Olli Rehn acusa o seu país de empurrar Portugal para uma saída “limpa” do resgate

É a Finlândia, e não a Alemanha, que está a pressionar Portugal.

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Rehn já suspendeu o mandato de comissário Francois Lenoi/Reuters

Olli Rehn, temporariamente fora do cargo de comissário europeu para se candidatar às eleições europeias, denunciou publicamente pela primeira vez esta quarta-feira que é a Finlândia, o seu país de origem, e não a Alemanha, que está a pressionar Portugal a sair de forma “limpa” do programa de ajuda externa.

A acusação refere-se à política assumida por Helsínquia há dois anos no sentido de obter sistematicamente garantias (colateral) de todos os países que recebem empréstimos da zona euro. Esta política foi seguida no caso do segundo resgate grego, no início de 2012, e do pacote de ajuda aos bancos espanhóis, seis meses depois.

Esta exigência destinou-se, para Helsínquia, a compensar o facto de o primeiro fundo de socorro do euro (FEEF), que concedeu estes empréstimos, não beneficiar do estatuto de credor preferencial que o tornaria na primeira entidade a ser reembolsada em caso de problemas de solvência dos países em causa.

“O pedido de colateral da Finlândia teve um impacto negativo na decisão [sobre a saída do resgate] da Irlanda e está a ter um impacto negativo na decisão de Portugal”, afirmou Rehn, que foi durante os últimos cinco anos o comissário europeu responsável pelos Assuntos Económicos e Financeiros, em Helsínquia. Por causa destas exigências “para estes países é na prática politicamente mais sensato operar uma saída 'limpa' do programa, mesmo se é economicamente mais arriscado”, acusou. Rehn sempre defendeu que Portugal deverá pedir uma linha de crédito cautelar à zona euro para apoiar o seu regresso progressivo ao mercado da dívida depois do fim do resgate, a 17 de Maio.

“O debate sobre o colateral grego foi uma grande perda de capital político”, continuou o comissário finlandês, acusando o Governo do seu país de ter, “nos últimos anos, assumido uma postura de oposição sem obter qualquer benefício particular além de mostrar à audiência doméstica que estava a ser rigoroso no processo de decisão europeia”. “Espero que o próximo Governo da Finlândia possa reconsiderar [a sua posição nesta matéria], porque é contra os interesses tanto da Finlândia como da Europa.”

Embora vários responsáveis europeus se queixem frequentemente das exigências dos finlandeses – incluindo o ministro irlandês das Finanças, Michael Noonan, que as invocou como uma das razões que levaram o seu país a optar por uma saída “limpa” do resgate –, o ataque vindo de Rehn, habitualmente circunspecto no discurso, é surpreendente.

A sua atitude pode ser interpretada como um primeiro acto de campanha na perspectiva das eleições europeias de 25 de Maio, a que o comissário finlandês decidiu candidatar-se pelo seu partido do centro (liberal).

Para isso, aliás, Rehn já suspendeu o mandato de comissário na passada segunda-feira, como impõem as regras da Comissão Europeia, de modo a poder participar livremente na campanha eleitoral.

Rehn, que tentou, sem sucesso, ser escolhido como o candidato dos liberais europeus à sucessão de Durão Barroso na presidência da Comissão, ainda não perdeu a esperança de obter um dos cinco lugares de topo das instituições europeias que vão ser renovados depois das eleições europeias, ambicionando a presidência permanente do Eurogrupo dos ministros das Finanças do euro. Só que, para isso, o finlandês não poderá ter nenhum outro compatriota na corrida aos outros cargos.

O problema é que o primeiro-ministro finlandês, Jirki Katainen (centro direita), está na mesma corrida para obter a presidência da Comissão Europeia ou do Conselho Europeu (as cimeiras de líderes).

Katainen anunciou, aliás, há três dias que abandonará a chefia do Governo para se candidatar a um destes cargos.

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