Ruas de Kiev “cansadas” da ineficácia do Parlamento

Faltas sucessivas de acordo entre os deputados podem pôr em causa a via negocial entre Presidente e oposição.

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Cerca de 2 mil manifestantes protestaram em frente ao Parlamento ucraniano Sergei Supinsky/AFP

A semana de falhanços no Parlamento teve esta quinta-feira uma resposta das ruas, cada vez mais agastadas com a falta de progresso nas negociações entre o poder e a oposição na Ucrânia. Entretanto, é a arena internacional que agita as águas da crise ucraniana com mais trocas de acusações entre Moscovo e Bruxelas.

O Presidente Viktor Ianukovich sublinhou a necessidade de “diálogo e compromisso” para retirar o país da crise em que se encontra há mais de dois meses. Ianukovich falou depois de uma reunião com a sub-secretária de Estado norte-americana, Victoria Nuland, que esteve em Kiev para mediar um acordo entre o Presidente e a oposição.

Durante o encontro, Ianukovich garantiu o apoio à revisão constitucional que prevê a redução dos poderes presidenciais – uma das reivindicações da oposição. No entanto, a forma como o Presidente pretende alcançar a revisão choca com as pretensões da oposição. Ianukovich quer um processo de revisão que pode demorar seis meses, como o próprio afirmou recentemente, algo que é visto como uma tentativa de ganhar tempo e manter-se no poder.

Em Estrasburgo, o Parlamento Europeu adoptou uma resolução em que recomenda a aplicação de sanções aos “ucranianos responsáveis pela repressão e pela morte de manifestantes” e ainda a aprovação de um “pacote concreto de apoio financeiro a longo prazo” ao país. Os eurodeputados condenaram ainda a Rússia por “continuar a considerar a região da Parceria Oriental como fazendo parte da sua esfera de influência”.

Em ambiente de crescente crispação internacional, um dos conselheiros mais influentes do Kremlin acusou os EUA de interferirem nos assuntos internos da Ucrânia. Sergei Glaziev aludiu, durante uma entrevista à edição ucraniana do jornal Kommersant, a um acordo internacional assinado em 1994 e afirmou que “a Rússia e os EUA são os garantes da soberania e da integridade territorial da Ucrânia”. Glaziev, que é considerado o especialista em assuntos ucranianos do Presidente Vladimir Putin, sugeriu que perante a interferência de Washington, a Rússia também poderá intervir.

Cerca de dois mil manifestantes protestaram de forma pacífica em frente ao Parlamento, em Kiev, com uma faixa em que se lia “Estamos fartos de esperar”, descreve a Associated Press. Os manifestantes criticavam a inacção dos deputados em fazer cumprir as suas reivindicações e ameaçaram voltar a recorrer à violência se o impasse se mantiver.

De manhã, um envelope-bomba feriu com gravidade as mãos de um homem. O objecto foi enviado para um dos edifícios ocupados pelos manifestantes, segundo a BBC, desconhecendo-se ainda a sua proveniência.

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