Jovens de Abrantes atenuam isolamento de idosos com projecto Adopta um Avô

Nesta iniciativa concebida para fazer frente à solidão, seniores são “atribuídos” a jovens voluntários, que lhes fazem companhia por telefone.

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PAULO PIMENTA

Minorar os sentimentos de isolamento e de solidão dos mais idosos em tempo de pandemia e recolhimento é o objectivo de um grupo de jovens de Abrantes, que implementou o projecto Adopta um Avô recorrendo aos telemóveis pessoais.

Com a iniciativa, “a cada voluntário, na sua maioria estudantes, é atribuído um sénior durante este período de quarentena. O jovem faz-lhe companhia todos os dias por telemóvel”, explica, em declarações à Lusa, Teresa Valente, autora da ideia, que arrancou há uma semana e já conta com oito pares de netos e avós adoptados.

Desde sempre ligada aos escuteiros e à Igreja, Teresa, de 23 anos e licenciada em Psicologia, lembra que tudo começou com um desafio lançado numa reunião do Agrupamento 172 do Corpo Nacional de Escuteiros, ao qual está ligada, tendo pensado e desenvolvido a ideia no seio da Pastoral Juvenil da Diocese de Portalegre-Castelo Branco, cujo secretariado integra.

“Para mantermos o espírito escutista durante este período, o agrupamento vai-nos lançando desafios. Um dia o desafio era ‘fazer uma boa acção’, e isso pôs-me a pensar em como eu poderia estar ao serviço dos outros nesta quarentena”, afirma.

Da ideia à implementação, foi um pequeno passo. “Desafiei a Irmã Fernanda Luz a criarmos um projecto na Pastoral Juvenil para combater a solidão na nossa comunidade e ela aceitou logo. No dia seguinte, começámos a ‘trabalhar no terreno’, mas sempre a partir de casa, claro”, conta Teresa Valente, detalhando que, a partir desse dia, alargou o desafio a outros jovens da comunidade para adoptarem um idoso.

Com uma média de idades a rondar os 19 anos, tanto os jovens como os idosos são de Abrantes, indica Teresa, admitindo que gostaria de ver a ideia replicada noutros pontos do país, em prol daqueles que se encontram em casa por integrarem os grupos de risco da covid-19. “Isto começou aqui pela facilidade de encontrar jovens, uma vez que estou envolvida em grupos juvenis na cidade, e por sabermos de alguns idosos que estão sozinhos, tendo em conta que a Irmã Fernanda os conhece do trabalho que faz.”

Teresa mantém a sua actividade profissional diária em teletrabalho, ao mesmo tempo que gere a equipa de voluntários e se vai inteirando de como estão a decorrer as relações “familiares” entre os novos netos e avós. A experiência “tem sido muito enriquecedora para todos, sendo que eu também adoptei uma avó. Cada caso é um caso: há situações em que o neto telefona e faz companhia todos os dias, outros em que é três a quatro vezes por semana, depende do estado de espírito de cada avô”, assinala.

E as conversas abordam “temas muito diversificados, desde falar sobre o seu dia, as suas vidas e dificuldades, ou sobre Deus, sendo que tanto os avós como os netos podem sugerir temas entre eles”. “Não temos temas definidos. Temos, sim, avós que são mais tímidos e jovens que têm de meter mais conversa. Mas também temos avós muito faladores”, revela, entre risos.

O projecto é aberto a quem queira participar, bastando para tal contactar a organização através da página no Facebook SDPJuventude e Vocações de Portalegre Castelo Branco. O objectivo de Teresa é “alcançar o máximo de seniores possível, para eles saberem que não estão sozinhos nesta altura e têm alguém com quem conversar”.

A jovem psicóloga tem mais etapas delineadas para este percurso entre novos netos e avós, dando conta que o Adopta um Avô​ “vai originar relações de proximidade” que terão continuidade. “Depois de passar este tempo de confinamento, o jovem e o sénior irão encontrar-se ao vivo para se conhecerem, depois de terem desenvolvido uma amizade na quarentena”, conclui. O objectivo é organizar um convívio com todos os netos e avós. “Quando voltar tudo à normalidade.”

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