Exército ucraniano recusa retirar armamento da linha da frente

Kiev diz que continuação dos bombardeamentos pelas forças rebeldes impede retirada. UE pondera mais sanções à Rússia.

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Retirada do armamento é um dos pontos do acordo assinado em Minsk Gleb Garanich / Reuters

A Ucrânia revelou que não pode iniciar a retirada do armamento pesado da linha da frente, enquanto os bombardeamentos pelas forças rebeldes continuarem. O Exército deu conta de confrontos perto da cidade de Mariupol, ponto estratégico no Sudeste do país.

O recuo da artilharia pesada da frente dos combates é um dos principais pontos presentes no acordo assinado em Minsk a 12 de Fevereiro. As autoridades ucranianas e os rebeldes informaram no domingo que assinaram um documento para dar início ao processo e o tenente-coronel Anatoli Stelmakh revelou que o Exército “já preparou o terreno necessário” para que a retirada seja iniciada.

No entanto, a continuação dos bombardeamentos por parte das forças separatistas fez Kiev recuar na sua intenção. “Enquanto as posições ucranianas continuam a ser visadas, não se pode falar ainda de uma retirada das armas”, explicou outro porta-voz do Exército, Vladislav Selezniov, citado pela BBC.

Segundo os acordos de Minsk, as duas partes devem fazer recuar as armas pesadas de forma a criar uma zona desmilitarizada, entre 50 a 140 quilómetros, em função do tipo de armamento.

O Exército de Kiev revelou esta segunda-feira que dois soldados foram mortos e dez ficaram feridos nas últimas 24 horas e que as posições ucranianas foram atacadas 27 vezes.

Um atentado bombista em Kharkov, a 200 quilómetros da linha da frente, no domingo, evidenciou a instabilidade que se vive no Leste do país. Uma explosão durante uma marcha pró-governamental matou duas pessoas e fez dez feridos. Na manhã desta segunda-feira, foi comunicada a morte de um jovem de 15 anos que não resistiu aos ferimentos graves, de acordo com o município local. As autoridades ucranianas apontaram o dedo à Rússia, que acusam de ter treinado e armado os suspeitos que foram entretanto detidos.

Depois da tomada de Debaltseve, os combates diminuíram de intensidade, concentrando-se sobretudo no Sudeste do país. Kiev acusa os rebeldes de estarem a tentar expandir território nessa zona, numa tentativa de controlar Mariupol. Com 500 mil habitantes, esta cidade portuária no mar de Azov tem grande importância estratégica por permitir fazer a ligação terrestre entre os territórios separatistas e a península da Crimeia, anexada há cerca de um ano pela Rússia.

É na cidade de Shirokine, a cerca de 20 quilómetros de Mariupol, que se têm desenrolado os combates. Eduard Basurin, porta-voz das forças separatistas, confirmou que houve confrontos no local, durante os quais um rebelde foi morto e dois ficaram feridos.

Kiev acusa também a Rússia de ter feito chegar novos reforços militares para apoiar uma possível ofensiva na região. Moscovo negou que tenha apoiado directamente – com armas e soldados – a insurreição no Leste da Ucrânia, apesar das repetidas acusações da Ucrânia, da União Europeia e da NATO.

O presidente do Conselho Europeu, Donald Tusk, viajou esta segunda-feira para Kiev e anunciou que vai iniciar esta semana consultas junto dos Estados-membros tendo em vista a aplicação de novas sanções à Rússia, caso a violação de Minsk 2 continue. Desde a anexação da Crimeia que a União Europeia, os EUA e o Canadá impuseram sanções a dirigentes separatistas e do Kremlin e a alguns sectores económicos, impedindo, por exemplo, empresas russas de se financiarem no Ocidente.

O primeiro-ministro britânico, David Cameron, foi o mais recente líder a avisar que o incumprimento do cessar-fogo pode levar à aplicação de mais sanções contra a Rússia. "A Rússia não deve duvidar que qualquer tentativa pelos separatistas de expandir o seu território – seja para Mariupol ou outros locais – será respondida com mais sanções significativas da UE e dos EUA", disse Cameron dirigindo-se ao Parlamento.

Perante a dificuldade na aplicação dos acordos de Minsk, os chefes da diplomacia dos países envolvidos no processo negocial (Ucrânia, Rússia, França e Alemanha) vão reunir-se esta terça-feira em Paris. "A situação está a evoluir de hora para hora, tornando este encontro cada vez mais significativo", disse à Reuters uma fonte diplomática.

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