Países árabes lideraram raids contra as refinarias do EI na Síria

Terceira noite de bombardeamentos na Síria visou instalações no Leste do país. Observatório diz que ataques mataram 14 combatentes e cinco civis.

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Este foi o primeiro ataque contra refinarias US Air Forces Central Command/AFP

Aviões norte-americanos e dos aliados árabes bombardearam na última madrugada refinarias em poder do Estado Islâmico no Leste da Síria, atacando, pela primeira vez, aquela que é uma das principais fontes de rendimento do grupo radical. Os países árabes que fazem parte da coligação internacional foram os protagonistas dos ataques.

“Estamos ainda a avaliar o resultado dos ataques às refinarias, mas as informações iniciais indicam que foram um sucesso”, adiantou o Comando Central norte-americano, no balanço daquela que foi a terceira noite de bombardeamentos contra os jihadistas na Síria.

Para além da importância táctica dos bombardeamentos às refinarias petrolíferas controladas pelo EI, os ataques desta quinta-feira tiveram um significado acrescido do ponto de vista estratégico. Dez dos 16 aviões utilizados pertenciam a dois dos países árabes – a Arábia Saudita e os Emirados Árabes Unidos – que integram a coligação internacional montada por Washington para combater os jihadistas na Síria e no Iraque.

A elevada participação dos países árabes foi sublinhada pelo porta-voz do Pentágono, John Kirby, que esclareceu ainda que 80% dos bombardeamentos foram realizados pelos aliados árabes. O Presidente norte-americano, Barack Obama, tem frisado que a luta contra o EI não pode ser levada a cabo apenas pelos EUA e tem-se desdobrado em esforços diplomáticos para recolher apoio militar na região e também na Europa. O Reino Unido deverá ser o próximo aliado a anunciar a entrada na coligação, esta sexta-feira.

Segundo os militares americanos, foram atacados 13 alvos, 12 dos quais pequenas refinarias situadas nos arredores de al-Hasakah, capital da província com o mesmo nome no nordeste da Síria, Mayadin e al-Bukamal, ambas na província de Deir Ezzor, a caminho da fronteira iraquiana. O último ataque visou um veículo dos jihadistas na mesma região.

Em Londres, o Observatório Sírio dos Direitos Humanos revelou que 14 combatentes morreram nos ataques em Deir Ezzor, mas em Hassaka, as bombas mataram cinco civis, incluindo uma criança. O Pentágono referiu não ter “relatos credíveis acerca do número de civis mortos nos raids dos últimos três dias”, mas o porta-voz garantiu que isso será investigado.

Segundo os militares americanos, as refinarias atacadas produziam “entre 300 e 500 barris de petróleo refinado por dia”, fornecendo combustível e dinheiro para as operações dos jihadistas, num valor global estimado de “dois milhões de dólares”[sic]. “A destruição destes alvos limita a capacidade do Estado Islâmico para liderar, controlar e conduzir operações”, acrescenta o CentCom.

Aproveitando o caos da guerra civil, o Estado Islâmico conseguiu apoderar-se da grande parte dos poços e refinarias do Leste da Síria, mas não é claro quanto petróleo está a conseguir extrair e vender aos intermediários no mercado negro.

Adam Sieminski, dirigente da Administração de Informação Energética dos EUA, calcula que a produção não ultrapasse os cem mil barris diários, o que a valores dos mercados internacionais poderia render ao grupo quase dez milhões de dólares, noticiou a Reuters. A agência lembra, no entanto, que o vice-director do Centro Nacional de Contraterrorismo dos EUA, Nicholas Rasmussen, disse numa audição recente no Congresso que o Estado Islâmico estaria a arrecadar cerca de um milhão de dólares por dia com a venda de petróleo, os saques efectuados nas zonas que controla e o dinheiro de resgates.  

Este foi o primeiro ataque contra refinarias desde que, em Agosto, a aviação norte-americana começou a bombardear os jihadistas. Os primeiros ataques foram em auxílio da minoria yazidi do Iraque, cercada numa montanha do Norte do país. Depois disso, os aviões entraram várias vezes em acção para apoiar as forças curdas e iraquianas a recuperar algum do terreno perdido para o Estado Islâmico. Terça-feira, o alvo foram as bases do Estado Islâmico nas cidades que o grupo radical controla na Síria.

Mais do que a sua importância militar, as refinarias são um alvo decisivo na estratégia para cortar as fontes de financiamento que permitiram ao Estado Islâmico tornar-se um dos grupos jihadistas com mais prósperos. Com o mesmo objectivo, a diplomacia americana tenta que os países árabes, onde vivem os principais patrocinadores do grupo, travem o fluxo de capitais para os extremistas. Uma luta que os EUA querem que avance, a par e passo, com os esforços para impedir que novos recrutas se juntem aos jihadistas e o compromisso dos países árabes na denúncia da ideologia extremista.

“Se o objectivo é enfraquecer o Estado Islâmico, é preciso cortar-lhes o financiamento tanto como atacá-los militarmente”, disse à BBC o analista britânico Michael Stephens, explicando que se o grupo “não poder pagar aos combatentes e aos funcionários a sua organização vai começar a ressentir-se”. O analista recorda que os jihadistas também detêm poços de petróleo no Iraque, mas Bagdad pediu aos EUA que não os ataquem, responsabilizando-se pela sua reconquista.

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