Alemanha quer acabar com eléctricas a carvão até 2038

Produção de energia, limites de velocidade nas auto-estradas e restrição do diesel têm sido temas quentes no país.

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As centrais a carvão são responsáveis por 40% da energia produzida na Alemanha FILIP SINGER/EPA

O Governo alemão vai trabalhar para assegurar o fim da produção de energia em centrais eléctricas a carvão até 2038, depois de uma comissão ter chegado a um acordo sobre a data após meses de trabalho.

Foi uma das várias discussões dos últimos dias no país a envolver ambientalismo e economia, ou ecologia e modo de vida: debateu-se o limite de velocidade nas auto-estradas e ainda a restrição de circulação de veículos a diesel no centro das cidades.

Quanto às fontes de energia, a comissão de 28 peritos encarregada pelo Governo alemão de analisar o fim da produção de energia das termoeléctricas a carvão apontou a data, que se junta a uma outra, a de 2022, quando o país deverá completar a retirada gradual que vem a levar a cabo da energia nuclear, após o desastre de Fukushima (Japão), em 2011.

A Alemanha é “o maior bastião de centrais a carvão no Noroeste da Europa”, aponta o diário britânico The Guardian. “O mais poluente dos combustíveis fósseis ainda fornece 40% da energia, comparado com 5% do Reino Unido”. Em teoria, a Alemanha deveria então ficar apenas com fontes de energia renováveis – estas representavam apenas 14% do total de energia consumida (em Portugal, por exemplo, a percentagem é de 28%; a média europeia é de 17%) em 2016, o ano mais recente em que o Eurostat tem dados.

A data de 2038 é “demasiado cedo”, disse Martin Schmitz, presidente executivo da RWE, a eléctrica alemã que gere a maioria das centrais do país. Ou é “inaceitável” de tão tardia, disse Martin Kaiser, da organização ecológica Greenpeace, que vinha a fazer campanha pela data final de 2030.

Enquanto o Governo garante que os preços da electricidade não vão subir, o diário Handelsblatt cita um estudo do instituto Ifo, de Munique, que levanta a possibilidade preocupante de, apesar de deixar de produzir energia a partir de carvão, a Alemanha possa continuar a consumi-la, importando-a da Polónia ou da República Checa.

O Governo está agora focado também em planos de ajuda para as regiões afectadas, onde milhares de pessoas vão perder empregos.

"Não" aos limites de velocidade

Por outro lado, o Governo anunciou esta segunda-feira que não tem planos para impor um limite de velocidade máximo geral nas auto-estradas, uma possibilidade que vinha a ser discutida nos últimos dias como medida para protecção do ambiente e também de segurança rodoviária.

Apesar das comparações de que mexer nos limites de velocidade das auto-estradas seria como limitar o porte de arma nos Estados Unidos, uma sondagem mostrou que uma pequena maioria de alemães (52%) estaria disposto a fazê-lo.

A Alemanha é o único país do mundo que não tem estabelecido um limite de velocidade máxima geral nas auto-estradas (algumas auto-estradas, ou alguns troços, têm limites, mas não há um limite máximo). As estatísticas mostram que há, em geral, mais acidentes mortais nas auto-estradas que não têm limite de velocidade (em 2016, 26% mais).

Ainda em relação à ligação especial dos alemães com os seus carros, no domingo o ministro dos Transportes Andreas Scheuer (conservador da Baviera, estado federado onde têm sede a Audi, BMW e a MAN), disse que iria pedir, num encontro de ministros de Transportes da União Europeia, a revisão dos actuais limites de emissões de partículas perigosas para a saúde, depois de uma carta de cem médicos alemães questionar os efeitos das partículas (a Sociedade de Pneumonologia e Medicina Respiratória Alemã já rejeitou a carta e a opinião, sublinhando que estes cem médicos são uma minoria entre os 4000 membros da sociedade).

Várias cidades alemãs têm problemas na qualidade do ar, apresentando valores bastante acima dos limites, o que tem levado associações ambientais a processá-las e tentar conseguir limites à circulação dos veículos a diesel. Uma das primeiras cidades a impor estas restrições é Estugarda, onde estão a sede da Mercedes e Porsche.

Por outro lado, a esmagadora maioria dos serviços prestados em várias áreas, de electricistas a apoio domiciliário, passando por serviços municipais como recolha de lixo, depende de veículos a diesel.

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