Atentado em Kharkov põe em causa primeiros passos do cessar-fogo
Explosão durante manifestação pró-Kiev em Kharkov faz pelo menos dois mortos.
Um atentado durante uma marcha comemorativa do derrube de Viktor Ianukovich em Kharkov este domingo fez dois mortos. As autoridades ucranianas apontaram o dedo à Rússia numa altura em que tudo apontava para uma acalmia dos combates e em que os primeiros pontos dos acordos de Minsk começavam a ser implementados.
A explosão fez pelo menos dois mortos, um polícia e um manifestante, e mais de dez feridos, segundo a AFP, que cita a procuradoria regional. Foram detidos quatro suspeitos pelo ataque, revelou Markian Lubkivski, conselheiro dos serviços de segurança. As autoridades ucranianas confirmaram que os suspeitos são "cidadãos ucranianos que receberam instruções e armas na Federação Russa, em Belgorod [a 80 quilómetros a norte de Kharkov]".
A polícia qualificou de imediato o incidente como um "atentado terrorista" e testemunhas oculares disseram à Reuters terem visto um mecanismo explosivo a ser atirado na direcção da marcha de 500 pessoas por alguém dentro de um carro em movimento. Apesar de Kharkov, cidade do Leste controlada pelo Governo ucraniano, estar a cerca de 200 quilómetros do palco dos combates entre o exército e os separatistas pró-russos, nos últimos meses têm sido frequentes ataques deste género.
Em Janeiro, uma bomba explodiu no interior de um tribunal, ferindo 14 pessoas e ainda este mês houve uma explosão no escritório de um notário, escreve a Foreign Policy. O ataque a uma cidade fora da zona de combates pode indiciar uma nova etapa no conflito que já dura há dez meses e complicar os esforços recentes para implementar os acordos de Minsk.
O Presidente ucraniano, Petro Poroshenko, considerou o ataque como "uma tentativa ousada para expandir o território do terrorismo". "Hoje é um domingo de homenagem, mas neste dia a escumalha terrorista revelou a sua natureza predatória", acrescentou, numa mensagem publicada no Facebook.
Pequenos passos
A notícia do atentado surgiu numa altura em que a Ucrânia e os rebeldes pró-russos do Leste assinaram acordos para começarem a retirada de armas pesadas da linha da frente. “Foram assinados os documentos”, disse o general Olexandre Rozmaznine, do Exército de Kiev, citado pela AFP. O anúncio aconteceu depois de ter sido realizada uma troca de quase 200 prisioneiros no sábado – outro dos pontos previstos pelos acordos.
Mas, pouco depois, um porta-voz do Exército disse que colunas de veículos armados entraram na Ucrânia provenientes da Rússia, o que aumenta os receios do Governo de Kiev de um ataque à estratégica cidade de Mariupol.
A notícia da retirada de armamento pesado das linhas da frente foi também dada pela agência noticiosa dos rebeldes, DAN, segundo a qual os presidentes das autoproclamadas repúblicas de Donetsk e Lugansk – Aleksandre Zakharshenko e Igor Plotnitski, respectivamente – assinaram um documento que o prevê.
“O plano foi assinado a noite passada... A partir de agora há duas semanas para a retirada”, disse também o comandante rebelde Eduard Basurin, citado pela agência Interfax.
A retirada de armamento pesado das linhas da frente está prevista nos acordos Minsk 2, concluídos a 12 de Fevereiro, e deverá prolongar-se por 14 dias após o início.
O processo devia ter começado a 17 de Fevereiro mas não avançou devido à luta pelo controlo da cidade de Debaltseve, tomada pelos pró-russos na semana passada. Nos últimos dois dias a situação acalmou na maior parte das linhas da frente.
Uma testemunha citada pela Reuters disse ter visto uma coluna de duas dezenas de veículos separatistas com mísseis antiaéreos e obuses a dirigirem-se de Debaltseve para Donetsk.
Os acordos Minsk 2 prevêem que as partes retirem “todas as armas pesadas” para ser estabelecida uma “zona tampão” que pode variar de 50 a 140 quilómetros, em função do tipo de armamento.
Na noite de sábado foram trocados 139 soldados ucranianos por 52 rebeldes, segundo a BBC.