Washington e Londres iniciam colaboração para travar criminalidade online

Os dois aliados transatlânticos vão constituir equipas especializadas para monitorizar actividades criminosas na Internet. A primeira acção conjunta passa por um ciber-jogo de guerra contra o sector financeiro.

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Cameron e Obama em sintonia sobre a ciber-segurança Kevin Lamarque/Reuters

O Presidente dos Estados Unidos, Barack Obama, e o primeiro-ministro do Reino Unido, David Cameron, anunciaram a constituição de “células” conjuntas para a vigilância e combate à criminalidade online, como a pirataria informática e ataques cibernéticos. Estas unidades, que serão integradas pelos respectivos serviços de informação e agências de espionagem dos dois países – FBI e MI5; GCHQ e NSA – começarão a testar a nova colaboração com um simulacro de ataque virtual contra instituições financeiras e bancárias de Wall Street e da City de Londres.

Este primeiro exercício – apresentado como a simulação de um “jogo de guerra” contra o sector financeiro – conta com a colaboração do Banco de Inglaterra e de alguns dos maiores bancos comerciais de Londres e Nova Iorque e tem como objectivo testar o nível de protecção contra ataques e a capacidade de defesa das redes dessas organizações. Outras experiências, para aferir da “resiliência de infraestruturas” informáticas nos dois países estão já planeadas.

“A ciber-segurança e os ciber-ataques são um dos maiores desafios e ameaças que enfrentamos: oito em cada dez grandes empresas britânicas já foram alvo de algum tipo de ataque informático. Se o Reino Unido e os Estados Unidos trabalharem juntos, combinando a sua imensa experiência e partilhando informação, serão capazes de se proteger melhor”, explicou David Cameron, em declarações à BBC em Washington. Assim que este novo sistema de defesa entrar em funcionamento, acrescentou, “os Estados e organizações hostis perceberão que não têm como nos atacar”.

Os novos riscos para a segurança nacional, industrial e individual estiveram no topo da agenda das conversações bilaterais entre os EUA e o Reino Unido, que terminaram esta sexta-feira em Washington. Barack Obama e David Cameron discutiram o desafio representado pela utilização das redes sociais pelos movimentos extremistas – mas como frisaram, as ameaças e perigos cibernéticos não estão limitados à acção de organizações terroristas. Casos recentes como o ataque informático à Sony Pictures, que a Casa Branca atribuiu à Coreia do Norte, ou a pirataria que afectou os serviços online das consolas Playsation e Xbox durante a época do Natal, mostram que qualquer informação armazenada na rede está vulnerável à actividade criminosa.

Esta sexta-feira, as autoridades britânicas detiveram um jovem de 18 anos em Southport, próximo de Liverpool, sob suspeita nos ciber-ataques que Um jovem de 18 anos foi detido esta sexta-feira em Inglaterra sob suspeita de envolvimento nos ciber-ataques às consolas da Sony e Microsoft, e que poderá também estar ligado a ameaças falsas nos Estados Unidos – uma prática conhecida como “swatting” e que tem a ver com a divulgação de informação que leve as autoridades a mobilizar equipas de forças especiais de intervenção rápida (SWAT, na nomenclatura norte-americana). O jovem, cuja identidade não foi divulgada, foi acusado dos crimes de acesso ilegal a material informático e ameaças de morte.

“O que está em causa não é só a protecção das empresas [atingidas pela pirataria informática] mas também a segurança dos dados dos seus clientes e das finanças pessoais. Este tipo de ataques pode ter consequências muito sérias em termos de prosperidade”, assinalou à BBC o líder conservador, que para a sua deslocação a Washington se fez acompanhar por representantes de várias empresas britânicas especializadas em serviços de ciber-segurança.

No entanto, e como aconteceu com as propostas relativas às medidas de vigilância electrónica, várias organizações de defesa da privacidade e especialistas criticaram a nova iniciativa de monitorização transatlântica, notando que os ciber-jogos de guerra poderão servir de pretexto para a espionagem de dados protegidos ou a facilitação do acesso às chaves de encriptação das empresas privadas.

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