Grande rabino de França admite que encobriu plágio numa obra sua

Primeiro Gilles Bernheim negou. Agora admite que atribuiu a redacção do livro Quarante méditations juives a outra pessoa e que esta plagiou vários autores.

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O grande rabino de França, Gilles Bernheim, admitiu esta quarta-feira que no seu livro Quarante méditations juives, editado em Setembro de 2011, existe uma passagem plagiada do filósofo Jean-François Lyotard. O livro foi publicado há cerca de ano e meio mas só agora Bernheim admitiu o plágio, que terá tentado encobrir. No entanto, o rabino afirma que confiou a redacção da obra a outra pessoa que acusa de ter usado abusivamente trabalhos de outros autores.

A polémica começou no blogue francês Strass de la philosophie, a 7 de Março passado, quando foi colocado, lado-a-lado, um excerto do livro de Gilles Bernheim com parte de um trabalho de Jean-François Lyotard, que morreu em 1998. As semelhanças evidentes levantaram a questão se teria sido o rabino a plagiar o filósofo ou o contrário.

Quando questionado pela primeira vez sobre a possibilidade de plágio, Gilles Bernheim negou-o e argumentou que o excerto em causa, que se distribui ao longo de quatro páginas, foi retirado de um curso que leccionou no início da década de 1980, muito antes de Jean-François Lyotard ter escrito Questions au Judaïsme, entretiens avec Elisabeth Weber, editado em 1996, no qual se podem encontrar as frases semelhantes às do rabino.

Mas, num comunicado enviado à revista francesa L'Express, publicado na noite de terça-feira, Bernheim altera a sua versão dos factos e reconhece que houve um plágio. O rabino explica que “devido à falta de tempo”, delegou a um estudante os “trabalhos de pesquisa e de redacção”, “um terrível erro”. “A minha confiança foi traída. Os plágios desmascarados na Internet foram comprovados. Existem, nesse livro, outros plágios que não foram identificados nesta fase”, continua Bernheim.

O rabino admitiu que a primeira reacção à acusação de plágio foi “emocional, precipitada e estranha”, mas assume agora que estava “errado” e que é “responsável” pelo sucedido. Bernheim diz ainda que irá pedir ao seu editor que retire das livrarias e da sua bibliografia Quarante méditations juives, deixando um pedido de desculpas aos autores dos textos plagiados, à sua editora e à mulher de Lyotard.

O comunicado do rabino surge depois de Dolorès Lyotard e a co-autora do livro plagiado, Elisabeth Weber, terem reagido ao caso em dois textos publicados no blogue Archéologie du copier-coller.

A viúva de Lyotard considerou que a hipótese colocada por Bernheim, de que teria sido ele o plagiado, “tem consequências graves”. “Supõe-se que dois filósofos, Élisabeth Weber et Jean-François Lyotard, (...) agiram de forma concertada na tarefa indigna de copiar exactamente três páginas de um escrito do qual não foram nenhum dos autores”. Dolorès Lyotard sublinha que essa acusação é uma “ofensa à honra” do seu marido e de Élisabeth Weber.

Weber negou, por sua vez, qualquer plágio da obra do rabino. “Nunca li, vi, ouvi ou utilizei qualquer fotocópia ou registo de notas do curso de Gilles Bernheim. Sou autora de todas as questões colocadas a Jean-François Lyotard. Não dei autorização a ninguém para a reprodução da entrevista” ao filósofo.

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