“A França não chora, mantém-se de pé”, diz Hollande nos funerais dos polícias mortos

Homenagens em Paris e em Jerusalém às vítimas dos atentados da última semana. "Judeus não podem ter medo de andar na rua na Europa", diz Presidente israelita.

Hollande discursou na Prefeitura da Polícia, em Paris
Fotogaleria
Hollande discursou na Prefeitura da Polícia, em Paris Patrick Kovarik / AFP
Fotogaleria
Homenagem de Hollande aos polícias mortos Philippe Wojazer / Reuters
Fotogaleria
Agentes da polícia municipal de Paris assistem à cerimónia fúnebre Gonzalo Fuentes / Reuters
Fotogaleria
Os três agentes foram condecorados com a Legião de Honra Philippe Wojazer / Reuters
Fotogaleria
Judeu ultra-ortodoxo reza durante o funeral das quatro vítimas do atentado da mercearia kosher de Paris Gali Tibbon / AFP
Fotogaleria
Familiares de Yoav Hattab numa cerimónia com um caixão simbólico perto de Telavive Nir Kafri / Reuters
Fotogaleria
Pessoas assistem à cerimónia em Paris Gonzalo Fuentes / Reuters
Fotogaleria
Corpos dos quatro judeus mortos no cemitério de Jerusalém Jim Hollander / Reuters
Fotogaleria
Funeral em Jerusalém Jack Guez / AFP

O dia foi de homenagens às vítimas do terrorismo que abalou França na semana passada. Em Paris, os três polícias receberam a mais alta insígnia da República. Em Jerusalém, foram a enterrar os quatro judeus vítimas do atentado à mercearia kosher na Porta de Vincennes e o Presidente israelita quis deixar bem claro que os judeus devem poder viver onde quiserem sem receio pela sua segurança.

Na sede da polícia parisiense, o Presidente François Hollande concedeu a Legião de Honra a título póstumo – a mais alta condecoração da República – aos três agentes mortos nos ataques da última semana. Ahmed Merabet e Franck Brinsolaro, mortos pelos irmãos Kouachi durante o ataque ao Charlie Hebdo, e Clarissa Jean-Philippe, abatida por Amedi Coulibaly num tiroteio em Montrouge no dia seguinte, foram elogiados por Hollande. “Eles morreram no cumprimento da sua missão, com coragem, bravura e dignidade. Eles morreram para que pudéssemos viver em liberdade.”

No discurso que proferiu no pátio da Prefeitura da Polícia – “local que simboliza a ligação entre a República e a polícia” – Hollande dirigiu-se também aos familiares das vítimas para dizer que “toda a França partilha” a sua dor.

Às homenagens seguiram-se as declarações de força, dirigidas a um país em sobressalto e em alerta perante possíveis novas ameaças, mas mais forte e unido depois das marchas de domingo. “A França mostrou a sua força face aos fanáticos, a sua unidade face aos divisores, a sua solidariedade às vítimas do terrorismo”, disse Hollande.

“A nossa bela e grandiosa França não chora nunca, mantém-se de pé”, garantiu o Presidente, voltando a insistir na união, “a arma mais sólida [dos franceses]”.

Nos arredores de Paris, o cemitério muçulmano de Bobigny recebeu uma cerimónia mais modesta, mas igualmente emotiva. Ahmed Merabet, o polícia muçulmano de 40 anos que foi morto à queima-roupa por Said Kouachi, foi homenageado por centenas de pessoas que gritavam “Allahu Akbar” – ironicamente, o mesmo grito lançado pelos irmãos Kouachi enquanto matavam o agente.

Não escolher Israel pelo medo
Em Jerusalém, os quatro judeus mortos durante o ataque à mercearia kosher (que vende alimentos que respeitam a lei judaica) também foram homenageados. Cerca de duas mil pessoas compareceram ao funeral no cemitério de Har HaMenuhot. O Presidente israelita, Reuven Rivlin, adoptou uma postura mais moderada em comparação com o primeiro-ministro, Benjamin Netanyahu, notava o Le Figaro.

Em causa estão as declarações de Netanyahu, também presente na cerimónia, que no fim-de-semana encorajou os judeus que vivem em França a emigrarem para Israel, para fugir à ameaça do extremismo islamita. Rivlin, por contraponto, apresentou Israel como uma terra que deve ser escolhida pelo amor e não pelo medo.

“A terra dos vossos antepassados não deve ser alcançada no desespero ou na aflição, como consequência das destruições, do terrorismo ou do medo. A terra de Israel é a terra da fé, queremos que a escolham pelo amor”, afirmou o Presidente durante a cerimónia fúnebre no cemitério de Har HaMenuhot.

França tornou-se em 2014 no país de onde o maior número de judeus tem partido para Israel. No ano passado um número recorde de sete mil judeus franceses emigraram para Israel – o dobro do registado em 2013, segundo a Agência Judaica, e o dobro dos judeus norte-americanos que fizeram o mesmo. A organização previa, ainda antes dos ataques, que durante este ano perto de dez mil judeus franceses rumassem a Israel.

No ataque à mercearia judaica na Porta de Vencennes, na sexta-feira, foram mortos quatro judeus: Yoav Hattab, Phillipe Braham, Yohan Cohen e François-Michel Saada, cujos corpos chegaram durante a madrugada a Israel.

A comunidade judaica em França tem merecido uma atenção especial por parte das autoridades, que receiam novos ataques. Na segunda-feira, o Ministério do Interior mobilizou milhares de soldados para reforçarem a segurança das mais de 700 escolas judaicas e lugares de culto em todo o território.

“Não podemos permitir-nos que em 2015, 70 anos depois do fim da II Guerra Mundial, os judeus tenham medo de andar na rua na Europa com a kippah [adereço para cobrir a cabeça utilizado pelos judeus praticantes] ou os tzitzit [franjas do talit que representam os mandamentos]”, declarou Rivlin. Em representação do Governo francês, a ministra Ségolène Royal afirmou que o anti-semitismo “não tem lugar em França”.
 

   

Sugerir correcção
Ler 5 comentários