Ucrânia assume incapacidade para recuperar controlo das zonas sublevadas

Presidente anunciou que Forças Armadas estão em “alerta total” para prevenir eventual invasão. Pró-russos reforçam posições em mais uma cidade do Leste. Comemorações da vitória sobre o nazismo, a 9 de Maio, pode dar origem a novos focos de tensão

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Homens mascarados envergando uniformes militares ocuparam em Horlivka o edifício da administração regional Marko Djurica/REUTERS

A Ucrânia colocou as Forças Armadas em “estado de alerta total”, para o caso de uma invasão russa que continua a dar como provável, mas assumiu a incapacidade para recuperar, pelo menos no imediato, o controlo das zonas sublevadas do Leste do país, onde o poder do Governo interino de Kiev não pára de ser desafiado.

“Mais uma vez volto a falar do perigo real de a Federação Russa começar uma guerra terrestre contra a Ucrânia”, afirmou esta quarta-feira o Presidente interino, Oleksander Turchinov, num encontro com governadores regionais, em Kiev. “As nossas Forças Armadas foram colocadas em estado de prontidão.”

Citado pela agência Interfax-Ucrânia, Turchivov assumiu também o que se tornou claro  nas últimas semanas  – que as forças ucranianas têm sido impotentes para acabar com a sublevação nas regiões de Donetsk e Lugansk. E fixou como objectivo “número um” evitar que a insurreição no Leste do país, onde mais de uma dezena de cidades são já controladas por separatistas pró-russos, alastre “às regiões de Kharkov e Odessa”.

“Quero dizer com franqueza que neste momento as estruturas de segurança não são capazes de rapidamente retomarem o controlo das regiões de Donetsk e Lugansk”, declarou. O Presidente interino disse que as forças de segurança têm sido incapazes de “proteger os cidadãos” e acusou unidades de polícia de “ajudarem ou cooperarem com grupos terroristas” – designação dada pelo Governo de Kiev aos militantes pró-russos que controlam há semanas edifícios públicos em mais de uma dezena de cidades.

Turchinov tinha já denunciado na terça-feira a “inacção” e “traição” da maior parte da polícia do Leste e exigido a demissão dos comandos de Lugansk e Donetsk. Nesse dia, pró-russos invadiram o edifício da administração regional de Lugansk e içaram a bandeira da Rússia, sem oposição da polícia. Mais tarde ocuparam o gabinete do procurador regional, as instalações da televisão e a sede da polícia. Nesta quarta-feira, os separatistas continuaram a reforçar as suas posições. Segundo a Reuters, homens mascarados envergando uniformes militares ocuparam a câmara e as instalações da polícia em Horlivka.

A aproximação da simbólica data de 9 de Maio, em que tanto na Rússia como na Ucrânia se comemora a vitória sobre a Alemanha nazi, em 1945, é mais um factor de tensão, como já se começou a perceber. Os serviços de segurança ucranianos anunciaram esta quarta-feira ter descoberto um plano “de criminosos” para realizar um atentado num monumento em Mikolaiev, tradicional lugar de romagem de antigos combatentes. A imprensa russa anunciou também que o Presidente, Vladimir Putin, vai deslocar-se à Crimeia, a 9 de Maio, pela primeira vez desde que a península foi anexada por Moscovo, em Março, para assistir a uma parada militar comemorativa em Sebastopol, base da frota russa do Mar Negro.

A efeméride tem, noutras ocasiões, sido aproveitada pelo Presidente russo para apelar ao patriotismo e à mobilização para o apoio às suas políticas. A Rússia - que classifica os nacionalistas que integram o novo poder  de Kiev como "fascistas" – tem na presente crise, como observa a AFP, invocado frequentemente a memória da II Guerra Mundial, a "grande guerra patriótica" desde a época soviética.

Descredibilizar presidenciais

Na terça-feira, o vice-ministro dos Negócios Estrangeiros do Governo de  Moscovo, Sergei Riabkov, afastou o cenário de uma intervenção armada russa na Ucrânia e repetiu o que tem sido o discurso de Moscovo: não há razão para temer uma anexação russa de novos territórios da Ucrânia. “Não estamos, de todo – e sublinho isto –, inclinados para repetir o chamado cenário Crimeia no Sudeste da Ucrânia”, disse à Interfax.

Mesmo que não se concretize uma intervenção militar directa da Rússia na Ucrânia, Kiev tem razões de preocupação  que vão para além do reforço no terreno das posições dos pró-russos: os russófonos do Leste pretendem "legitimar" os ímpetos secessionistas com referendos locais e procuram descredibilizar as eleições presidenciais na Ucrânia marcadas para 25 de Maio. “Esta eleição foi decidida por um poder ilegítimo e é portanto ilegítima”, disse esta quarta-feira o líder da “república popular” de Donetsk, Denis Puchilin, que se deslocou a Moscovo à procura de “apoio mediático” para o referendo que pretende realizar a 11 de Maio.

Em Slaviansk, os pró-russos mantêm sequestrados, desde sexta-feira, sete observadores da OSCE (Organização para a Segurança e Cooperação na Europa) que pretendem trocar por pró-russos detidos pelas autoridades de Kiev. Os contactos prosseguem e o comité de ministros da organização protestou esta quarta-feira e pediu a “libertação imediata”. Mas até ao fim da tarde não havia novidades sobre os observadores internacionais.

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