Batalha por Debaltseve dificulta ainda mais acordo de cessar-fogo

Exército ucraniano e combatentes separatistas reforçam ataques nas horas que antecedem a entrada em vigor de um cessar-fogo. Ninguém sabe como resolver a situação na cidade cercada pelos rebeldes.

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Separatistas controlam quase todos os acessos a Debaltseve, na província de Donetsk DOMINIQUE FAGET/AFP
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O acordo assinado quinta-feira na capital da Bielorrússia ainda não fez nada pela paz no Leste da Ucrânia, mesmo tendo em conta que o cessar-fogo só tem início marcado para a madrugada de domingo. No final da cimeira de Minsk, todos os líderes disseram publicamente que esperavam um abrandamento do conflito nas horas seguintes, mas desde então já foram mortas pelo menos 20 pessoas, entre combatentes e civis, de acordo com declarações das forças ucranianas e dos rebeldes pró-russos.

Os combates concentram-se sobretudo na cidade de Debaltseve, onde 8000 soldados ucranianos estão cercados e expostos a intensos bombardeamentos pelos separatistas da autoproclamada República Popular de Donetsk.

"O inimigo continua a aumentar as suas forças nas principais áreas do conflito armado. A situação mais intensa verifica-se em Debaltseve", disse nesta sexta-feira o porta-voz do Exército ucraniano, Andri Lisenko. De acordo com as contas do Governo de Kiev, pelo menos 11 soldados foram mortos e 40 ficaram feridos entre quinta e sexta-feira, nas horas que se seguiram à assinatura de um acordo promovido pela chanceler alemã, Angela Merkel, e pelo Presidente francês, François Hollande.

A Nordeste de Debaltseve, já na província de Lugansk, pelo menos dois civis foram mortos e seis ficaram feridos na queda de um rocket num café, na cidade de Shchastia, controlada pelas forças do Governo de Kiev.

"O sistema de aquecimento da cidade não funciona e as linhas eléctricas foram danificadas, assim como o fornecimento de água. É desta forma que se preparara um cessar-fogo", disse ironicamente Hennadi Moskal, responsável pela administração da cidade, citado pela agência Reuters.

Os separatistas também acusaram as forças de Kiev de estarem a aproveitar as horas que antecedem o cessar-fogo para reconquistarem território, ou pelo menos para enfraquecerem as posições dos inimigos, principalmente nas cidades de Donetsk e Gorlivka. Num comunicado, os rebeldes dizem que três crianças foram mortas num ataque das forças governamentais contra Gorlivka.

Os repórteres da agência Reuters testemunharam disparos de artilharia de ambos os lados – o Exército de Kiev lançou ataques a partir da cidade de Kramatorsk e os separatistas dispararam a partir de Donetsk. Um dos combatentes pró-russos ouvido pela agência de notícias falou do acordo de cessar-fogo em tom jocoso: "Que cessar-fogo? Não me faças rir. Este já é o segundo ou terceiro cessar-fogo."

Nó ferroviário
O acordo assinado na quinta-feira não prevê qualquer solução específica para Debaltseve. Ao contrário de outras cidades, em que uma e outra parte mantêm um controlo relativamente confortável, a batalha em curso por Debaltseve dificilmente levará os separatistas a recuar nas suas posições devido à natureza estratégica da cidade, que é também um importante nó ferroviário entre Donetsk e Lugansk.

De acordo com o jornal britânico The Guardian, a batalha por Debaltseve foi mesmo um dos pontos principais das negociações de Minsk, com o Presidente russo, Vladimir Putin, a tentar forçar o adiamento do cessar-fogo por pelo menos dez dias. De acordo com testemunhas presentes na cimeira dos líderes da União Europeia, em Bruxelas – onde Merkel e Hollande transmitiram aos seus parceiros os pormenores da cimeira de Minsk –, o Presidente russo terá deixado claro que Debaltseve tem de cair nas mãos dos separatistas.

Para além do cessar-fogo, as partes assinaram um acordo que prevê medidas de médio e longo prazo de concretização ainda mais difícil, como a realização de eleições nas províncias rebeldes de acordo com as leis da Ucrânia; o regresso do controlo da fronteira com a Rússia para as mãos de Kiev; e uma amnistia que ninguém sabe muito bem quem abrangerá.

Nesta sexta-feira, o ministro dos Negócios Estrangeiros da Ucrânia, Pavlo Klimkin, excluiu os líderes separatistas dessa amnistia, apesar de o documento assinado não fazer qualquer referência a excepções. Esta ausência de excepções foi criticada no Twitter pela responsável da organização Human Rights Watch em Bruxelas, Lotte Leicht: "A amnistia prevista em Minsk é perturbadora. Não pode negar justiça às vítimas de crimes atrozes, incluindo o derrube do voo MH17", disse Leicht, numa referência à queda do avião da Malaysia Airlines em Junho do ano passado, que matou os 283 passageiros e 15 tripulantes a bordo.

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