Perfil dos primeiros financiadores da invasão identificados é o do bolsonarista típico

Ministério da Justiça recebeu 30 mil denúncias em apenas 24 horas sobre suspeitos de terem participado ou organizado a insurreição em Brasília.

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Apoiantes de Bolsonaro detidos enquanto são transportados para uma prisão em Brasília AMANDA PEROBELLI / Reuters

As principais autoridades políticas e judiciais brasileiras têm multiplicado as promessas de que as investigações à invasão dos edifícios governamentais em Brasília não vão deixar pedra sobre pedra. Os primeiros pormenores do inquérito que tenta identificar os organizadores e financiadores da insurreição apontam para empresários do sector agrícola de bastiões de Jair Bolsonaro.

Na noite de segunda-feira, depois de se ter reunido com os 27 governadores estaduais, o Presidente, Lula da Silva, disse abertamente que os milhares de apoiantes do seu antecessor que na véspera tinham invadido os edifícios do Congresso, Supremo Tribunal Federal (STF) e Palácio do Planalto tinham como objectivo um “golpe”.

“Eles querem é golpe, e golpe não vai ter. Eles têm de aprender que a democracia é a coisa mais complicada para a gente fazer, porque exige gente suportar os outros, exige conviver com quem a gente não gosta”, afirmou Lula, que também apontou críticas ao comando do Exército e às chefias da Polícia Militar do Distrito Federal.

Em causa está a tolerância que as Forças Armadas tiveram ao longo dos últimos dois meses face aos acampamentos montados por apoiantes de Bolsonaro em frente a quartéis em vários pontos do país, incluindo Brasília. “Agora as pessoas reivindicam livremente o golpe em frente dos quartéis. E não foi feito nada por nenhum quartel”, disse o Presidente brasileiro.

Lula também garantiu que as investigações vão apurar não apenas a identidade dos participantes nos actos de vandalismo, mas também os financiadores das acções de cariz antidemocrático. “Tem gente financiando, tem gente que pagou para vir aqui e tem gente que fomentou.”

Com o mesmo tom, o juiz do STF, Alexandre de Moraes, também prometeu que as averiguações serão o mais abrangentes possível. “As instituições irão punir todos os responsáveis que praticaram os actos, os que planearam, os que financiaram e os que incentivaram, por acção ou omissão, porque a democracia irá prevalecer”, declarou.

Desde domingo foram detidas mais de 1200 pessoas sob suspeita de terem participado nas acções violentas que levaram à invasão dos edifícios na Praça dos Três Poderes, muitas das quais logo na noite da insurreição em flagrante. Um grupo de deputados bolsonaristas divulgou uma carta em que repudia as condições indigna” em que os suspeitos estão a ser mantidos sob custódia.

Para quem se queixa, Moraes disse apenas que a prisão não “é uma colónia de férias” e disse que “essas pessoas não são civilizadas”.

O Ministério da Justiça e Segurança Pública tinha recebido até meio da tarde desta terça-feira cerca de 30 mil denúncias de alegados participantes e organizadores dos actos de vandalismo contra os edifícios governamentais. O ministério chefiado por Flávio Dino criou um canal de comunicação (denuncia@mj.gov.br) para receber informações sobre suspeitos.

Segundo o ministro, os dados preliminares das primeiras investigações à rede de financiamento dos actos antidemocráticos apontam para um grupo de empresários ligados à exploração agrícola, atiradores desportivos, coleccionadores de armas e caçadores provenientes dos estados do Sul e do centro Oeste – um perfil que coincide quase na perfeição com uma parte significativa dos eleitores mais acérrimos de Bolsonaro.

Dino esclareceu que os primeiros suspeitos identificados na linha que procura reconstruir o esquema de financiamento foram responsáveis pelo aluguer das centenas de autocarros que transportaram os militantes para Brasília nas últimas semanas.

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