Mota-Engil África suspende operação de entrada em bolsa

Presidente executivo da Mota-Engil garante que operação será retomada "assim que houver condições" nos mercados de capitais.

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Gonçalo Moura Martins é o CEO do grupo Fernando Veludo/NFactos

A Mota-Engil África decidiu suspender a operação de dispersão do capital em bolsa “devido à recente e significativa deterioração das condições de mercado e o impacto resultante no sentimento da comunidade de investidores”.

"O produto é bom, mas o momento é mau." O presidente executivo da Mota-Engil resume assim a decisão da empresa de suspender a entrada em bolsa da sua unidade africana, cujo período de oferta terminou na quarta-feira. A instabilidade nos mercados de capitais e os receios dos investidores de um "contágio global" levaram a empresa a adiar a operação, cujos resultados deveriam ser conhecidos nesta sexta-feira.

"Se o closing da operação tivesse ocorrido noutro dia, talvez as coisas tivessem corrido bem, como de resto tinham estado a correr", disse o gestor ao PÚBLICO. Nas reuniões das últimas duas semanas nas principais praças financeiras, "houve entrada de investidores fortes, mas que acabaram por reduzir as suas posições", explicou.

Além da situação específica do mercado português, onde a crise no GES e o episódio do investimento de 900 milhões de euros da PT em papel comercial da Rioforte (holding não financeira do grupo) têm penalizado o comportamento da bolsa (o PSI 20 fechou a perder mais de 4% na quinta-feira, registando a pior quebra diária de há mais de um ano), também a situação recente da insolvência da espanhola Gowex, que durante quatro anos falsificou as contas, contribuiu para a instabilidade generalizada que se viveu nas principais praças europeias.

"O efeito psicológico" falou mais alto, disse Gonçalo Moura Martins, sublinhando que a empresa retomará o processo de entrada em bolsa "assim que houver condições".

Ao início da manhã desta sexta-feira, a Mota-Engil emitiu um comunicado anunciando a interrupção da oferta pública inicial (IPO) da holding que concentra os negócios do grupo em África e que deveria ser cotada na Bolsa de Londres.

“Apesar de um conjunto de ordens de investidores institucionais de alta qualidade dentro do intervalo de preços anunciado, a procura global não assegurava o sucesso da admissão à negociação e do desenvolvimento de um mercado para as acções”, explicou a empresa na nota enviada à CMVM.

“Os eventos e a performance dos mercados de capitais nas últimas 48 horas resultaram num impacto negativo na escala e interesse de algumas ordens [de compra]", explicou a empresa.

Nas últimas duas semanas a empresa “reuniu-se com investidores na Europa, no Reino Unido, nos Estados Unidos da América e em África”, obtendo “uma grande quantidade de ordens”, que reflectem “a qualidade e o futuro do negócio em África”.

Garantiu por isso continuar “inteiramente empenhada na realização bem-sucedida do IPO da Mota-Engil África”.

As acções da Mota-Engil caíram esta sexta-feira 4,36% em bolsa, para 4,74 euros. No entanto, a desvalorização chegou a atingir 10% durante a manhã. No espaço de um mês, o título da empresa recuou cerca de 20%.
 

 

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