Primeiro dia sem mortos é “vislumbre de esperança” no Leste da Ucrânia

Desde a assinatura dos acordos de Minsk que não havia um dia sem baixas no conflito. Kiev continua a denunciar ataques separatistas.

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Rebeldes pró-russos removem tanque da linha da frente, perto de Donetsk Vasili Maximov / AFP

Foram precisas quase duas semanas para chegarem os primeiros sinais sólidos de que um cessar-fogo pode ser levado a cabo no Leste da Ucrânia. Assinalaram-se esta quarta-feira as primeiras 24 horas contínuas sem que tenham sido comunicadas baixas no conflito desde que foi assinado o memorando de Minsk, apesar de Kiev continuar a relatar algumas violações pontuais das tréguas.

A chanceler alemã, Angela Merkel, chamou-lhe um “vislumbre de esperança” e mostrou expectativa de que os acordos de Minsk – em que Berlim tem investido muito capital diplomático – possam vir a ser cumpridos. “Pode ser um primeiro passo mesmo que [o cessar-fogo] esteja a ser aplicado muito lentamente”, afirmou à saída de uma reunião com o homólogo sueco, Stefan Lovfen.

O Conselho de Segurança e Defesa Nacional da Ucrânia descreveu a situação na linha da frente como “estabilizada”, embora tenha registado 17 ataques por parte das forças separatistas. A “situação mais tensa” foi localizada em Shirokine, uma pequena cidade a 20 quilómetros de Mariupol – Kiev receia que seja este o próximo alvo dos rebeldes pró-russos, caso planeiem alargar o território que controlam.

Outro dos principais pontos para que o cessar-fogo tenha um efeito no curto prazo – a retirada do armamento pesado – parece também estar em vias de ser cumprido. As autoridades rebeldes convidaram um grupo de jornalistas para presenciarem a operação de recuo de uma coluna de 14 lança-rockets de 122 mm e de vários camiões, num local a 20 quilómetros a sul de Donetsk, como descreveu a AFP.

O objectivo é mostrar que o lado rebelde está empenhado em fazer cumprir os acordos de Minsk, em contraponto com as acusações de Kiev, que na segunda-feira revelou não ter condições para retirar o seu armamento pesado, enquanto os rebeldes não o fizerem.

A equipa da Organização para a Segurança e Cooperação na Europa (OSCE) afirmou, todavia, não poder confirmar o recuo de armas, se não lhe for revelado o seu destino. A missão “já observou movimentações de armas pesadas nos últimos cinco meses”, mas não estão reunidas as condições para “se averiguar acerca de um recuo efectivo da artilharia pesada”, explicou a OSCE através de um comunicado.

O porta-voz militar da autoproclamada República Popular de Donetsk, Eduard Basurin, manifestou, em declarações à RIA Novosti, o “interesse na presença de representantes da OSCE em todos os eventos da retirada de equipamento e em fornecer todo o tipo de garantias de segurança”. Moscovo apelou igualmente ao organismo para que monitorize o processo.

Se, no terreno, as notícias são, pela primeira vez em vários meses, animadoras, em Kiev abre-se outra frente de combate, no âmbito da economia. O banco central limitou de forma drástica a compra de divisas estrangeiras pelas instituições bancárias ucranianas. A medida, que se destina a tentar travar a queda acentuada da moeda ucraniana, o hrivnia, foi criticada pelo primeiro-ministro, Arseni Iatseniuk, que disse não ter sido consultado. A decisão terá, segundo o chefe do Governo, “um efeito muito complicado e negativo na economia da Ucrânia, no equilíbrio do sistema financeiro e na taxa de câmbio”.

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