Obama recorda que EUA têm "regra sagrada" de não deixar soldados para trás

Taliban divulgam vídeo com imagens da libertação de Bowe Bergdahl. Presidente defende acordo para a troca de prisioneiros.

O momento em que o soldado Bowe Bergdahl foi libertado

Há ainda muitos episódios por contar na novela em que se transformou a libertação de Bowe Bergdahl, cativo durante cinco anos no Afeganistão, mas o Presidente norte-americano, Barack Obama, quer que uma coisa fique clara: “Independentemente das circunstâncias, sejam elas quais forem, resgatamos os soldados americanos em cativeiro. Ponto final. Parágrafo.”

Desde que a libertação foi noticiada, no sábado, que chovem críticas ao acordo que, em troca da vida do sargento, levou à libertação de cinco dirigentes taliban que estavam presos em Guantánamo. A oposição republicana acusa a Administração norte-americana de ter quebrado a regra de que “não se negoceia com terroristas”, pondo assim em risco a vida de civis e militares em missão no estrangeiro, e de não ter informado como manda a lei o Congresso sobre a troca de prisioneiros – uma notificação deve ser enviada com 30 dias de antecedência sempre que um detido é transferido de Guantánamo.

Face às críticas, a Casa Branca age em duas frentes. Responsáveis da Administração telefonaram aos responsáveis de vários comités do Senado e da Câmara dos Representantes para pedir desculpa por não terem sido informados previamente dos contornos da libertação de Bergdahl. Em simultâneo, recordou que ainda recentemente dois dirigentes republicanos, entre eles o agora muito crítico senador John McCain (ele próprio um antigo prisioneiro de guerra no Vietname), tinham pedido à Casa Branca que “redobrasse os esforços” para resgatar Bergdahl antes do final da actual missão no Afeganistão.

Mas a pressão não diminuiu e, na terça-feira à noite, o presidente da Câmara dos Representantes, John Boehner, apoiou os pedidos para audições no Congresso aos responsáveis pelas negociações que conduziram à libertação do soldado, afirmando que “é importante que se clarifique” a troca de prisioneiros. O secretário da Defesa, Chuck Hagel, deverá ser o primeiro a ser chamado, com uma audiência já prevista para 11 de Junho.

Todas as críticas ganham ainda mais força perante as suspeitas de que Bergdahl terá abandonado o seu posto – uma unidade avançada na província de Paktika, no Leste do Afeganistão. É essa a versão de vários membros da sua unidade, reforçada por um dos telegramas divulgados pela Wikileaks: numa comunicação via rádio interceptada depois de o soldado ter falhado a chamada, a 30 de Junho de 2009, os rebeldes falavam de um “soldado americano com uma câmara que está a procura de alguém que fale inglês”.  

É neste contexto que Obama se viu obrigado a sair de novo em defesa do acordo, que ele próprio anunciou no sábado, ao lado dos pais do jovem do Idaho. “Os EUA têm uma regra bastante sagrada: não deixamos os nossos homens e mulheres de uniforme para trás e isso acontece desde os nossos primeiros dias”, afirmou o Presidente, durante uma declaração na Polónia.  

Obama recordou que, ainda em Dezembro, alertou o Congresso para a possibilidade de uma troca de prisioneiros, mas foi obrigado a agir sem dar conhecimento aos congressistas dadas as “preocupações com a saúde do sargento”. “Tivemos uma oportunidade [para o libertar] e aproveitámo-la”, acrescentou o Presidente, insistindo que a sua Administração recebeu do Qatar, mediador das negociações, garantias de que os cinco taliban libertados serão mantidos sob vigilância.

Exército promete não "fechar os olhos"

Para acalmar os ânimos, o general Martin Dempsey, chefe do Estado-Maior General das Forças Armadas dos EUA, garantiu também que o Exército “não fechará os olhos” às faltas que Bergdahl possa ter cometido, mas que, à semelhança de todos os outros cidadãos, “ele é inocente até prova em contrário”. O Exército norte-americano confirma ter indícios de que o sargento deixou o seu posto, mas não tem ainda elementos que confirmem se se tratou de uma deserção. “A nossa primeira prioridade é garantir a saúde de Bergdahl e iniciar o seu processo de reintegração”, afirmou um porta-voz militar, confirmando que o militar, transferido para a Alemanha, está em situação estável mas ainda incontactável.

Os taliban divulgaram já nesta quarta-feira um vídeo do momento da entrega de Bergdahl aos norte-americanos. Nas imagens, o sargento surge vestido com uma túnica branca, cabeça e barba rapada e um ar um pouco alheado, rodeado por vários homens de rosto tapado. Olha ansiosamente o céu, sentado no banco de trás de uma carrinha, enquanto no ar se avistam dois helicópteros militares.

Alguns minutos depois, um deles aterra no local e três homens vestidos à civil saem do aparelho. Depois de apertarem a mão aos dois taliban que o escoltam, levam rapidamente Bergdahl para o helicóptero, onde entra após ser revistado.

Após a descolagem do helicóptero, surge nas imagens a legenda, escrita em inglês: "Não regressem ao Afeganistão." A maior parte do vídeo, que na versão integral tem mais de meia hora, é dedicada, no entanto, à chegada ao Qatar dos cinco taliban, acolhidos como heróis pelas suas famílias. 

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