BCE arranca este mês com o programa de compra de dívida privada

Bolsas reagem em queda às palavras de Mario Draghi, após a reunião mensal do BCE que se realizou em Nápoles.

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O BCE reuniu-se este mês em Nápoles (Itália)

O Banco Central Europeu (BCE) vai iniciar, ainda este mês, o programa de compra de dívida privada que tinha decidido pôr no terreno na reunião de Setembro. O objectivo é combater os riscos de deflação na zona euro, mas Mario Draghi avisa que a autoridade monetária poderá recorrer a medidas adicionais não convencionais, no futuro próximo, se a receita em curso não funcionar.

No final da reunião do conselho de governadores do BCE, que se realizou este mês em Nápoles (Itália), Draghi revelou que em meados de Outubro arrancará o primeiro dos dois programas de compra de activos, o que se refere a obrigações sobre crédito hipotecário e dívida pública (covered bonds). Até ao final do ano, avançará a aquisição de derivados de crédito a empresas (conhecido por ABS).

Os dois programas, que terão uma extensão temporal de dois anos, poderão atingir o bilião (milhão de milhões) de euros, mas Draghi não entrou em detalhes sobre o ritmo de aquisições mensais nem qual a dimensão financeira de cada um dos programas, o que acabou por desiludir os analistas. Já no que se refere aos activos elegíveis para compra, Draghi foi mais específico, ao afirmar que no caso de serem provenientes de economias com ratings baixos (inferiores a BBB-) só serão objecto de compra se estiveram cobertos por um programa de ajustamento da União Europeia.

Draghi lembrou que estes programas constituem apenas um dos instrumentos a que o BCE recorreu para contrariar os riscos de inflação baixa (caiu para 0,3% em Setembro, no espaço do euro). Para além de ter reduzido para valores historicamente baixos as taxas de juro de referência, o banco central abriu também uma linha de financiamento de longo prazo e a taxas atractivas para os bancos da eurolândia. Mas no primeito empréstimo, realizado em Setembro, a procura ficou-se pelos 82 mil milhões de euros, abaixo das expectativas do mercado. 

No final da reunião do conselho de governadores que manteve a principal taxa de referência em 0,05% e que, este mês, teve lugar em Napóles (Itália), Draghi reafirmou, ainda, aquilo que é a posição oficial da autoridade monetária – a de recorrer a "medidas adicionais não convencionais" dentro dos parâmetros do seu mandato, no caso de a inflação no espaço do euro manter a tendência de redução.

Analistas e agentes políticos têm defendido que, no quadro de uma zona euro onde a economia tende a estagnar, exigem-se políticas mais agressivas, nomeadamente, o recurso a um programa de quantitative easing, em que o BCE imprime mais dinheiro para comprar dívida soberana dos estados no mercado secundário. Uma forma de injectar capital na economia real.  Este programa, que gerou resultados muito positivos na recuperação das economias dos Estados Unidos e do Reino Unido, tem, no entanto, a oposição de Jens Weidmann, o poderoso líder do banco central alemão, o Bundesbank.

Esta quinta-feira, após as declarações de Draghi, as bolsas europeias deram um forte trambolhão. Depois de uma manhã com recuos ligeiros, as principais praças entraram a sério no vermelho, com destaque para a bolsa de Londres, a acumular uma perda de mais de 3,3%, seguida de Madrid, a desvalorizar-se quase 2,5%. O PSI 20, principal índice da praça lisboeta, fechou a perder quase 2,7%.
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