Governo do Sudão do Sul propõe cessar-fogo mas falta compromisso dos rebeldes

Líderes africanos apoiam Presidente e apelam a Machar que faça o mesmo. Conflitos já fizeram 122 mil refugiados e podem estar longe de terminar.

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O conflito no Sudão do Sul já fez 122 mil refugiados Rolla Hinedi/UNMISS/AFP

O Presidente do Sudão do Sul, Salva Kiir, mostrou-se disposto a declarar o cessar-fogo no conflito que dura há 12 dias e que já fez mais de mil mortos e 122 mil refugiados. O anúncio foi feito após a reunião de ontem, em Nairobi, entre vários chefes de Estado africanos, que apoiaram a decisão do governante.

A pressão está agora do lado do ex-vice-Presidente, Riek Machar, a quem os líderes africanos apelam a que faça “um compromisso semelhante”, sem deixar de avisar que “não vão tolerar o derrube inconstitucional de um Governo legitimamente eleito.” A reunião não contou com nenhum representante de Machar, portanto não é seguro que a sua facção abandone a luta armada.

Os combates continuaram mesmo depois do anúncio, antevendo que um acordo não será alcançado em breve. “Deixámos de combater desde ontem [quinta-feira], mas quando somos atacados, defendemo-nos”, afirmou ao Wall Street Journal o ministro da Informação, Michael Lueth.

Há 12 dias que o mais novo país do mundo está mergulhado num conflito de contornos étnicos que colocou de um lado os dinka, a tribo maioritária, e do outro os nuer, que representam 5% da população. Machar, um nuer, foi demitido pelo Presidente, um dinka, e acusa-o de o querer afastar da corrida às eleições presidenciais de 2015. Salva Kiir diz, por seu turno, que o ex-companheiro de armas organizou, a 15 de Dezembro, um golpe de Estado que falhou.

Desde então, a luta política passou para as ruas, com vários grupos nuer a combater o exército do país, maioritariamente dinka. Ontem, os rebeldes revelaram que capturaram Malakal, uma cidade do Norte crucial para o domínio sobre os poços de petróleo. Contudo, o porta-voz do exército, Philip Aguer, afirmou que as forças governamentais “controlam a 100% a cidade de Malakal.”

A economia do Sudão do Sul depende por inteiro da exploração petrolífera e o alastramento do conflito a essa área pode criar um clima instável para a região. É através do Sudão – país do qual o Sul se tornou independente em 2011 – que o petróleo é escoado até ao mar para ser exportado. À medida que Juba perde o controlo das capitais regionais dos Estados com reservas de petróleo, o Sudão poderá sentir-se impelido a assegurar militarmente a manutenção da produção.

A comunidade internacional tem-se dividido em esforços para apelar ao fim dos confrontos que, segundo algumas estimativas, já fizeram mais de mil mortos. A ONU revelou ontem que 122 mil pessoas foram desalojadas, das quais 63 mil procuraram refúgio nas instalações da organização no país.

A crise no Sudão do Sul que ameaça tornar-se numa guerra civil levou o secretário-geral da ONU, Ban Ki-moon, a pedir o aumento do número de capacetes azuis no terreno, o que deverá acontecer entre hoje e amanhã, de acordo a representante especial, Hilde Johnson. Na quarta-feira, o Conselho de Segurança já tinha confirmado o envio de 6000 capacetes azuis para o país, que se vão juntar aos 12.500 da missão que já se encontra no país, a MINUSS.

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