Dois soldados franceses mortos na República Centro-Africana

Bastaram cinco dias para as primeiras baixas da operação militar francesa na RCA. Exército assegura que situação está controlada.

Patrulha de soldados franceses na capital, Bangui
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Patrulha de soldados franceses na capital, Bangui Sia Kambou/AFP
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Ex-milicianos Séléka em Bangui Fred Dufour/AFP
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Soldados franceses capturam rebelde denunciado pela população Fred Dufour/AFP
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Soldado francês durante operação de desarmamento em Bangui Fred Dufour/AFP

Dois soldados franceses foram mortos na segunda-feira, apenas cinco dias depois do início da intervenção militar francesa na República Centro-Africana (RCA). O Eliseu confirmou as baixas esta terça-feira.

O Presidente, François Hollande, “recebeu com profunda tristeza a morte durante um combate, na noite passada [segunda-feira] de dois soldados franceses”, lia-se na nota de imprensa publicada pelo Palácio do Eliseu através do Twitter. Hollande, que se deslocou à África do Sul para o funeral de Nelson Mandela, deve viajar para a RCA ainda nesta terça-feira.

Os dois soldados foram mortos durante um combate perto do aeroporto de Bangui, de acordo com o porta-voz da Assembleia Nacional francesa, Claude Bartolone. “Estavam feridos e foram levados rapidamente para uma unidade cirúrgica, mas infelizmente não puderam ser salvos”, explicou. Os soldados foram baleados a “muito curta distância” por homens não identificados, enquanto lideravam um batalhão de 30 elementos, segundo informações do Estado-Maior das Forças Armadas francesas.

A França começou a enviar na sexta-feira um contingente de 1600 soldados para conter o conflito que assola a RCA desde Março. No dia anterior, o Conselho de Segurança das Nações Unidas tinha autorizado a intervenção de Paris, num processo semelhante ao que ocorreu no Mali, meses antes.

Desde a deposição do Presidente, François Bozizé, que a RCA tem assistido a um escalar da violência entre milícias sectárias. Na semana passada, os confrontos na capital, Bangui, fizeram cerca de 400 mortos. Calcula-se que 10% da população de 4,6 milhões tenha sido desalojada e que um milhão de pessoas esteja a passar por carências alimentares graves, de acordo com a ONU.

A operação Sangaris – o nome de uma borboleta típica do país – tem o objectivo de, numa primeira fase, proteger a população civil das milícias, através de desarmamento, e, posteriormente, preparar a RCA para uma transição de regime, organizando eleições “antes de 2015”, de acordo com Paris.

Desde que as forças francesas chegaram à RCA que se têm concentrado em operações de desarmamento dos grupos rebeldes. Segundo o Estado-Maior das Forças Armadas francesas, “não há mais grupos armados a patrulhar a cidade [Bangui]”, assegurando que “a população já não está ameaçada.” “Muito rapidamente tivemos conhecimento de que esses grupos abandonaram as suas posições na sua grande maioria”, explicou, citado pelo Le Monde, o porta-voz das Forças Armadas, Gilles Jaron.

Sobre o resto do país há ainda poucas informações. Há o receio de se entrar numa “dinâmica infernal de represálias”, entre os grupos de auto-defesa cristãos e os Séléka (composta maioritariamente muçulmanos do Norte do país).

Decisão inédita de Hollande

Numa decisão considerada surpreendente, François Hollande anunciou que vai esta terça-feira para a RCA. A imprensa francesa nota que a deslocação de um chefe de Estado francês a um cenário de guerra é inédita na 5ª República. Hollande tem encontro marcado com o actual Presidente do país, Michel Djotodia, que assumiu o poder depois do golpe de Estado de Março, e muito criticado por Paris que o responsabiliza por ter sido inactivo durante o conflito.

O objectivo do encontro é chamar os responsáveis políticos da RCA “ao seu sentido de responsabilidade”, de acordo com fontes do Eliseu citadas pela AFP. Hollande irá também apelar para que Djotodia “facilite por todos os meios o retorno à calma”. O Presidente da RCA subiu ao poder depois de um golpe de Estado levado a cabo pela milícia dos Séléka, responsável por vários ataques nos últimos meses. Djotodia já apelou aos grupos rebeldes para que deponham as armas, mas vários observadores notam que a sua influência sobre os Séléka é, neste momento, muito reduzida.

Em Paris, a Assembleia Nacional discutiu a intervenção do exército no conflito. O primeiro-ministro, Jean-Marc Ayrault, assegurou que a operação “irá ser rápida” e que “não tem uma vocação para durar”, reafirmando a posição do Governo logo após a aprovação da ONU, na semana passada. Garantindo que a França “não será o polícia de África”, Ayrault sublinhou que a operação “responde ao apelo dos seus parceiros africanos e faz face à urgência absoluta de prevenir uma espiral de massacres.”

Notícia actualizada às 17h00 - Acrescentaram-se pormenores sobre a visita de François Hollande.

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