Ano 2020-21

Um veterano e uma estreia: Outra Presença e Poeta vencem Concurso Nacional de Jornais Escolares

Aparecimento de novas publicações, em plena pandemia, traduz “esforço de manter a escola viva e próxima dos alunos”. Participação no concurso aumentou 32% em relação à edição anterior.

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Em papel ou online, participaram no concurso 139 publicações, mais 34 do que no ano anterior Miguel Manso

De Bragança a Lisboa, de Esposende a Portimão. A lista dos vencedores do Concurso Nacional de Jornais Escolares cruza o país de norte a sul. O Outra Presença, do Agrupamento de Escolas Abade de Baçal, em Bragança, é o melhor jornal de agrupamento. E a revista Poeta, da Escola Básica António Correia de Oliveira, em Esposende, a melhor publicação apresentada por uma escola.

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O reconhecimento de “um trabalho que tem já muitos anos e que nos últimos dois foi particularmente difícil, devido às circunstâncias em que as escolas se viram envolvidas”, saberia sempre bem à professora que tem coordenado o Outra Presença. Mas receber a notícia do prémio em 2021 assume, para Luísa Diz Lopes, um sabor especial: “A minha satisfação é ainda maior. Fui coordenadora do jornal durante 30 anos, deixei no final do ano letivo” a que diz respeito esta edição do concurso promovido pelo PÚBLICO, através do projeto PÚBLICO na Escola. Um ano letivo exigente, propício ao desânimo, a que o Outra Presença resistiu, explica a professora, em grande medida graças ao empenho de uma aluna, Carolina Teixeira, que aponta como “um elemento-chave”, este ano, no jornal. “Foi incansável. Merecia mesmo este prémio. Os outros colegas do jornal também, mas ela vestiu a camisola do jornal, verdadeiramente.”

Herdeiro do boletim Presença, surgido em 1959, o Outra Presença é publicado desde 1989. Para além da longevidade, Luísa Diz Lopes destaca “a versatilidade, o dinamismo e a capacidade que o jornal sempre teve” de se adaptar aos novos tempos. “Criámos um site quando na imprensa regional aqui em Bragança ainda não havia”, lembra. E não pararam de inovar, mais recentemente avançaram para os podcasts, para a reportagem em vídeo. Hoje online, o Outra Presença mantém uma edição impressa no fim de cada ano letivo (em 2020-21 ficou-se pela versão em pdf). Várias vezes distinguido neste concurso nacional, ganhou na edição anterior o Prémio Melhor Trabalho de Ciência, tendo por isso sido convidado de uma emissão do programa Põe a tua Escola no Mapa, que contou com a presença das alunas Carolina Teixeira e Daniela Hanganu.

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Meia dúzia de meses antes da mudança na coordenação do Outra Presença, ao fim de três décadas, nascia em Esposende a revista Poeta, com um nome inspirado no patrono da escola/agrupamento e uma qualidade e uma dinâmica que levaram o júri do Concurso Nacional de Jornais Escolares a conceder-lhe o primeiro prémio na categoria “Melhor jornal de escola”. “Não estava nada a contar”, confessa a professora Cláudia Sá, coordenadora (o outro professor coordenador é Rui Santos). “Foi quase como que a coroação de um trabalho exaustivo.” Sobretudo na edição de estreia, em pleno confinamento, com os trabalhos a serem apresentados, coordenados e editados “através do WhatsApp, do Skype, do Zoom... Os miúdos foram fabulosos, são uns heróis”.

“É como um filho”

Primeiro chegou o Clube de Jornalismo, depois a escola-sede do Agrupamento António Correia de Oliveira passou a contar com a revista digital. “Começámos com um núcleo pequenino, a medo, porque não sabíamos como é que isto ia correr, agora já estamos a alargar”: a alunos do 2.º ciclo (e não apenas do 3.º) e à EB de Apúlia, explica Cláudia Sá. “É como um filho; vamos alimentando, alimentando... e cresce. Um projeto fantástico.”

