Grécia aprova orçamento em desacordo com a troika

Governo prevê crescimento tímido da economia, mas credores duvidam e insistem em mais reformas.

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O primeiro-ministro Antonis Samaras está confiante, mas muitos duvidam das previsões do Governo LOUISA GOULIAMAKI/AFP

O Parlamento grego aprovou na noite de sábado o Orçamento do Estado para 2014, que prevê um reduzido crescimento e com cortes na ordem dos 3,1 mil milhões de euros. A aprovação foi conseguida no limite, com 153 votos favoráveis entre os 300 deputados.

Após três anos sob o programa de resgate da troika (FMI, Comissão Europeia e Banco Central Europeu), previsões do Governo grego apontam para um crescimento de 0,6% no próximo ano, depois de a economia ter contraído 4% em 2013. O desemprego também deverá descer, de acordo com as estimativas, para 24,5%, contra os 25,5% actuais.

O Governo espera que a ligeira melhoria prevista permita à Grécia maior margem de manobra nas negociações com a troika. Atenas estima a sua necessidade de financiamento para 2014 em 500 milhões de euros, mas os credores acham que a quantia necessária será o triplo.

Falando após a aprovação, o primeiro-ministro, Antonis Samaras, referiu-se a “um dia histórico”, em virtude das previsões de crescimento. “Os sacrifícios das pessoas deram frutos e mudaram o curso do país”. Samaras aproveitou ainda para citar Nelson Mandela, no final do seu discurso, citado pelo jornal grego Ekathimerini, afirmando que “parece sempre impossível até ser feito”.

À porta do Parlamento, na Praça Sintagma, alguma centenas de pessoas protestavam contra o orçamento, numa manifestação convocada pelo maior sindicato grego.

O orçamento teve apenas os votos favoráveis dos deputados da coligação que apoia o Governo. Durante o debate, o líder do partido de esquerda radical Syriza, Alexis Tsipras, criticou o diploma, que considera ser “o caminho para a continuação da destruição da Grécia”.

A aprovação era esperada, uma vez que as medidas mais polémicas, onde se inclui o aumento dos impostos sobre a propriedade, vão ser discutidas na próxima semana, na especialidade.

Troika regressa em Janeiro
As dissonâncias entre o Executivo grego e a troika foram sendo conhecidas nos últimos tempos. No mês passado, a delegação dos credores internacionais abandonou Atenas sem um acordo sobre as reformas necessárias para desbloquear a próxima tranche do resgate.

As previsões do Governo grego são também alvo de alguma desconfiança por parte de Bruxelas, especialmente depois de um relatório da OCDE ter previsto não um crescimento da economia, mas sim um recuo de 0,4% em 2014.

A troika prevê regressar à Grécia em Janeiro, “depois de as autoridades [gregas] terem feito progressos na implementação” de reformas económicas, revelou através do Twitter Simon O’Connor, um porta-voz da Comissão Europeia. As reformas que merecem a insistência da troika dizem respeito ao programa de rescisões no sector público, ao atraso do processo de privatizações e às falhas quanto ao controlo da evasão fiscal.

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