Para além das encomendas da Amazon, o mundo abre-se para os drones

Muitas indústrias e o comércio pode ser revolucionados por estes novos veículos de entrega e vigilância.

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O célebre drone da Amazon não é para já Amazon/AFP

Quando o fundador da Amazon escolheu o conhecido programa “60 Minutes” para anunciar que a gigante do comércio online estava a preparar-se para fazer entregas com recurso a drones, a notícia correu mundo. Muitos acusaram Jeff Bezos de ter aproveitado para fazer uma operação de marketing, mas o próprio empresário salientou que ninguém iria começar a receber drones à porta de casa antes de 2015.

Ainda que a estimativa mais conservadora aponte para depois de 2020, devido ao atraso da autoridade nacional de aviação norte-americana em aprovar legislação sobre o uso comercial de drones, já poucos duvidam de que os céus vão estar carregados de pequenos veículos aéreos não-tripulados num futuro próximo.

“É pouco provável que a FAA [a autoridade nacional de aviação norte-americana] autorize nos próximos tempos a entrega de encomendas a quilómetros de distância do piloto”, estima Ben Gielow, porta-voz da Association for Unmanned Vehicle Systems International, uma organização sem fins lucrativos que se dedica à promoção do uso de drones. “Mas isso é um problema de regulamentação, não é um problema técnico. Por isso, acho que não é irrealista acreditar que dentro de cinco anos, ou certamente na próxima década, este tipo de uso será comum”, afirma.

Apesar do impacto do anúncio da Amazon, as potenciais utilizações de drones estão longe de se resumirem à entrega de livros e outras encomendas.

“Acho que vai ser revolucionário para muitas indústrias”, disse ao PÚBLICO o advogado norte-americano Brendan Sheldon, que está a defender o primeiro caso em tribunal sobre o uso comercial de drones.

“Só agora começamos a perceber essas ramificações. Não estou a sugerir que os drones vão alterar a vida quotidiana de todas as pessoas, mas acho que esta tecnologia tem potencial para fazer uma grande diferença em muitos sectores. Por exemplo, nas respostas a emergências”, salienta. E dá um exemplo: “Após um alerta de incêndio, um drone pode avaliar a situação com muita rapidez e pode transmitir imagens para determinar se existe mesmo um incêndio ou não. Isso faria uma grande diferença, já que a maioria dos alertas de incêndio é falsa. Podia evitar-se o envio de bombeiros para um local onde não há incêndios. Da mesma forma, se for uma emergência real, um drone pode transmitir o que se passa no terreno e permitir que os profissionais se preparem de forma adequada para essa situação.”

A utilização de drones em operações de salvamento é tão recente que o primeiro caso de sucesso foi registado há menos de um ano, em Maio de 2013, no Canadá. Depois de uma busca sem sucesso com recurso a um helicóptero tripulado, equipado com visão nocturna, uma vítima de um acidente de viação na província de Saskatchewan acabou por ser encontrada por um Draganflyer X4-ES, um pequeno drone com pouco mais de um metro, apenas disponível para venda a forças de segurança públicas.

“Há coisas que só agora começamos a imaginar em termos de possíveis utilizações nas vidas das pessoas, e também em termos de potencial económico”, diz Brendan Sheldon, que pega no exemplo — ou no golpe publicitário — da Amazon para reforçar a ideia de que os drones vão mudar o mundo em que vivemos, mais tarde ou mais cedo. “A entrega de encomendas é uma tarefa difícil de alcançar. Pode acontecer no futuro, mas é preciso ultrapassar obstáculos e contornar possíveis avarias, por exemplo. Se isso for resolvido, será possível entregar medicamentos em zonas de difícil acesso e a pessoas que não podem sair de casa, por exemplo.”

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