Alemanha divide-se entre manifestações contra e a favor do islão

Líderes do Pegida dizem que acontecimentos em França mostram que têm razão ao avisar para os perigos da religião muçulmana.

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Merkel mostrada com véu islâmico na manifestação do movimento Pegida em Dresden Fabrizio Bensch/Reuters

Apesar de apelos de vários políticos alemães, milhares de alemães manifestaram-se em Dresden assciados ao movimento Pegida, que tem organizado marchas anti-islão às segundas-feiras.

O movimento Pegida continua a crescer em Dresden, cidade da ex-RDA, mas noutras cidades alemãs contra-manifestações têm sido esmagadoras, impedindo as marchas rivais. 

Depois dos ataques contra o jornal satírico francês Charlie Hebdo que mataram 12 pessoas, o movimento alemão Pegida (acrónimo de Europeus Patriotas contra a Islamização do Ocidente) não demorou a reagir. “Os islamistas, contra os quais o Pegida tem vindo a avisar nas últimas 12 semanas, mostraram à França que não são capazes de democracia mas sim de olhar para a violência e morte como resposta”, escreveram os organizadores do movimento, que nasceu em Outubro em Dresden com uma marcha de 500 pessoas. “Os nossos políticos querem que acreditemos no contrário. Terá de acontecer uma tragédia destas na Alemanha?”

Após os acontecimentos de França – a chanceler alemã, Angela Merkel, esteve na marcha de domingo em Paris –, vários líderes políticos alemães apelaram ao Pegida para não realizar a sua marcha desta segunda-feira, que na última edição tinha tido 18 mil participantes. Mas os organizadores seguiram com o evento, apelando a uma maior participação. Não havia números oficiais, mas no final da marcha, o organizador Lutz Bachmann reivindicava 40 mil pessoas no protesto. Além dos cartazes “Je Suis Chalie” havia outros dizendo “Islão = carcinoma”.

Enquanto isso, no mesmo dia a notícia era que perto, em Leipzig, outra cidade do mesmo estado-federado da Saxónia, a contra-manifestação tinha vastamente superado a manifestação: entre 20 a 35 mil contra o Pegida, cerca de 2500 pelo movimento anti-islão. Como noutras cidades, sucediam-se nas redes sociais os cidadãos dizendo “obrigado Leipzig”, congratulando-se por não haver ali marchas de um movimento que muitos associam à extrema-direita – apesar de os organizadores do Pegida proibirem símbolos neonazis, tem havido relatos de alguns integrantes desses grupos nas marchas e há mesmo suspeitas de que, depois de uma delas, alguns desses indivíduos agrediram imigrantes.

Merkel participa em marcha de associações muçulmanas 
A chanceler, Angela Merkel, tem feito várias declarações contra o movimento Pegida, dizendo que os seus promotores têm “ódio nos seus corações”.

Merkel confirmou, tal como o Presidente, Joachim Gauck, que participará nesta terça-feira, na capital, numa marcha organizada pelo Conselho Central de Muçulmanos e pela Associação da Comunidade Turca de Berlim. A manifestação tem como palavras de ordem “Por uma Alemanha aberta e tolerante”, “pela liberdade religiosa e de opinião”, e ainda “terror não em nosso nome”.

“O islão faz parte da Alemanha”, disse ainda a chanceler, repetindo uma formulação usada pelo antigo Presidente Christian Wulff.  Na Alemanha, país com 80 milhões de habitantes, há cerca de quatro milhões de muçulmanos, a maioria de origem turca. Ainda antes dos ataques de França, 57% dos alemães ouvidos num inquérito disseram sentir-se ameaçados pelo islão.

Se apesar disso na Alemanha os apelos à tolerância têm sido maiores em todas as cidades, excepto Dresden, já começam a aparecer spin-offs do Pegida na Áustria, Escandinávia e na Suíça.

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