Os Liliputianos: “Não fazem por menos – tornam-se fatais”

Os anteriores OE cumpriram um objectivo: desvalorizaram o trabalho, aceleraram o desmantelamento do Estado Social, convulsionaram compromissos sociais básicos, colocaram os fracos em situação de maior fraqueza, retirando-lhes a esperança e asfixiando-lhes as expectativas, e impuseram a convicção ideológica de que a vida é um assunto de mercados.

Agora resta uma economia depauperada, sem meios para funcionar, e uma sociedade despojada da energia básica que lhe permite ser saudável, só restando a muitos abdicarem de si mesmos e do país. Este OE quer completar a tarefa e fá-lo de uma forma que impressiona, tal a violência.

Hoje, as pessoas comuns sabem com clareza laboratorial como não funciona uma economia: não funciona com crueldade salarial e fiscal e destruição da procura interna. Mas é claro que as pessoas comuns não estão no governo. Estão lá pessoas incomuns, mas não pela sua sabedoria, autonomia ou grandeza. São os liliputianos da canção do José Mário Branco: “quando são demais — não fazem por menos — tornam-se fatais”.

É preciso continuar a falar de punção salarial? E de privatização de serviços e definhamento da administração? É preciso falar de investimento e emprego? Mas é preciso falar do enorme transvaze de riqueza para o exterior sob a forma de pagamento de juros da dívida. E da procura interna que, sendo destruída, destrói a economia. E, com ela, a sociedade.

A alternativa a tudo isto existe e tem várias dimensões. Uma delas é um compromisso de estabilização salarial e de reposição de níveis mínimos de justiça social que quebre o vício destruidor instaurado. Então sim, haverá crescimento e redução do desemprego. O José Mário que acabe este texto: “assim me estão a prender... Já não me posso mexer..."

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