Oposição devolve recados ao Presidente da República

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Ferro Rodrigues quer plataforma alargada que defenda a reestruturação da dívida pública Enric Vives-Rubio

PS, BE e PCP criticaram o discurso do Presidente da República neste 5 de Outubro, considerando-o co-responsável pela crise de confiança no sistema político.

O líder parlamentar do PS, Ferro Rodrigues, optou por devolver recados a Cavaco Silva, dizendo que também devia ter feito uma autocrítica pelas funções públicas que exerceu. "O senhor Presidente da República, tendo sido primeiro-ministro durante dez anos e sendo Presidente da República também praticamente há esse tempo, falando da crise do sistema político, devia também ter feito a sua própria autocrítica, coisa que não fez", afirmou Ferro Rodrigues aos jornalistas, no final das comemorações.

Ferro lembrou, por outro lado, que até agora nunca Portugal teve uma crise de governabilidade devido ao actual sistema político. "Portugal não teve até agora nenhuma crise de governabilidade, houve sempre soluções para formar Governo, a crise que existe é uma crise de confiança determinada pelo que aconteceu depois da crise internacional", afirmou, referindo-se à emigração e ao desemprego.

"A ideia de que a política é pouco relevante e as decisões se tomam em Bruxelas ou em Washington é uma ideia que tem a ver com a desmobilização e a abstenção que o Presidente da República falou" no seu discurso, acrescentou o novo líder parlamentar socialista.

Para o BE, Cavaco Silva persistiu "no erro" de insistir no "compromisso" à volta da "política de austeridade" e que é isso que leva ao desagrado para com as instituições democráticas.

"Quando, persistindo no erro, o Presidente da República insiste na chamada cultura de compromisso à volta de mais do mesmo, da política de austeridade, da política da troika sem a troika, esse compromisso é aquele que fatalmente leva a um aumento do desagrado das cidadãos e das cidadãs em relação às políticas que se têm seguido", afirmou aos jornalistas o deputado Luís Fazenda.

"O Presidente da República fez eco de uma realidade que é o enorme desagrado das portuguesas e dos portugueses com o funcionamento das instituições democráticas. Creio que ele próprio não retirou a essencial lição acerca disso. Se ele próprio tivesse demitido o Governo e tivesse convocado eleições, certamente a saúde democrática do país e das instituições seria bem maior", argumentou. "Essa é a questão que hoje temos em desenvolvimento e apodrecimento na sociedade portuguesa", acrescentou Fazenda, para quem "a subserviência ao tratado orçamental, às políticas europeias, tal como tem existido, faz definhar a democracia".

Numa semelhante linha argumentativa, o líder parlamentar do PCP acusou Cavaco Silva de não assumir as suas responsabilidades na cobertura que deu ao Governo na sua "acção destruidora" do país. "É um discurso que ignora as dificuldades e o agravamento da crise politica que estamos a viver com um governo que já há muito devia ter sido demitido e que só se mantem em funções porque goza da cobertura política do Presidente da República", disse João Oliveira, no final da cerimónia.

"O descontentamento dos portugueses em relação à situação que o país atravessa não resulta de algo que se desconheça, mas de políticas concretas", disse, destacando os "problemas" na justiça, na educação ou na saúde e defendendo "a cobertura" que Cavaco Silva tem dado às políticas do Governo.

João Oliveira disse que o discurso do Presidente ignorou a origem do descontentamento dos portugueses e "o fundamental" da situação do país. "Era bom que uma boa parte das responsabilidades fossem assumidas por quem contribuiu para que esta situação seja assim", concluiu.

Em contraponto, o primeiro-ministro, Pedro Passos Coelho, considerou que a intervenção do Presidente da República nas comemorações do 5 de Outubro foi "bastante útil e apropriada", dizendo "olhar com bons olhos" o apelo ao compromisso.

"O apelo que o senhor Presidente da República fez a um espírito de diálogo e de compromisso entre os políticos, mas não só, entre as organizações da sociedade civil, é um apelo que olho sempre com bons olhos porque as nossas diferenças entre partidos, entre organizações sindicais, entre a sociedade civil, não perdem se soubermos sempre identificar um núcleo de questões que nos unem enquanto nação e esse espírito para trabalhar em torno desses compromisso é muito importante", reforçou Passos Coelho.

 

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