Semana difícil para Trump termina com sondagem preocupante da Fox News

Presidente norte-americano perde ainda mais terreno para o seu opositor do Partido Democrata, Joe Biden, que surge com 12 pontos de vantagem. Apoiantes de Biden estão motivados pelo medo da reeleição de Trump.

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Donald Trump pode recuperar de uma semana difícil no sábado, com o comício em Tulsa EPA/CHRIS KLEPONIS / POOL

Uma sondagem do canal conservador Fox News, divulgada na noite de quinta-feira, dá ao candidato do Partido Democrata nas eleições presidenciais norte-americanas, Joe Biden, uma vantagem de 12 pontos sobre o Presidente Donald Trump. 

Feita com base em entrevistas a 1343 eleitores registados em todo o país, a sondagem do canal preferido do Presidente norte-americano surge uma semana depois de a sua equipa de campanha ter exigido à CNN que peça desculpas por uma outra sondagem, que deu uma vantagem de 14 pontos a Joe Biden.

A sondagem da Fox News é a mais recente contrariedade para Trump, numa semana marcada pelas decisões do Supremo Tribunal a favor da protecção dos trabalhadores gay e transgénero e de centenas de milhares de pessoas que chegaram aos Estados Unidos quando eram menores de idade

A juntar às decisões de um Supremo de maioria conservadora, e já com dois juízes nomeados pelo actual Presidente norte-americano, a semana ficou também marcada pelo tempo de antena dado a dois livros muito críticos de Trump – um enquanto líder político, escrito pelo seu antigo conselheiro de Segurança Nacional John Bolton; e outro enquanto filho e irmão, escrito pela sua única sobrinha, a psicóloga Mary L. Trump.

No sábado, o Presidente norte-americano terá uma oportunidade para recuperar de uma semana difícil com o regresso aos comícios, em Tulsa, no estado do Oklahoma, num recinto fechado onde vão estar 19 mil pessoas.

A organização do comício de campanha eleitoral está a ser contestada nos tribunais, por não se exigir aos espectadores que mantenham uma distância de segurança entre si, e a primeira decisão foi favorável ao Presidente Trump.

O poder do medo

Na sondagem da Fox News, Biden alarga a sua vantagem para Trump em comparação com os resultados de Maio, de oito para 12 pontos.

Há um mês, quando a grande preocupação dos eleitores era a gestão da pandemia do vírus SARS-CoV-2 e as mais de 100 mil mortes nos Estados Unidos por covid-19, a sondagem da Fox News dava 48% das intenções de voto a Biden e 40% a Trump.

Um mês depois, com o país mergulhado nos protestos anti-racismo motivados pelo homicídio do cidadão negro George Floyd pelo polícia branco Derek Chauvin, em Mineápolis, a vantagem do candidato do Partido Democrata é agora de 12 pontos – 50% para Biden e 38% para Trump.

Apesar de uma única sondagem dizer pouco sobre o que pode acontecer nas eleições de Novembro, em particular num ano repleto de voltas e reviravoltas – desde o impeachment do Presidente Trump, passando pela primeira pandemia em 100 anos, até aos maiores protestos anti-racismo dos últimos 50 anos –, há um resultado no inquérito da Fox News que pode ser mais preocupante para o Presidente Trump do que a sua desvantagem em relação ao Joe Biden.

Entre os eleitores de Biden, 63% dizem que vão votar de certeza no candidato do Partido Democrata por terem medo de uma reeleição de Donald Trump, e não por estarem entusiasmados com o seu candidato (31%).

Do outro lado acontece o oposto, com apenas 33% dos eleitores de Donald Trump a dizerem que vão votar nele por terem medo de uma vitória de Joe Biden.

Há quatro anos, o medo de uma vitória de Hillary Clinton foi importante para a mobilização dos apoiantes de Donald Trump, com 61% a dizerem, nessa altura, que a eleição de Clinton seria trágica para o país. 

“As emoções negativas, como o medo, a ansiedade e a raiva podem ser motivadores poderosos para a participação política”, disse Daron Shaw, um dos responsáveis pela sondagem da Fox News. “Mas a ausência de entusiasmo em relação a Biden também pode dar a Trump uma oportunidade para o definir como um candidato à margem da realidade do país e mal preparado para o cargo.”

Apoio dos eleitores negros

Mais do que em qualquer outra eleição nas últimas décadas, a participação do eleitorado negro pode ser determinante para a escolha do próximo Presidente norte-americano. 

Segundo um estudo do Pew Research Center, a afluência às urnas dos eleitores negros caiu em 2016 para 59,6%, menos sete pontos percentuais do que em 2012 e a maior queda de sempre de uma eleição para a outra desde que há registos.

Se essa tendência se inverter em Novembro, com um recorde de participação, um candidato que tenha a esmagadora maioria do apoio do eleitorado negro pode ficar numa posição muito favorável.

De acordo com a sondagem da Fox News, 79% dos eleitores negros consideram que Joe Biden respeita as minorias raciais, contra apenas 8% que dizem o mesmo em relação a Donald Trump. 

Ainda antes dos protestos anti-racismo em todo o país, o eleitorado negro deu indicações de que está mais motivado a ir às urnas em Novembro para travar a reeleição de Donald Trump, ao votar em massa em Joe Biden nas primárias do Partido Democrata na Carolina do Sul e outros estados, em Fevereiro e Março – foi esse apoio que deu uma vantagem determinante a Biden sobre o senador Bernie Sanders e acabou por decidir a corrida a favor do ex-vice-presidente norte-americano.

A sondagem da Fox News dá também uma grande vantagem a Biden entre os eleitores com menos de 30 anos (mais 37 pontos do que Trump), nas áreas suburbanas (mais 22 pontos), entre o eleitorado feminino (mais 19 pontos) e entre os eleitores com mais de 65 anos (mais dez pontos).

Para além da subida de Biden, a sondagem da Fox News indica que Trump está pior do que em 2016 em segmentos importantes do seu eleitorado. Entre os cristão evangélicos, a vantagem de Trump em relação a Biden é agora de 41 pontos (em 2016, Trump bateu Clinton por 64 pontos) e entre os eleitores das zonas rurais é de nove pontos (há quatro anos foi de 27 pontos).

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