Imagens do mundo atingido pela fúria do clima

Numa altura em que estão a acontecer muitos fenómenos meteorológicos extremos em diferentes regiões do planeta, visitamos dez países que estão a ser vítimas da fúria do clima.

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Ponte inundada, no dia 24 de Outubro, em Lismore, cidade australiana em Nova Gales do Sul JASON O'BRIEN/EPA

Todos os anos vemos imagens de inundações, mas — não é impressão sua — este ano elas estão a ter uma expressão muito significativa. Há quase dois meses, noticiávamos que um terço do Paquistão estava submerso, mas as cheias têm prejudicado vários outros países — desde o Bangladesh, cujas inundações dos meses de Maio e Junho já foram descritas pelas autoridades como “as piores em 122 anos”, à Nigéria, onde as cheias por estes dias já vitimaram mais de 600 pessoas.

São várias as nações que, ao longo das últimas semanas, têm sido duramente atingidas por cheias e outros fenómenos meteorológicos extremos, como episódios de chuva e vento forte. Neste artigo, reunimos fotografias de alguns desses fenómenos. Visitamos dez países que, neste momento, estão a ser vítimas da fúria do clima.

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A Cimeira do Clima das Nações Unidas é o ponto mais alto da diplomacia em torno das alterações climáticas, onde os países discutem como travar as emissões de gases com efeito de estufa que causam o aquecimento global. Este ano é no Egipto, de 6 a 18 de Novembro. Acompanhe aqui a Cimeira do Clima. 

Austrália

A época de cheias que a Austrália enfrenta neste momento é já a quarta do ano e entrou esta segunda-feira na sua terceira semana. A agência Reuters relata que, além de as inundações mais recentes já terem afectado milhares de casas e terrenos nos populosos estados de Nova Gales do Sul e Vitória, também já vitimaram cinco pessoas.

As cheias que afectaram a Austrália entre o final de Fevereiro e o início de Abril levaram à morte de pelo menos 22 pessoas e comprometeram a segurança alimentar em algumas das regiões mais fustigadas. As inundações de Julho em Nova Gales do Sul fizeram uma vítima mortal e levaram as autoridades a abordar mais de 85 mil pessoas, a quem foi pedido que deixassem as suas casas (ou, então, dito que poderiam vir a ter de fazer isso mesmo).

Bangladesh

O país asiático é propenso a inundações, mas, este ano, estas têm atingido o território com especial severidade. As cheias começaram em Maio e, no mês seguinte, tornaram-se catastróficas, afectando mais de sete milhões de pessoas (números veiculados por órgãos de comunicação como o canal norte-americano CNN) e, nos casos das zonas mais afectadas (como o distrito de Sylhet), submergindo bairros inteiros. A meio de Junho, o secretário de Estado para a Gestão de Catástrofes, Enamur Rahman, descrevia as cheias de então como “as piores em 122 anos”.

As inundações de agora devem-se ao ciclone Sitrang, que esta segunda levou as autoridades a realojar de forma temporária e preventiva vários milhares de cidadãos. Segundo o jornal The Indian Express, o Sitrang já terá vitimado pelo menos 24 pessoas.

No final de Agosto, a imprensa local reportava que, até então, as cheias no Bangladesh este ano já haviam levado à morte de 141 pessoas.

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Transeuntes atravessam rua já inundada em Daca (capital do Bangladesh) antes da chegada do ciclone Sitrang Mohammad Ponir Hossain/REUTERS

Camarões

A zona dos Camarões que faz fronteira com o Chade e a Nigéria começou a ser afectada por cheias em Agosto. A meio de Setembro, as autoridades locais disseram que, semanas depois, havia aldeias inteiras que já tinham sido varridas, deixando milhares de pessoas em situação de sem-abrigo.

Neste momento, a cidade de Kousséri está a braços com grandes cheias que, de acordo com o canal Africanews, já duram desde a semana passada. Kousséri faz fronteira terrestre com N’Djamena, capital do Chade. As duas cidades são separadas por dois rios: o Logone e o Chari. Segundo o relato do Africanews, o nível das águas de ambos os rios está neste momento “excepcionalmente alto” — e prevê-se que venha a subir ainda mais.

Os Camarões debatem-se com cheias numa altura em que, também na região inundada, há ainda um surto de cólera. Há uma semana, a emissora Voice of America dizia que já tinham sido detectadas “várias centenas” de casos. Também já haviam morrido pelo menos 17 pessoas.

Chade

Fazendo fronteira com os Camarões, o Chade também está a atravessar um momento delicado no que a cheias diz respeito. Com as inundações a afectarem mais de um milhão de cidadãos, foi recentemente declarado estado de emergência.

De acordo com declarações feitas há menos de uma semana por Mahamat Idriss Deby, Presidente do Chade, as inundações afectaram 636 localidades em 18 das 23 províncias do país. As províncias da zona Sul são as que têm sofrido mais, mas até na capital, que fica na região Centro-Sul, centenas de pessoas deixaram as suas habitações, com medo de que estas venham a ser engolidas pela água.

