A crise ucraniana fez a Rússia mergulhar na recessão, afirma o FMI

Economia foi afectada pelas fugas de capital. Previsões de crescimento para 2014 foram revistas de 1,3% para 0,2%.

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Crise na Ucrânia está a provocar fuga de capitais da Rússia Filippo MONTEFORTE/AFP

O Fundo Monetário Internacional (FMI) reviu em forte baixa as previsões de crescimento da economia russa para 2014, de 1,3% para 0,2%, relacionando esta baixa de perspectivas com a tensão geopolítica provocada pela crise na Ucrânia. Na verdade, a Rússia “está a viver uma recessão”, afirmou Antonio Spilimbergo, chefe da missão do FMI a Moscovo.

“Se uma recessão acontece quando há dois trimestres de crescimento económico negativo, então a Rússia está agora a viver uma recessão”, disse Spilimbergo. A tendência é duradoura: para 2015, o FMI estima que o PIB cresça 1%, em vez dos 2,3% que tinha, anteriormente, previsto.

A crise na Ucrânia desencadeou uma fuga de capitais do país de Putin que, pelas contas mais recentes do ministro da Economia, Alexei Oliukaiev, atingirá já 100 mil milhões de dólares, cerca de 72.600 milhões de euros. No primeiro trimestre, as saídas de capital terão chegado aos 60 mil milhões, quase tanto como em todo o ano de 2013 (62.700 milhões).

O ministro das Finanças russo, Anton Siluanov, já tinha reconhecido na semana passada que o país podia estar em recessão. A economia russa estava já em abrandamento – em 2013 tinha crescido 1,3%, quando em 2012 o crescimento tinha sido de 3,4% e de 4,3% em 2011. O seu modelo de crescimento, que se baseia no preço alto dos hidrocarbonetos (petróleo e gás natural), não atravessa um bom momento. Está longe dos 6% anuais de crescimento registados entre 2000 e 2008.

"Rectificamos as nossas previsões para levar em conta a complicação da situação e o nível significativo de incerteza ligado às tensões geopolíticas e às sanções impostas à Rússia” explicou Antonio Spilimbergo. “Tudo isto tem um impacto muito negativo sobre o clima de investimento.”

“Em termos económicos, é muito difícil estimar o efeito das sanções. Mas o receio da incerteza, em especial dos investidores, está a ter já grandes efeitos”, disse o responsável do FMI. “O receio das sanções, da escalada das sanções, pode ser ainda mais poderoso do que as próprias sanções.”

Mas o clima político na Rússia não reflecte ainda o que se está a passar na economia. Uma sondagem do Centro Levada publicada esta quarta-feira, citada pela Reuters, revela que a popularidade do Presidente Vladimir Putin nunca foi tão alta desde 2010: 82%. Na verdade, as sanções europeias e norte-americanas foram consideradas tão ligeiras que a Bolsa de Moscovo subiu.  

No entanto, a agência de notação Standard & Poor baixou a nota da Rússia para um nível que pode complicar o seu acesso aos mercados financeiros, e a Fitch poderá fazer o mesmo, se forem impostas novas sanções a Moscovo.

Embora os ocidentais continuem a ameaçar com novas sanções – os republicanos no Congresso americano continuam a pedir medidas mais duras –, com o objectivo de chegarem cada vez mais próximo do círculo íntimo de Vladimir Putin, o director do think-tank moscovita Carnegie Center Dmitri Trenin avisa que essa estratégia pode vir a ser contra-produtiva. “As sanções têm impacto sobre Putin, mas não necessariamente aquele que se pretendia. O Ocidente quer travá-lo, fazê-lo recuar, virar os oligarcas contra ele, fazer com que o povo deixe de confiar nele e o derrube. Mas na minha opinião isso não vai acontecer. As sanções podem contribuir para que a Rússia se torne ainda mais um adversário dos Estados Unidos – mais pobre, menos ligada ao resto do mundo e menos previsível”, disse à Reuters. 

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