al-Qaeda. Baseando-se numa infografia publicada no site do Ministério da Defesa russo, a AFP conclui que os mísseis atingiram a província de Alepo, no Norte do país, visando posições dos ambos os grupos. 

As mesmas imagens indicam que os mísseis sobrevoaram o Irão e o Iraque antes de entrar na Síria – Teerão é o outro grande aliado de Assad e, coincidência ou não, um responsável iraquiano admitiu nesta quarta-feira à Reuters que Bagdad pondera pedir à Rússia que bombardeie as posições do EI no país, onde operam já aviões americanos e europeus.  

Mas não é só o envolvimento das forças navais – uma manobra idêntica ao ataque com que os EUA iniciaram as suas operações na Síria, no Verão de 2014 – que indicia o início de uma nova fase na participação russa na guerra. Nesta quarta-feira, o Observatório Sírio dos Direitos Humanos revelou que, pela primeira vez desde o início da intervenção russa, há uma semana, as forças governamentais aproveitaram os bombardeamentos russos para atacar posições dos rebeldes situadas junto à principal auto-estrada que liga Damasco ao Norte do país.

“O Exército sírio começou uma vasta operação terrestre no Norte da província de Hama com a cobertura aérea russa”, confirmou à AFP um responsável militar sírio, adiantando que o objectivo é cortar as linhas de abastecimento a Idlib, província controlada quase na totalidade por uma coligação liderada pela Frente Al-Nusra. O Observatório diz não ter informações da presença de militares russos no terreno, mas uma fonte na região disse à Reuters que há combatentes do Hezbollah ao lado das forças governamentais. Em Moscovo, Shoigu sublinhou que “a intensidade dos ataques está a aumentar” e Putin afirmou que as próximas operações militares serão “sincronizadas” com as acções do Exército sírio.

Moscovo tinha desafiado os países da coligação a coordenar os ataques contra o Estado Islâmico, sugerindo-lhes a partilha de informações sobre alvos a atingir. Mas o secretário da Defesa norte-americano foi rápido a garantir que o diálogo se limitará a questões técnicas e de segurança, a fim de evitar acidentes – o Pentágono revelou que pelo menos um avião da coligação teve de desviar-se para evitar aparelhos russos.

“Não estamos preparados para cooperar com uma estratégia que é errada, tragicamente errada”, disse Ashton Carter, repetindo a acusação de que a Rússia está a usar a cobertura do terrorismo para apoiar Assad. O Ministério da Defesa russo respondeu dizendo que Washington, ao contrário de outros países que “vêem o Estado Islâmico como um inimigo real que precisa de ser destruído”, está “constantemente à procura de razões para recusar cooperar na luta contra o terrorismo”.

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