Rússia responde aos EUA e diz que Snowden "pode encontrar-se com qualquer pessoa"

Vladimir Putin diz que o analista informático é livre de se encontrar com quem quiser e que as escutas a Angela Merkel foram divulgadas por jornais europeus e americanos.

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O antigo analista informático da NSA obteve asilo temporário na Rússia no início de Agosto Thomas Peter/REUTERS

A Rússia não se sente obrigada a entregar o analista informático Edward Snowden aos EUA por causa das recentes revelações sobre escutas à chanceler alemã, Angela Mekel, consideradas por Washington prejudiciais para a sua segurança nacional.

O porta-voz de Vladimir Putin, Dimitri Peskov, reafirmou neste sábado que Snowden está proibido de revelar informações enquanto estiver no país, mas lembrou que os recentes documentos foram divulgados por jornais europeus e americanos – documentos que o antigo analista diz ter passado, na totalidade, ao jornalista Glenn Greenwald e à realizadora Laura Poitras quando se encontrava em Hong Kong.

A reacção de Moscovo surge depois de Edward Snowden se ter reunido, na quinta-feira, com o deputado alemão Hans-Christian Ströbele, a quem entregou uma carta dirigida às autoridades da Alemanha.

Na carta, Snowden mostra-se disponível para colaborar com o Parlamento e o Ministério Público alemães numa eventual investigação sobre as escutas a Angela Merkel, mas lembra que a sua situação na Rússia não lhe permite deslocar-se à Alemanha. Para além disso, Snowden lança um apelo velado à chanceler alemã para a possibilidade de uma protecção diplomática, declarando na carta que "dizer a verdade não é traição".

O porta-voz de Vladimir Putin veio neste sábado esclarecer a posição de Moscovo, em declarações ao diário Kommersant: "Ninguém permite que ele viole a condição imposta pelo Presidente russo para não prejudicar os EUA. Mas, ao mesmo tempo, ele está em território russo mediante um processo legal de asilo temporário, é livre de se encontrar com qualquer pessoa e nós não podemos colocar obstáculos."

Questionado na sexta-feira sobre se os EUA estão em contacto com o Governo alemão para delinear uma estratégia sobre a abertura de Snowden para colaborar com a Alemanha, o porta-voz da Casa Branca, Jay Carney, limitou-se a reafirmar que o analista informático deve regressar ao país e enfrentar a Justiça.

"Não tenho conhecimento da existência de quaisquer conversações nesse sentido. O sr. Snowden foi acusado de vários crimes e deve regressar aos Estados Unidos para enfrentá-los (…) Para nós, a divulgação de informação classificada, especialmente da natureza daquela que estamos aqui a falar [escutas a líderes de países aliados] é prejudicial para os interesses da segurança nacional dos Estados Unidos", disse o porta-voz da Casa Branca.

O advogado de Edward Snowden, o russo Anatoli Kucherena, frisou na sexta-feira que uma eventual saída da Rússia do antigo analista implicaria o fim imediato da sua autorização de asilo temporário. Para além disso, ainda que Snowden conseguisse sair da Rússia e chegar à Alemanha, poderia ter de se submeter ao acordo de extradição assinado entre os dois países em 1978 e ser imediatamente enviado para Washington, que já entregou às autoridades alemãs um pedido formal de extradição.
 

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