Cartas à Directora

O Banco de Portugal e o BES Angola 

Publicou o Jornal Público, nas suas edições de ontem, textos sobre declarações por mim feitas em conferência de imprensa, com o título “Ulrich critica Banco de Portugal por não ter actuado no caso BES Angola”. Porque considero que aqueles textos não correspondem ao que efectivamente afirmei, nomeadamente porque nunca referi o Banco de Portugal, peço-lhe que publique as minhas declarações tal como foram proferidas em resposta a uma jornalista de uma outra publicação.

Fernando Ulrich, Presidente da comissão executiva do BPI

Pergunta: (…) O Estado Português, o NB, o Fundo de Resolução, deviam ter tido outro tipo de comportamento relativamente à garantia que existia para defender os seus interesses?

Resposta: “(…) Em 2007 a exposição — 25 milhões de dólares —, era um valor perfeitamente normal. Em 2008 essa exposição subiu para mais de 2 biliões de dólares, e depois foi sempre subindo e chegou a mais de 4 biliões de dólares e nunca baixou. Portanto não se pode chamar a isto um apoio de tesouraria como se fosse uma coisa pontual ou uma coisa menor. Em particular quando o credor controla a maioria do capital do devedor. O que nos devemos interrogar (…) é como é que foi possível um banco em Portugal ter durante tanto tempo um montante de crédito tão grande concedido a uma sua participada em que tinha a maioria do capital (…). O que é absolutamente extraordinário, e ainda não vi nenhuma explicação credível, é como é que o lado português, que é o que me preocupa, não é o lado angolano, é como é que o lado português permitiu uma exposição de crédito tão grande durante tanto tempo. Porque repare: na maior parte do tempo esta exposição significava cerca de metade dos capitais próprios num dos maiores bancos portugueses. E portanto a pergunta que é relevante é: como é que várias entidades que tinham poder sobre isto, e a primeira de todas era o Conselho de Administração do BES, como é que tomaram estas decisões e pactuaram com esta situação durante tanto tempo e como é que agora nos arriscamos todos venha a sair tão caro aos accionistas dos bancos portugueses. Como é que se fez isto? Como é que isto durou tanto tempo? E como é que aparentemente nunca ninguém ligou quando bastava ler os relatórios e contas anuais quer do BES quer do BESA.”

Pergunta: (…) Há falha de supervisão?

Resposta: Não vou fazer mais nenhum comentário, a sr.ª faz os comentários que quiser, tira as ilações que quiser. (…) Aquilo que acabei de dizer tirei dos relatórios e contas do BES e do BESA e aquilo que tirei faz-me enorme confusão: como é que foi possível? E obviamente que me faz mais confusão ainda a partir do dia 4 de Agosto, quando percebi que os accionistas do BPI podiam ter que pagar uma parte significativa dessa factura. Porque é fácil ver a destruição de capital que houve no BES antes de ele ser dividido entre banco bom e banco mau.

 

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