Investimento directo estrangeiro ganha novo fôlego com Autoeuropa

O saldo do investimento directo estrangeiro ao longo de Janeiro e Fevereiro deste ano mostra uma subida face a 2013, quando se registou uma quebra anual no investimento líquido de 66%.

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Depois de o investimento estrangeiro em Portugal ter caído 37% no ano passado, em termos brutos, o plano de investimento de 677 milhões de euros por parte da Volkswagen Autoeuropa, formalizado nesta quarta-feira com a assinatura de um contrato com o Estado, serviu para o Governo lançar a perspectiva de um ano de recuperação.

“É certamente o maior investimento em Portugal nos últimos anos. Significa que Portugal é um país bom para investir, que trata bem os investidores”, afirmou o vice-primeiro-ministro, Paulo Portas, na cerimónia na fábrica de Palmela, em que estiveram também o ministro da Economia, Pires de Lima, e o secretário de Estado da Inovação, Pedro Gonçalves.

Em Janeiro e Fevereiro de 2014 foram investidos em Portugal cerca de cinco mil milhões de euros vindos do estrangeiro, segundo dados do Banco de Portugal, compilados para o PÚBLICO pela Agência para o Investimento e Comércio Externo de Portugal (AICEP). O valor está ligeiramente abaixo dos mesmos dois meses do ano passado, mas o desinvestimento foi muito menor. Como consequência, o saldo líquido do investimento directo estrangeiro (IDE) esteve próximo dos 900 milhões de euros este ano - um número significativamente acima dos 422 milhões do bimestre homólogo, embora abaixo dos 1300 milhões do mesmo período de 2012.

Desde pelo menos 2011 que o investimento líquido vindo do exterior está em queda. Nesse ano, o investimento bruto andou em torno dos 43 mil milhões de euros. Subtraído o desinvestimento, o saldo foi de oito mil milhões. Já em 2012, o investimento bruto foi de 48 mil milhões, que acabaram por se traduzir num investimento líquido de sete mil milhões. No ano passado, os números afundaram: 30 mil milhões de investimento bruto (a queda anual de 37%) e um investimento líquido de apenas 2300 milhões (uma descida de 66%).

O consultor e professor universitário Augusto Mateus, que foi ministro da Economia no primeiro Governo de António Guterres, diz que o investimento da Autoeuropa “não deve ser desvalorizado”, mas nota que se trata de um investimento de continuidade por parte de um grupo que já tinha operações em Portugal e considera que o país precisa de “acelerar a plena participação” na economia global.

“No quadro actual, em que há uma fragmentação da indústria automóvel [com muitas fábricas na Ásia e no Leste europeu], é um investimento que confirma um conjunto de factores [positivos], que vão da Autoeuropa à cadeia local de abastecimento”, observa Augusto Mateus. Por outro lado, argumenta que Portugal tem “valorizado excessivamente a inovação de base tecnológica” e que está a “desaproveitar recursos patrimoniais endógenos, como a língua e cultura”.

O académico afirma que os salários dos trabalhadores não qualificados já não são tão relevantes em termos de competitividade global e que Portugal tem possibilidade de atrair investimento por conseguir produzir “com mais qualidade do que os concorrentes de fora da Europa”.

Já Paula Gonçalves Carvalho, que encabeça o departamento de Estudos Económicos e Financeiros do BPI, considera que Portugal se encontra hoje “numa melhor posição para captar investimento directo estrangeiro”. A economista refere as “várias reformas estruturais, algumas ainda em curso, no sentido de aumentar a competitividade e o grau de atracção face aos principais rivais”.

O contrato foi assinado entre o director-geral da Autoeuropa, António Melo Pires, e o novo presidente da AICEP, Miguel Frasquilho, que ocupava a vice-presidência da banca parlamentar do PSD. Frasquilho afirmou que o investimento deverá permitir duplicar o volume de exportações da fábrica de Palmela. Porém, escusou-se a revelar quais foram as contrapartidas dadas pelo Estado para captar o investimento alemão. Paulo Portas, por seu lado, disse tratar-se da “conclusão de um trabalho intenso entre as duas partes” e referiu ter perdido a conta às viagens e aos telefonemas feitos durante o processo

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