Acordo sobre nuclear iraniano esbarrou na resistência francesa

Conversações serão retomadas a 20 de Novembro.

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Catherine Ashton, chefe da diplomacia europeia, e Mohammad Javad Zarif, ministro dos Negócios Estrangeiros do Irão FABRICE COFFRINI/AFP

Podia ter sido um momento histórico, mas não houve acordo. As conversações sobre programa nuclear do Irão, que decorreram nos últimos dias em Genebra, terminaram sem fumo branco. A França terá sido a grande força de bloqueio a um compromisso entre as potências ocidentais e os iranianos.

A chefe da diplomacia europeia, Catherine Ashton, anunciou que foram feitos “progressos concretos, mas que subsistem diferenças”. É, por isso, que as conversações serão retomadas a 20 de Novembro.

John Kerry, secretário de Estado norte-americano, salientou que um “acordo está mais próximo agora do que estava antes”, enquanto o ministro dos Negócios Estrangeiros iraniano, Mohammad Javad Zarif, disse que todas as partes estão no mesmo “comprimento de onda” e que “houve um ímpeto para chegar a um acordo”.

Surpreendentemente, a pedra na engrenagem não foi colocada pelo Governo iraniano (que estará disposto a limitar as suas actividades de enriquecimento de urânio), ou pela Administração Obama (que, apesar da oposição interna, propõe descongelar parte dos fundos arrestados ao Irão ao abrigo das sanções internacionais), mas pela França.

O ministro dos Negócios Estrangeiros, Laurent Fabius, disse que a proposta levada pela delegação iraniana ficava aquém das exigências de Paris. "Se estas questões não forem resolvidas, não será possível um acordo", afirmou Fabius, dizendo que em causa está o destino que será dado ao stock de urânio enriquecido a 20% (concentração superior à usada nas centrais) e a suspensão da construção da central de água pesada de Arak.

O Irão diz que a unidade, que deve estar pronta no próximo Verão, vai produzir isótopos para fins médicos, mas da laboração resultará também plutónio, um material que tal como o urânio pode ser usado para produzir armas nucleares. Os peritos avisam que, assim que entrar em funcionamento, será muito difícil parar a sua laboração e um ataque para a destruir libertará níveis muito elevados de radiação. Outros especialistas dizem, porém, que a central não representa um perigo imediato e que, por isso, o seu futuro não precisa de ficar definido no acordo preliminar, destinado a vigorar durante seis meses - o tempo considerado necessário para concluir as negociações.

"Os americanos, a União Europeia, os iranianos estão a trabalhar intensamente há meses nesta proposta e isto não é mais do que uma tentativa de Fabius para se imiscuir à última hora e ganhar relevância", desabafou um diplomata às agências internacionais. Em Teerão, a imprensa e os políticos acusaram Fabius de estar a proteger os interesses de Israel.

Ainda antes de se confirmar que não haveria acordo, as delegações admitiam que o fracasso, após um entendimento ter estado à vista, pode ser fatal para as expectativas criadas aquando da eleição do novo Presidente iraniano. Um receio que o próprio Hassan Rohani partilhou quando no sábado disse que o Ocidente não deveria perder “a ocasião excepcional criada pela nação iraniana para chegar a um resultado positivo num tempo razoável". A falta de um entendimento, avisam vários analistas, significa dar tempo e argumentos aos que, em Teerão, Washington e Telavive, querem que tudo fique igual.

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