Limitar a velocidade nas auto-estradas em nome do ambiente? Maioria dos alemães aceitaria

País procura caminhos para reduzir as emissões de gases com efeitos nocivos para o ambiente.

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Manuel Roberto / Publico

A maioria dos alemães defende a fixação de limites máximos de velocidade para as famosas “autobahns”, as auto-estradas sem limite de velocidade da Alemanha, para ajudar a combater as alterações climáticas. Este foi um dos resultados de uma sondagem feita pelo instituto Emnid, publicados na edição de domingo do jornal Bild.

Entre os inquiridos, 52% aceitariam limites de velocidade entre os 120 quilómetros por hora e os 140 quilómetros por hora​, enquanto 46% se opuseram a esses limites. 

Uma comissão nomeada pelo governo alemão para estudar o futuro dos transportes está a analisar a possibilidade de acabar com os troços “sem limites” nas vias rápidas, como parte de uma proposta mais ampla para ajudar a Alemanha a atingir as metas de emissão de gases com impacto no ambiente da União Europeia.

Mas nem todos estão satisfeitos com estes planos. O ministro dos Transportes, Andreas Scheuer — um conservador da Bavária, estado de origem das fabricantes alemãs Daimler e Audi, uma unidade da Volkswagen —, já afirmou que se opõe aos limites de velocidade na rede de auto-estradas da Alemanha. “O princípio da liberdade já está comprovado. Quem quiser conduzir a 120 quilómetros por hora pode fazê-lo, e quem quiser conduzir mais rápido pode fazê-lo também. Porquê essa constante micro-gestão?”, afirmou ao Bild.

Scheuer diz que as estradas alemãs são as mais seguras do mundo e que impor um limite de velocidade reduziria as emissões de carbono do país em apenas menos de 0,5%. Recordou ainda que 7640 quilómetros de auto-estradas alemãs — cerca de 30% do total — já têm limites de velocidade.

O ministro afirmou que planeia reunir-se com a comissão nomeada pelo Governo para discutir as propostas que estão em cima da mesa, que devem ser entregues até o final de Março. “O objectivo é reflectir sobre o trabalho que estão a fazer e gerar resultados, em vez de revisitar ideias antigas, rejeitadas e pouco realistas como os limites de velocidade”, apontou Scheuer.

A Alemanha pode sofrer pesadas multas da União Europeia se não conseguir reduzir as emissões de gases de efeito estufa e óxidos de nitrogénio nocivos. As emissões dos transportes, que não vêem reduções desde 1990, são um dos campos onde se reconhece que é preciso intervenção.

O Governo está dividido entre a necessidade de proteger a indústria automóvel, crucial para a economia do país mas que nos últimos anos foi atingida por uma série de escândalos de fraude nas emissões que lhe custaram caro, e a necessidade de reduzir os gases de efeito de estufa para atingir as metas da União Europeia e os objectivos internos de protecção do ambiente.

A imposição de um limite de velocidade de 130 quilómetros por hora, o aumento de impostos sobre combustíveis e as quotas para carros eléctricos e híbridos, a par com o fim dos incentivos fiscais para veículos a diesel, podem gerar metade dos cortes necessários nas emissões de gases causadores do efeito estufa, adiantou a comissão, num documento publicado este mês, noticiado pela agência Reuters.

As conclusões da comissão devem ser integradas numa lei sobre alterações climáticas que o Governo alemão quer promulgar este ano.

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