Rússia acusa ocidentais de lhe imporem “cortina de ferro”

Em Lugansk, separatistas invadiram o edifício da administração regional, o gabinete do procurador e as instalações da televisão. Também atacaram a sede da polícia. Presidente da Ucrânia denunciou a “inacção” e “traição” da maior parte da polícia do Leste.

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Soldados ucranianos perto de Slaviansk, cidade controlada por separatistas pró-russos VASILY MAXIMOV/AFP

A Rússia acusa os países ocidentais de estarem a impor-lhe uma “cortina de ferro”, com as sanções que anunciaram esta semana. “É o regresso do sistema criado em 1949, quando os países ocidentais baixaram a cortina de ferro sobre fornecimento de alta tecnologia à URSS e a outros países”, disse o vice-ministro dos Negócios Estrangeiros, Sergei Riabkov, ao site Gazeta.ru.

Os responsáveis russos multiplicaram-se em reacções às sanções anunciadas pelos EUA, União Europeia (UE), Canadá e Japão, que o ministro dos Negócios Estrangeiros, Serguei Lavrov, considera “contrárias ao bom senso”. Antes dele já dois dos seus vices se tinham pronunciado. Grigori Karasin declarou que são “contraprodutivas” e “deixam num impasse a já crítica situação na Ucrânia”. Sergei Riabkov garantiu à Interfax que não há razão para temer uma anexação russa de novos territórios da Ucrânia. “Não estamos de todo – e sublinho isto – inclinados para repetir o chamado cenário Crimeia no Sudeste da Ucrânia.”

Mas o ímpeto dos militantes pró-russos do Leste do país não dá sinais de abrandar. Em Lugansk, separatistas invadiram esta terça-feira o edifício da administração regional e içaram a bandeira russa, sem oposição da polícia. Mais tarde ocuparam o gabinete do procurador regional e as instalações da televisão e atacaram a sede da polícia, contra a qual foram disparados tiros de armas automáticas. O Presidente interino da Ucrânia, Oleksander Turchinov, denunciou a “inacção” e “traição” da maior parte da polícia do Leste e exigiu a demissão dos comandos de Lugansk e Donetsk.

Mais de uma dezena de cidades da Ucrânia, e boa parte dos respectivos edifícios públicos, estão há semanas ocupadas por pró-russos que reclamam referendos sobre o futuro das suas regiões e um sistema de governo federal na Ucrânia. Em Slaviansk estão, desde sexta-feira, sequestrados sete observadores da OSCE (Organização para a Segurança e Cooperação na Europa).

A lista de sanções da UE terça-feira publicada pelo jornal oficial visa 15 pessoas e junta-se às medidas anunciadas na véspera pelos Estados Unidos contra sete dirigentes russos e 17 empresas. Cumprindo o acordado pelos países do G7 (EUA, Reino Unido, Alemanha, Japão, França, Canadá e Itália) também os governos de Otava e Tóquio aprovaram sanções.

O vice-primeiro-ministro Dmitri Kozak; o chefe das Forças Armadas, Valeri Gerasimov; dois vice-presidentes da câmara baixa do Parlamento, Ludmila Shvetsova e Sergei Neverov; e líderes separatistas ucranianos fazem parte da lista de sanções da UE contra “responsáveis de acções que comprometem ou ameaçam a integridade territorial” da Ucrânia.

Ao contrário do que acontece com as sanções anunciadas pelos EUA, as europeias – que elevam para 48 o número de russos e ucranianos sujeitos a congelamento de bens e impedidos de obter vistos de viagem – abrangem apenas pessoas e não empresas.

O Canadá, onde vive a maior comunidade ucraniana no exterior, cerca de 1,2 milhões de pessoas, anunciou sanções a dois bancos e nove cidadãos da Rússia, o que eleva para 36 o número de dirigentes sancionados pelo país. O Japão anunciou a proibição de concessão de vistos a 23 russos.

A expressão "cortina de ferro" tornou-se comum para designar a política de isolamento da antiga União Soviética imposta aos países da sua esfera de influência. Tornou-se célebre quando foi usada em 1946 pelo então primeiro-ministro britânico, Winston Churchill.

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