Snowden disposto a falar sobre escutas a Merkel, mas só na Alemanha

Após um encontro na Rússia com o deputado Hans-Christian Ströbele, o analista americano enviou carta às autoridades alemãs.

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O deputado alemão Hans-Christian Ströbele, dos Verdes, encontrou-se com Edward Snowden na Rússia Tobias Schwarz/Reuters

O antigo analista informático Edward Snowden está disposto a falar com as autoridades alemãs sobre os programas de espionagem da Agência de Segurança Nacional (NSA) norte-americana, incluindo as escutas telefónicas à chanceler Angela Merkel. Mas, para que isso aconteça, Berlim terá de garantir que Snowden chegue à Alemanha e aí permaneça em segurança.

O norte-americano, que obteve um visto de permanência na Rússia válido por um ano, encontrou-se na quinta-feira com o deputado alemão Hans-Christian Ströbele, dos Verdes.

Durante as três horas de conversa, Ströbele pediu a Snowden que escrevesse uma carta aos responsáveis políticos e judiciais da Alemanha, dando-lhes a garantia de que aceitará colaborar numa eventual investigação à recolha de dados de centenas de milhões de telefonemas de cidadãos alemães e às escutas à chanceler Angela Merkel.

Na carta, divulgada pelo deputado alemão – que também partilhou uma fotografia do encontro através do Twitter –, Edward Snowden defende-se das acusações de traição, afirmando que os documentos que revelou provam uma "sistemática violação da lei" por parte do Governo dos EUA.

"Por ter revelado estes casos, tenho sido alvo de uma campanha de perseguição grave e reiterada, que me afastou da minha família e de minha casa", escreve o antigo funcionário da NSA e da CIA.

Mas a disponibilidade de Snowden para colaborar com as autoridades alemãs dificilmente sairá do papel.

Em primeiro lugar, as condições do seu asilo temporário – impostas pelo Presidente Vladimir Putin – não lhe permitem discutir publicamente quaisquer assuntos sobre espionagem em território russo, e se sair da Rússia o seu visto será imediatamente cancelado. A alternativa é improvável: que o Governo de Angela Merkel esteja disposto a enfrentar os EUA e a garantir a segurança de Edward Snowden numa viagem entre a Rússia e a Alemanha, ou a ir ainda mais longe e conceder-lhe asilo.

É esse dilema que o antigo analista informático da NSA lembra na sua carta, ao sublinhar "as dificuldades" da sua "situação humanitária": "Aguardo que esta situação se resolva para poder falar convosco no vosso país, e obrigado pelo vosso apoio às leis internacionais que nos protegem a todos."

Apesar da evidente dificuldade de qualquer operação que envolva a chegada de Edward Snowden à Alemanha, o ministro do Interior alemão, Hans-Peter Friedrich, fez nesta sexta-feira declarações surpreendentes.

"Se o sr. Snowden está pronto para falar com as autoridades alemãs, nós encontraremos formas de tornar essa conversa possível. Se a mensagem é que o sr. Snowden nos vai fornecer informação, então vamos recebê-la com todo o gosto", disse o ministro.

Membro da União Social Cristã (o partido gémeo da CDU da chanceler Merkel na Baviera), Hans-Peter Friedrich é um defensor dos métodos de espionagem da NSA norte-americana e tem pressionado as autoridades do país a reforçarem as capacidades dos seus próprios serviços secretos na recolha de informação de comunicações em larga escala.

A câmara baixa do Parlamento alemão, o Bundestag, vai discutir no dia 18 de Novembro as revelações sobre os programas de espionagem da NSA na Alemanha – o registo da metainformação de milhões de chamadas telefónicas de cidadãos alemães e escutas à chanceler Angela Merkel levaram o Governo do país a pedir explicações às autoridades norte-americanas.
 

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