No dia 14 deste mês, a Voice of America relatava que uma semana inteira de chuvas fortes fizera o rio Logone transbordar, deixando 70 mil pessoas, entre residentes no Chade e residentes nos Camarões, sem abrigo.

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A 14 de Outubro, pessoas deixam para trás as suas casas após a cidade de N'Djamena, capital do Chade, ficar inundada Mahamat Ramadane/Reuters

França

Aqui não falamos de cheias, mas estamos na mesma perante um episódio recente em que é visível a tal “fúria do clima” a que fazíamos referência no início deste artigo.

Dois episódios de ventos e chuvas fortes nas zonas francesas de Bihucourt e Conty provocaram múltiplos danos materiais no último domingo. De acordo com a imprensa local, os estragos terão sido maiores em Bihucourt, onde terá sido necessário realojar cerca de 150 habitantes. Dezenas de casas ficaram sem os respectivos telhados. Também foram derrubadas árvores. Segundo a agência France-Presse, não há, até à data, registo de vítimas mortais.

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Vista aérea da localidade de Bihucourt após o episódio de ventos e chuvas fortes Pascal Rossignol

México

O país da América do Norte já tinha, entre o final de Agosto e o início de Setembro, testemunhado episódios de cheias rápidas. No último domingo, foi “atacado” pelo furacão Roslyn. O fenómeno climático extremo, cujos ventos chegaram a atingir uma velocidade de 190 quilómetros por hora, levou à morte de pelo menos duas pessoas, que tentaram abrigar-se sob estruturas instáveis que não resistiram à força do furacão.

O Roslyn já perdeu força, mas, segundo noticiava a Reuters no domingo, a previsão de chuva forte nas zonas por onde ainda vai passar mantém-se. Com a precipitação intensa, existe o risco de cheias rápidas.

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Veículo virado do avesso pelo furacão Roslyn Hugo Cervantes/Reuters

Nigéria

Até ao último dia 16, as cheias na Nigéria já tinham vitimado mais de 600 pessoas, provocado o realojamento de 1,3 a 1,4 milhões de residentes e, ainda, afectado ou destruído mais de 440 mil hectares de terrenos agrícolas. As autoridades locais afirmaram recentemente que cinco dos 36 estados nigerianos permanecerão em situação de risco de inundação até ao final de Novembro. “A Nigéria está habituada a inundações sazonais, mas este ano tem sido significativamente pior do que o habitual”, escreveu a BBC no dia 16.

Quatro dias depois, a Nigeria LNG Limited, uma empresa produtora de gás natural liquefeito, disse que, uma vez que as cheias afectaram as suas operações de forma significativa, poderá não conseguir assegurar o normal fornecimento de gás natural.

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Vista aérea da cidade nigeriana de Yenagoa a 21 de Outubro EPA/STRINGER

Paquistão

No início de Setembro, o Paquistão apareceu nos nossos ecrãs pelos piores motivos: um terço do país, berço de quase 221 milhões de habitantes, estava debaixo de água. “Nunca vi carnificina climática a esta escala”, afirmaria, mais tarde nesse mesmo mês, António Guterres, secretário-geral da Organização das Nações Unidas (ONU).

As cheias no Paquistão, o resultado de um cocktail climático explosivo, já vitimaram mais de 1700 pessoas. Terão ainda afectado mais de 33 milhões de habitantes.

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Pessoas comprometidas pelas cheias no Paquistão tentam, a 2 de Setembro, chegar até ao distrito de Dudu, em busca de regiões menos afectadas WAQAR HUSSEIN/EPA

Venezuela

Foi semeado o caos em El Castaño quando, há pouco mais de uma semana, uma barragem colapsou, não tendo resistido à pressão exercida por chuvas fortes. As autoridades tiveram de realojar a maioria dos habitantes da localidade, escreveu recentemente o jornal britânico The Guardian, num artigo em que também olha para as recentes cheias e chuvas fortes um pouco por todo o mundo.

Ainda segundo o The Guardian, El Castaño sofreu o mesmo episódio de chuva torrencial que, no início do mês, sofreu a cidade de Las Tejerías. A 8 de Outubro, choveu aquilo que, em média, costuma chover nessa localidade ao longo de 35 dias. O fenómeno meteorológico extremo fez transbordar um riacho e resultou em pelo menos 54 mortes.

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Homem limpa, a 18 de Outubro, o que resta de uma casa afectada pelo transbordamento do riacho na cidade venezuelana de Las Tejerías MIGUEL GUTIERREZ/EPA

Vietname

Nos dias 14 e 15 deste mês, uma tempestade tropical deixou toda a cidade costeira de Da Nang submersa, segundo a imprensa local. Pelo menos dez pessoas terão morrido devido às chuvas fortes e inundações.

A precipitação foi bastante intensa na província de Thua Thien-Hue, onde quase 20 mil casas chegaram a estar 0,3 a 0,8 metros debaixo de água.

O The Guardian diz que, de acordo com as previsões, ainda vêm aí mais tempestades. Lembra também que, em anos recentes, Da Nang tem sofrido bastante com “chuvas imprevisíveis” que vêm após períodos de “seca severa”.

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