Morreu Joe Lieberman, antigo senador americano e candidato a vice de Al Gore
Ex-senador do Connecticut, e primeiro judeu norte-americano a integrar uma candidatura presidencial de um grande partido, Joe Lieberman morreu esta quarta-feira aos 82 anos.
Joe Lieberman, antigo senador do Connecticut e candidato à vice-presidência norte-americana com Al Gore, pelo Partido Democrata, em 2000, morreu esta quarta-feira aos 82 anos em Nova Iorque, na sequência de uma queda, segundo avançou a sua família.
Lieberman, que foi o primeiro político judeu a integrar uma candidatura presidencial por um dos principais partidos norte-americanos, fora um membro destacado da facção centrista do Partido Democrata. No auge da sua carreira, era considerado uma reserva moral do partido, tendo sido um dos primeiros democratas a criticar o então Presidente Bill Clinton pela sua relação imprópria com Monica Lewinsky, estagiária da Casa Branca.
Escolhido por Al Gore para enfrentar George W. Bush e Dick Cheney em 2000, Lieberman acabaria assim por ficar associado a uma derrota eleitoral traumática para os democratas - que venceram no voto popular, por meio milhão de votos, mas perderam tangencialmente para os republicanos no colégio eleitoral, com o apuramento do resultado no estado da Florida a arrastar-se para os tribunais.
De candidato a pedra no sapato dos democratas
Apesar de alinhado com o partido em questões económicas e sociais, Lieberman demarcava-se na política externa. Foi um acérrimo defensor da invasão do Iraque, sendo penalizado posteriormente pelo eleitorado democrata quando lançou a sua própria candidatura presidencial nas primárias de 2004. Lieberman desistiu cedo, em Fevereiro, e reconheceu mais tarde que o seu apoio à guerra no Iraque o prejudicou.
No ciclo eleitoral seguinte, o seu nome terá chegado a ser avaliado pelo republicano John McCain para seu candidato a vice em 2008, mas a escolha final recaiu sobre Sarah Palin (há versões diferentes sobre se o democrata recusou o convite ou se o seu nome acabou por ser chumbado). Lieberman fez activamente campanha por McCain e contra Barack Obama, que acusou de não ter credenciais na política externa. O candidato presidencial democrata venceria a eleição, e o senador do Connecticut tornava-se numa figura cada vez mais marginal no próprio partido.
Lieberman, que tinha chegado ao Capitólio em 1989, e era também um destacado aliado político de Israel em Washington, terminou a sua carreira no Senado como independente, em 2013, apesar de ter continuado a votar ao lado dos democratas em muitos dossiês de política interna. Regressou depois à advocacia, num badalado escritório da Kasowitz Benson Torres com vista para a Times Square, em Nova Iorque. A lista de clientes da firma chegou a incluir Donald Trump e várias estrelas de Hollywood.
Contra Trump e Biden
Ainda que apeado, Lieberman continuou a pairar sobre a política nacional até à sua morte. Era um dos responsáveis da fundação No Labels, um grupo centrista que procura estabelecer pontes entre democratas e republicanos moderados, e que nos últimos meses tem tentado lançar, sem sucesso, uma candidatura presidencial alternativa às de Joe Biden e Donald Trump.
Mesmo sem um nome para personificá-la (contam-se já as recusas de Joe Manchin, o mais conservador dos democratas no Senado; Chris Christie, republicano derrotado nas primárias do seu partido; Liz Cheney e Chris Sununu, outros republicanos críticos de Trump), essa candidatura continuava a ser preparada, num esforço que Lieberman comparou a tentar "construir um avião no ar". Mas a oito meses das eleições, e com o desaparecimento de um dos principais dinamizadores da iniciativa, o cenário afigura-se cada vez menos viável.
"Eu sou um democrata", reiterou Lieberman numa das suas últimas entrevistas, em Novembro de 2023, ao Washington Post, atribuindo aos seus colegas de partido, e aos republicanos, a incapacidade de diálogo e compromisso que diz estar na génese do actual clima de disfunção política no país. "Não vamos consertar o sistema a sério e pô-lo a funcionar novamente enquanto não tivermos um Presidente que esteja totalmente empenhado num governo bipartidário e que não seja influenciado por qualquer partido", dizia.
Nas horas seguintes à notícia da morte, Al Gore recordou o parceiro de campanha como alguém "afável" e com uma "integridade profunda". George W. Bush lembrou o democrata como "uma das pessoas mais decentes" que conhecera em Washington.
Aos 82 anos, quase um quarto de século depois de ter ficado a um passo de se tornar na segunda figura de Estado dos americanos, Lieberman morreu num hospital de Nova Iorque, após uma queda em casa. Nascido no seio de uma família judia em Stamford, Connecticut, e formado em Ciência Política, Economia e Direito em Yale, o antigo senador deixa mulher e três filhos resultantes de dois casamentos.