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Dois mil euros é o valor de cada um dos prémios para melhor jornal — de agrupamento e de escola — atribuídos no concurso, que apreciou 139 publicações, mais 34 do que há um ano. Nesta edição de 2020-21 (ver caixa com a lista de todos os premiados), os segundos prémios (de mil euros) distinguiram, respetivamente, o EçaNews, do Agrupamento de Escolas Eça de Queirós, em Lisboa; e o NewsPoeta, criado e dirigido pela Associação de Estudantes da Escola Secundária Poeta António Aleixo, em Portimão. Ambos online e ambos com início em 2021.

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O aparecimento de tantas novas publicações, numa altura de pandemia e confinamento, merece destaque por parte de Isabel Leite, professora auxiliar da Universidade de Évora e membro do conselho consultivo do EDULOG-Fundação Belmiro de Azevedo, pelo segundo ano consecutivo a fazer parte do júri do concurso. “Acho absolutamente extraordinário”, diz. Arrancar com este tipo de projetos, no contexto em causa, pode também ser visto como “um esforço de manter a escola viva e de utilizar o jornal como forma de mantê-la próxima dos alunos”.

Isabel Leite sublinha ainda, além do salto quantitativo e qualitativo das participações, a capacidade de adaptação na passagem — em muitos casos ditada pela pandemia — dos jornais para o mundo digital.

Também Luísa Gonçalves, professora e coordenadora do PÚBLICO na Escola e membro do júri do concurso, chama a atenção para o modo como foi dado este “salto para o digital”. E para “a forma quase profissional como algumas ‘redações’ passaram a funcionar recorrendo a programas e aplicações diversas para se organizarem, comunicarem, editarem e divulgarem os seus trabalhos”.

Ambas referem igualmente como nota evidente do concurso deste ano o aumento do grau de envolvimento dos alunos nas publicações.

Mitigar o isolamento

Novidade absoluta no concurso, o Prémio Incentivo vai para O Riscado, do Agrupamento de Escolas de Airães. Durante anos, era via Facebook que se divulgavam as notícias e atividades, explica-se no texto que acompanhou a candidatura ao concurso. “Até que, este ano letivo, na sequência de mais um ano de pandemia, houve uma maior necessidade de implementar a aproximação, de divulgar junto da comunidade educativa o que ia acontecendo na escola, contribuindo para mitigar o isolamento. Surgiu a ideia de enviar notícias, implementando-se, num Domínio de Autonomia Curricular (DAC), o envio de cartas e postais a idosos e pessoas mais vulneráveis na comunidade, principalmente em datas festivas.” 

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Criou-se então uma newsletter de publicação mensal, “que foi sendo gradualmente melhorada, aparecendo depois o jornal digital, ligando a comunidade em torno das comemorações dos 20 anos da EB/S de Airães”. A segunda edição, de junho passado, tem como manchete: “1.º Lugar Equidade - O Paraíso está de parabéns!” O arranque do texto esclarece qualquer dúvida que o título possa suscitar: “A Escola Básica e Secundária de Airães - Felgueiras está no 1º lugar no indicador de equidade, um ranking alternativo criado este ano pelo Ministério a Educação. É a escola que mais ajuda os alunos de contextos mais vulneráveis a terem sucesso.”

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O Prémio Incentivo faz parte do grupo de Prémios Especiais, todos no valor de 500 euros, mas é o único que dá também direito a um workshop “Como fazer um jornal”, da responsabilidade do PÚBLICO na Escola. Os outros três prémios especiais têm como destinatários o jornal Mar da Palha (melhor reportagem), a revista de divulgação científica BioHeitor (melhor trabalho de Ciência) e a revista de arte Ponto (melhor design gráfico). 

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Para além de Isabel Leite e Luísa Gonçalves, integraram o júri do concurso: Andreia Sanches (diretora adjunta do PÚBLICO); Helena Soares (designer e professora); Joaquim Fidalgo (jornalista e professor da Universidade do Minho); José Carlos Sousa (diretor de Serviços de Projetos Educativos da Direção-Geral da Educação​); e Teresa Calçada (comissária do Plano Nacional de Leitura).

Os prémios são entregues no dia 24 de novembro.