11 forças políticas disputam 47 lugares no Parlamento

Ao fim de quatro décadas, madeirenses vão às urnas sem Jardim. PSD luta para manter a maioria absoluta enquanto a oposição faz tudo para travá-la.

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O PSD-Madeira aprovou sozinho a moção de confiança a Alberto João Jardim dr

“Quem é que haverá, quem é que não acha, que é o Alberto João que põe a Madeira em marcha”. O cantar do refrão, repetido durante 36 anos de mandatos consecutivos sustentados por maiorias absolutas, deixou de fazer eco nas montanhas do arquipélago. Pela primeira vez, os madeirenses iniciam uma campanha eleitoral sem a música de sempre.

Sem o actor que confundia governação e partido (PSD) pelos palcos da ilha e sem a eterna necessidade de conflito permanente. Uma marcha que acabou a 27 de Janeiro de 2012 quando Jardim assinou com a República o Programa de Assistência Económica e Financeira (PAEF) descoberta que foi uma dívida que ascendia a 6,3 mil milhões de euros, sendo que o esforço dos madeirenses, até ao momento, tem exclusivamente servido para pagar juros.

A herança é pesada. A estimativa da população desempregada na RAM, fixou-se em 19,9 mil pessoas. A economia está parada. Com falências atrás de falências. O crescimento é nulo. Não há dinheiro. E muitos questionam se algum dia a Madeira conseguirá pagar a sua dívida. Daí que a situação financeira e social ajuntar aos problemas das acessibilidades - nomeadamente as ligações marítima e área de passageiros entre o Funchal e o continente - bem como a renegociação do PAEF e a redução da carga fiscal sejam os temas centrais da campanha. Uma coisa é certa.

No próximo dia 29 de Março inicia-se um novo ciclo. Nada será como antes, aconteça o que acontecer. Quem teve o original durante 4 décadas rejeita qualquer tentativa de fotocópia. Mas os tiques ainda brotam do terreno, incluindo a oposição que ainda não ajustou o discurso ao ponto de correr o risco de branquear os últimos 40 anos. Temos um exemplo. Ex-socialistas que compõem a Plataforma de Cidadãos escolheram Alberto João Jardim como candidato a presidente do governo.

Com oito partidos em disputa, PSD, BE, CDS, PCTP/MRPP, PND, PNR, JPP, MAS e três coligações ‘Mudança’ (PS/PTP/MPT/PAN), CDU (PCP/PEV) e a Plataforma de Cidadãos (PPM/PDA), os eleitores deparam-se com onze opções de voto. Confuso? Talvez.

Os madeirenses sempre conviveram com boletins carregados de siglas mas sob uma voz de comando. Se as eleições fossem ontem, o PSD-M voltava a vencer, com 43,3% do eleitorado mas sem maioria absoluta, sendo o maior problema para Albuquerque o concelho do Funchal que pende para a esquerda. O estudo de opinião feito pela Eurosondagem para o Diário Notícias da Madeira e a TSF revela que o PSD atinge quase o dobro das preferências da segunda candidatura melhor colocada, a Coligação Mudança (22,5%), ficando o PSD a 1 ou 2 deputados de atingir o objectivo. Recorde-se que já em 2011 o PSD obteve o pior resultado de sempre com Jardim a perder 8 deputados face a 2007.

No estudo de opinião, o CDS-PP desce e abandona a posição de maior partido da oposição, conquistada em 2011. A projecção aponta para 11,1% o que significa perda de mandatos para os centristas. As 10 forças partidárias aparecem nesta altura com probabilidades de serem eleitas.

Destaque para a entrada do JPP, um movimento de cidadãos que se transformou em partido, e que poderá eleger 4 deputados (7,7%). A sondagem aponta, ainda, o regresso do BE (1 deputado) enquanto a CDU, com 4,8%, tende a duplicar preferências e a reconquistar de novo um grupo parlamentar enquanto o PND corre o risco de perder o lugar.

A nível nacional, o PSD de Pedro Passos Coelho tem uma “forte expectativa” de poder renovar a maioria absoluta na região autónoma, mas caso isso não aconteça Carlos Carreiras, vice-presidente do PSD, considera que as situações políticas, na Madeira e no continente, estão bem delimitadas por causa da autonomia da região e do próprio partido. Apesar dessa separação, é sempre evitável uma contaminação negativa. “Tudo o que esteja a desviar as atenções a nível nacional, da governação e nos factores positivos que se começam a destacar, causa ruído e deve evitar-se”, afirma.

Se os sociais-democratas querem segurar a maioria absoluta na Região Autónoma, os centristas querem evitá-la a todo o custo. E admitem que, sem maioria, o PSD venha a fazer coligação com o CDS. Um dos factores que o partido está a ter em conta é a dispersão de votos à esquerda.

“Com um sistema tão proporcional como o da Madeira é fácil eleger um deputado”, comenta um dirigente nacional do CDS. As eleições regionais e a disputa eleitoral entre PSD e CDS são até um pretexto para a questão da coligação pré-eleitoral nacional ficar em banho-maria até ao dia do sufrágio. Resta saber se os resultados de 29 de Março vão ser facilitadores de uma coligação PSD/CDS regional e se, nessa altura, a aliança entre os dois partidos se replica a nível nacional. Na Madeira é visível o namoro do CDS.

Albuquerque acha  “estranho” tendo em conta que o partido de José Manuel Rodrigues ataca ferozmente as propostas dos sociais-democratas.  O novo líder do PSD/M e candidato à presidência do governo, está debaixo de fogo. Da oposição, é óbvio, que o tenta colar à continuidade.

Do ainda, um lume brando que alimenta a fogueira do partido, após umas eleições internas fortemente disputadas e que obrigaram a uma segunda volta.  Daí que a renovação da maioria absoluta seja o seu grande objectivo. Apesar de Jardim manter-se fisicamente afastado desta campanha, inaugurando tudo o que pode até ao fim, incluindo uma roulotte, a verdade é que as suas contas não deram certo quanto ao sucessor, e tem feito constar junto de alguns dos seus pares que vai votar em branco.

Albuquerque, por seu lado, empenha-se em afastar-se da matriz de Jardim, delineando uma campanha de proximidade, porta-a-porta, promovendo jantares com apoiantes. E sem comícios, facto inédito. Só a Coligação Mudança e o CDS irão utilizar este meio de comunicação de marketing político.

O que já não é inédito é Pedro Passos Coelho, ao contrário de António Costa, Paulo Portas, Catarina Martins e Jerónimo de Sousa, não participar na campanha. Albuquerque considera que “não faz sentido” a presença do lider nacional uma vez que se trata de eleições regionais.

Mas há mais. O sucessor de Jardim alterou, ainda, o léxico. O célebre “contencioso das autonomias” nunca mais foi evocado, substituindo-o por “pontes de diálogo” com o poder central, alterando, ainda, as promessas por “garantias”. Sem compromissos de acordos pré-eleitorais o candidato do PSD não rejeita o cenário de uma coligação mas não aponta candidatos remetendo as eventuais soluções para depois das eleições.  

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