A liderança das duas principais marcas francesas de automóveis vai falar português a partir de Janeiro de 2014, depois de a Peugeot-Citroen ter confirmado a nomeação do gestor português Carlos Tavares para a administração da companhia. A outra marca automóvel francesa de referência, a Renault, é chefiada actualmente por Carlos Ghosn, um brasileiro de ascendência libanesa, que substituiu Louis Schweitzer à frente da empresa gaulesa.

Carlos Tavares deixou a administração da Renault no Verão passado. Era o número dois da empresa e o responsável pela área operacional do grupo. Alegadamente, cansou-se de esperar que Ghosn resignasse para lhe suceder no cargo. Em declarações à agência Bloomberg, Tavares afirmou então que há sempre um momento em que um gestor quer ser o número 1 de uma companhia automóvel global. Esta frase valeu-lhe um convite, por parte de Ghosn, para apresentar a carta de demissão, o que formalizou em Setembro.

Conhecido como car guy, pela paixão que desde sempre nutriu pelos carros e pelas corridas, Carlos Tavares terá, na Peugeot-Citroën, a possibilidade de concretizar o sonho de liderar um grande grupo construtor de veículos, embora o perfil corporativo que irá encontrar seja um mar de dificuldades e de obstáculos.

A PSA tem vindo a acumular prejuízos, devido à quebra de vendas de veículos, e tem consumido rios de dinheiro a aguentar fábricas que estão subaproveitadas. Nos primeiros 10 meses deste ano, a empresa viu os seus registos de carros novos cairem cerca de 10%, enquanto o mercado europeu, no seu conjunto, assinalava uma contracção ligeiramente superior a 3%.

Tavares entrará no dia 1 de Janeiro próximo para a administração da Peugeot-Citroën e, a meio do ano, irá substituir o actual presidente executivo, Philippe Varin. Assumirá funções numa empresa que, só em 2012, acumulou um prejuízo de 5000 milhões de euros e que precisa, urgentemente, de uma injecção de capital que se estima ascencder a 4000 mil milhões de euros.

Em cima da mesa, está a possibilidade de o reforço de capitais ser subscrito pelos chineses da Dongfeng, uma companhia chinesa da área do automóvel, e pelo Estado francês, de forma a evitar planos que a Peugeot-Citroen tem há dois anos de despedir cerca de 8000 mil trabalhadores, aproximadamente 10% da força de trabalho que tem ao serviço em França.

Tavares, que teve cargos de relevância na japonesa Nissan, com quem a Renault tem um contrato de associação, não é uma solução muito querida pelos chineses, que sempre tiveram no actual líder da Peugeot um claro aliado.

A admiração que tem pela norte-americana General Motors, com quem a marca francesa tem um acordo que partilha de custos em áreas como a inovação e desenvolvimento de novas soluções, pode ser um elemento crucial na análise que os chineses farão quanto à participação no capital da Peugeot.

Carlos Tavares foi, também, um alto dirigente da Nissan, tendo sido o responsável pela unidade norte-americana da marca durante quatro anos. Mesmo do outro lado do Atlântico, o homem que tinha entrado para a Renault como piloto de testes nunca abandonou a paixão pelas corridas e era frequente tomar um avião ao início da noite de uma sexta-feira para concorrer pelo seu team em provas desportivas na Europa. Na manhã de segunda-feira, estava sentado na secretária do seu gabinete.