Morreu Jim Gordon, o baterista (dos Beach Boys e de Eric Clapton) que matou a mãe

Apesar da curta carreira, músico consta na lista da Rolling Stone dos 100 Maiores Bateristas de Todos os Tempos. Aos 77 anos, encontrava-se a cumprir pena de prisão pelo homicídio da mãe em 1983.

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Jim Gordon durante uma actuação no The Fairfield Hall Croydon em 6 de Junho de 1971 Brian Cooke/Redferns/Getty

Jim Gordon era um virtuoso. Aos 21 anos, tocou no icónico álbum dos Beach Boys Pet Sounds e está entre os créditos do imortal Layla, tema do álbum Layla and Other Assorted Love Songs dos Derek and the Dominos, ao lado de Eric Clapton. Morreu nesta segunda-feira, aos 77 anos e de causas naturais, numa instituição médica estatal em Vacaville, Califórnia, onde se encontrava a cumprir pena pelo homicídio da sua mãe.

Nascido James Beck Gordon, a 14 de Julho de 1945, em Los Angeles, para Jim a música esteve sempre em primeiro plano, tendo até recusado uma bolsa de estudos para estudar música na UCLA para poder começar a dar os seus primeiros passos profissionais mais cedo. Aos 17 anos, dava apoio aos Everly Brothers e pouco depois tornou-se protegido de Hal Blaine, tornando-se um dos bateristas mais procurados da cena musical californiana.

Em estúdio, gravou Pet Sounds com os Beach Boys (1966) ou Classical gas com Mason Williams (1968), mas o seu dom consta do repertório de nomes como John Lennon, Cher, Alice Cooper, Tom Waits, Neil Diamond, George Harrison e Yoko Ono.

No arranque dos anos 70, aliou-se a Eric Clapton, primeiro integrados numa banda de apoio; depois, nos Derek and the Dominos, que contava ainda com Carl Radle no baixo e Bobby Whitlock nas teclas, voz e composição. Entre os seus trabalhos mais reconhecidos está Layla, cujos acordes foram cocreditados a Gordon (Whitlock viria a revelar, mais tarde, que o baterista tinha roubado a melodia a Rita Coolidge, com quem namorava na época).

Independentemente de quem eram os acordes de Layla, Gordon não perdeu o rumo, assumindo a bateria para lendas da música norte-americana, como o exigente Frank Zappa.

O que ninguém imaginava é que enquanto se revelava um baterista talentoso, Gordon ouvia vozes. E o consumo de álcool e estupefacientes não amenizaram a sua paranóia. “Ele costumava falar comigo sobre ouvir vozes, mas eu disse-lhe que era a sua consciência a falar”, disse Whitlock à Rolling Stone em 2013. “[Gordon] respondia que era outra pessoa.”

Eric Clapton contou que “não fazia ideia que havia um historial psicótico de visões e de ouvir vozes desde tenra idade”. Em declarações à Rolling Stone, em 1991, Clapton contou que tinha achado que as “más vibrações” de Gordon eram apenas o reflexo do consumo de drogas.

No fim da década de 1970, a mãe conseguiu que o músico pedisse ajuda. No hospital psiquiátrico, Jim confidenciou que a progenitora era “a sua única amiga”. E os médicos em vez de lhe diagnosticarem uma esquizofrenia, que viria a ser confirmada posteriormente, optaram por tratar o seu alcoolismo.

A 3 de Junho de 1983, Gordon atacou a mãe, de 71 anos, com um martelo e uma faca de talhante. Mais tarde declarou que uma voz lhe deu a ordem para matar. E só após a sua detenção, Gordon viu-lhe ser diagnosticada esquizofrenia aguda — ainda que o tribunal não tivesse aceitado a declaração de insanidade. Em 1984, foi condenado a uma pena de 16 anos a perpétua, nunca se tendo apresentado para as audiências para a liberdade condicional.

“Não tinha qualquer interesse em matar [a minha mãe]”, disse Gordon à Rolling Stone em 1985, recordando que era “como se estivesse a ser guiado como um zombie”.

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