CP Carga arrisca fechar se a privatização falhar

Empresa tem um passivo de 83 milhões.

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Carlos Lopes/Arquivo

Se não houver interessados na CP Carga, a decisão do Governo já está tomada e passa pelo seu encerramento. De acordo com informações recolhidas pelo PÚBLICO, é essa a resolução do secretário de Estado dos Transportes, Sérgio Monteiro, cujo gabinete, contactado segunda-feira, não respondeu.

As razões do encerramento prendem-se, segundo o PÚBLICO apurou, com um eventual impedimento de Bruxelas em que a CP continue a financiar a actividade da sua afiliada para o transporte ferroviário de mercadorias.

Daí a prioridade em privatizar a CP Carga, agora nos últimos meses do mandato do Governo, depois desta intenção estar inscrita no acordo com a troika há quatro anos. A sua venda não passa por um concurso, mas sim por uma “venda directa de referência” na qual o Governo negociará com os interessados as condições de aquisição da empresa.

A expressão consta da resolução do Conselho de Ministros que aprova o caderno de encargos da venda da empresa, mas não significa que não haja um procedimento concursal. Mais do que o valor da aquisição, o que está em causa é o projecto que o candidato à privatização apresentar pois a empresa tem um passivo de 83 milhões de euros que deverá transitar para o futuro accionista.

Quanto aos activos, a CP Carga quase os não tem, limitando-se, na prática, à sua carteira de clientes. A empresa não tem locomotivas (que são alugadas à CP), o prédio-sede, na Avenida da República, é arrendado, e a empresa perdeu em 2014 a posse dos terminais de mercadorias que transitaram para a Refer enquanto gestor das infraestruturas ferroviárias a quem compete garantir o livre acesso a esses equipamentos.

Só a frota de vagões pertence à CP Carga, mas nem sequer na totalidade visto que a sua compra foi financiada pela Eurofima, uma sociedade suíça que é ainda credora de uma parte daqueles activos. Daí que, perante a falta de interessados numa empresa tão pouco valiosa, o Governo tenha optado pelo ajuste directo.

Em comunicado recente, a CP Carga diz que “reforça a trajectória de melhoria de resultados” dado que no primeiro trimestre deste ano transportou cerca de 210 mil toneladas a mais do que no período homólogo de 2014, o que representou um aumento de 11,5% das receitas. Em termos absolutos, a empresa facturou 16,6 milhões de euros nos três primeiros meses do ano.

Já quanto aos resultados líquidos desse período, a empresa recusou essa informação ao PÚBLICO alegando que, apesar de ser detida por capitais públicos, é uma informação confidencial.

A alegada trajectória de melhoria de resultados decorre do bom desempenho dos principais tráfegos da empresa: carvão (corredor Sines – central do Pego), minérios (Minas de Neves Corvo – Setúbal) e siderúrgicos (Seixal – Setúbal), para além dos contentores no tráfego internacional (Espanha).

O PÚBLICO questionou a CP Carga sobre quais as empresas que já demonstraram interesse na sua aquisição, tendo esta remetido a pergunta para a CP que, por sua vez, remeteu para o Governo que, por sua vez, não respondeu.

Sabe-se, no entanto, que entre os potenciais candidatos se encontram a MSC Portugal Algeposa, Conteparque, Atena Equity Partners e Mota-Engil.

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