Decisões sobre o Iraque são “aprovadas” por Khamenei

O Irão de Rohani ensaia nova reaproximação aos EUA com o Iraque e o combate aos jihadistas do ISIS como pretexto.

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Foi em Teerão que Rohani disse estar pronto a colaborar com os EUA no Iraque Reuters

As palavras do Presidente iraniano, Hassan Rohani, sobre o Iraque, a Síria e a evolução quotidiana no Médio Oriente são as palavras de todo o regime iraniano. Presentemente, diz o ministro da Cultura de Teerão, Ali Janati, a política externa, a macro e a das decisões específicas, está afinada e é, como faz sentido no regime, uma só.

“Actualmente, as decisões e a política que dizem respeito ao Iraque e à Síria estão a ser tomadas pelo Governo e pelo Parlamento, com a aprovação do guia supremo”, o ayatollah Ali Khamenei, afirma ao PÚBLICO Janati, numa conversa nos jardins da residência do embaixador iraniano, Hossein Gharibi, em Lisboa.

Janati está esta semana em Portugal para uma visita que é a primeira que faz à Europa desde que tomou posse no Governo escolhido por Rohani, eleito o ano passado e impulsionador de um processo gradual de abertura que permitiu já avanços consideráveis no campo das discussões sobre o programa nuclear iraniano.

Foi com o nuclear como pretexto que os Estados Unidos e o Irão tiveram “conversações muito breves” na segunda-feira, em Viena, sobre a ofensiva do Estado Islâmico do Iraque e do Levante (ISIS). Depois de controlarem parte do território sírio e do ocidente iraquiano, os jihadistas do ISIS conquistaram na última semana Mossul, a segunda mais importante cidade iraquiana, quase sem enfrentarem resistência por parte das forças iraquianas.

Quem deu conta da “alusão” ao ISIS no encontro de Viena foi a porta-voz do Departamento de Estado, Marie Harf. O ministro dos Negócios Estrangeiros de Teerão, Mohammad Javad Zarif, confirmou-o esta terça-feira, lembrando o “interesse partilhado” de iranianos e norte-americanos na estabilidade do Iraque e no combate ao ISIS e à ameaça que estes radicais sunitas constituem por estes dias para toda a região – e não só. Centenas de combatentes que se juntaram ao ISIS ainda na Síria são europeus; destes, já muitos regressaram à Europa e pelo menos um, o francês Mehdi Nemmouche, foi responsável pelo atentado que fez quatro mortos no Museu Judaico de Bruxelas, no fim de Maio.

Hassan Rohani afirmou estar pronto a colaborar com Washington para travar os jihadistas – a Casa Branca fez saber que tem interesse nessa colaboração. Os objectivos de uns e de outros para a região continuam a não coincidir: Teerão não hesita no seu apoio ao regime de Bashar al-Assad, na Síria, mas o “combate ao terrorismo” tem o condão de colocar gente desavinda do mesmo lado da barricada.

Aliás, mesmo com relações cortadas, Washington e Teerão colaboram ao longo dos últimos anos sempre que tal se mostrou útil para ambos, como durante a ofensiva norte-americana contra os taliban e a Al-Qaeda, no Afeganistão.

O convite para a visita de Janati a Lisboa partiu do secretário de Estado da Cultura português, Jorge Barreto Xavier, e será pretexto para a assinatura de um Memorando de Entendimento entre os dois países. Durante a semana decorre uma mostra de cinema iraniano na Fundação Calouste Gulbenkian e esta quarta-feira será inaugurada uma exposição sobre as relações persas e portuguesas entre 1507 e 1750 na Torre do Tombo, ao mesmo tempo que será lançado um livro de João Teles e Cunha sobre o mesmo tema.

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