Parlamento britânico autoriza na sexta-feira ataques aéreos contra jihadistas no Iraque

Reino Unido será o terceiro país a participar na ofensiva naquele país. Acordo com oposição trabalhista excluiu participação nos bombardeamentos na Síria.

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"Não podemos ficar paralisados pelo medo", afirmou Cameron em Nova Iorque Spencer Plat/Getty Images/AFP

O Parlamento britânico deverá aprovar na sexta-feira o envio de aviões para participar nos ataques aéreos contra as forças do Estado Islâmico no Iraque. O Reino Unido fará a sua parte para enfrentar “um mal contra o qual o mundo tem de se unir”, afirmou o primeiro-ministro, David Cameron, no discurso na Assembleia Geral das Nações Unidas, já com a garantia de que a oposição apoiará a entrada do país no conflito.

A decisão de convocar os deputados para uma sessão extraordinária foi tomada depois de um encontro de Cameron com o seu homólogo iraquiano, durante o qual Haider al-Abadi formalizou o pedido de ajuda a Londres para combater os jihadistas. O pedido dá cobertura legal ao envolvimento britânico na campanha de bombardeamentos aéreos liderada pelos Estados Unidos e à qual a França se juntou na semana passada.

No entanto, e à semelhança de Paris, o Reino Unido não irá participar, pelo menos numa primeira fase, nos ataques às bases do Estado Islâmico na Síria, desencadeados nesta terça-feira pela aviação norte-americana, com o apoio militar de cinco países árabes. Isto porque o Partido Trabalhista, na oposição, alega que não existe uma cobertura legal para justificar os ataques, lançados à revelia do regime sírio e sem um mandato das Nações Unidas, duvidando também da eficácia dos bombardeamentos sem que no terreno existam forças capazes de combater os jihadistas ou impedir que o território volte a ser controlado pelo Exército sírio.

Para obter o apoio da oposição, Cameron comprometeu-se a limitar a participação britânica à frente iraquiana de combate e a pedir uma nova autorização ao Parlamento caso venha a decidir estender à Síria os ataques.

Aliado tradicional dos EUA, o Reino Unido está habitualmente entre os primeiros a oferecer a sua colaboração a Washington. Foi assim no Afeganistão e no Iraque, em 2001 e 2003. Mas a abordagem mudou depois de, no ano passado, o Parlamento ter recusado autorizar a participação do país nos ataques aéreos que a Administração americana planeava contra o regime sírio, em retaliação pelos ataques com armas químicas nos subúrbios de Damasco. A operação foi abortada, na sequência de um acordo entre americanos e russos para a destruição dos arsenais químicos da Síria, mas o embaraço levou Cameron a tornar-se mais prudente na hora de alinhar de novo com os EUA, mesmo que isso lhe tenha custado ser ultrapassado por França.

No discurso na Assembleia Geral da ONU, na quarta-feira, em Nova Iorque, o primeiro-ministro britânico lançou um apelo à mobilização internacional contra os jihadistas, apesar de reconhecer que muitos países estão reticentes por se lembrarem ainda da invasão do Iraque em 2003 e de todas as consequências que a guerra teve para a região. “É vital que aprendamos as lições do passado”, afirmou, defendendo a necessidade de avançar para a guerra “com uma preparação adequada” e um “plano claro”. Mas “não podemos ficar de tal forma paralisados pelo medo que não fazemos nada”, afirmou, defendendo que “devem ser usados todos os meios disponíveis — incluindo militares — para perseguir estes extremistas”.

Já na reunião do Conselho de Segurança — durante a qual foi aprovada uma resolução para travar o fluxo de jihadistas estrangeiros que engrossam as fileiras dos grupos radicais na Síria e no Iraque —, Cameron admitiu que a decapitação de dois jornalistas americanos e de um britânico que trabalhava para uma ONG foram determinantes para a avaliação que a opinião pública faz do perigo que o Estado Islâmico representa. “Os assassínios chocantes de James Foley, Steven Sotloff e David Haines por um combatente que aparenta ter sotaque britânico sublinha a natureza sinistra e directa desta ameaça”, afirmou.

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