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Sociedade civil mobiliza-se para levar Ciência da Computação às escolas

Câmara do Porto, Sonae e .PT são alguns dos parceiros da Ensico no projeto piloto em curso em várias escolas.

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Os agrupamentos de escolas de Garcia de Orta e do Cerco do Porto e o Colégio Nossa Senhora de Lourdes, na mesma cidade, contaram com o ensino de Ciência da Computação ao longo deste ano letivo, em oito turmas de 2.º e 3.º ciclos (5.º, 6.º, 7.º e 8º anos) do ensino básico, num total de cerca de 170 alunos. A Ensico (Associação para o Ensino da Computação), mentora do projeto, teve o apoio de vários parceiros, do setor público e privado, para implementar o piloto. Um apoio que vai manter-se nas várias fases do projeto. O universo de alunos abrangidos continuará a aumentar até 2023, altura em que a experiência chegará a estudantes do ensino secundário.

Que balanço fazem os parceiros envolvidos e como encaram este projeto [depoimentos em vídeo aqui]? João Günther Amaral, Chief Development Officer e adjunto da Comissão Executiva da Sonae, lembra que a Ciência da Computação já faz parte do currículo escolar de estudantes em vários países e defende que “temos agora uma oportunidade única para fazer isto bem feito, idealmente em parceria entre entidades públicas e privadas e sempre com uma visão de longo prazo”.

Isto porque “a necessidade de criar já hoje ou amanhã potencia a resiliência para os desafios que conhecemos e mesmo para os que ainda não conhecemos, mas que seguramente vão passar por inovação, tecnologia e capacidade de resolução de problemas”, diz. “Saber ler e escrever já é o analfabetismo do passado. Hoje em dia, o que mais me preocupa é o analfabetismo tecnológico. Através do ensino da Ciência da Computação, estamos a desafiar os nossos filhos para novas formas para estruturar o pensamento, para novas formas de organizar a informação”, sublinha.

Segundo João Günther Amaral, a Ciência da Computação pode ainda assumir um papel de destaque no combate às desigualdades. “Temos também de conseguir desafiar os alunos de forma diversa e inclusiva, despertando a curiosidade pela ciência da computação junto de jovens de ambos os sexos. E aproveitar para usá-la como forma de combate às desigualdades: garantir a igualdade de oportunidades a todos os jovens do país, sejam eles do ensino público ou do ensino privado. Desta forma, teremos jovens mais preparados para o mundo em que vivemos”, defende.

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O adjunto da Comissão Executiva da Sonae [grupo que detém o PÚBLICO] diz ser necessário “fazer essa transformação, bem, à primeira”. “Não vai haver uma boa segunda oportunidade. Estamos a inspirar-nos em experiências que estão a resultar muito bem noutros países, os primeiros pilotos em Portugal estão a ter resultados que abrem excelentes perspetivas, estão envolvidas de forma individual e coletiva pessoas e organizações públicas e privadas de renome — portanto, estamos perante um movimento que partiu da sociedade civil e que pretende ser um movimento aberto, com o objetivo único de melhorar a educação e a preparação dos estudantes portugueses. Trata-se de um movimento transformador; se o soubermos aproveitar bem terá um impacto enorme, não só no ensino das ciências da computação, mas também no ensino da Matemática, do Inglês, do Português e de outras disciplinas essenciais e, acima de tudo, para o desenvolvimento de todos os alunos”, conclui.   

“Estão a beneficiar de algo que é o futuro”

Também a Câmara Municipal do Porto (CMP) defende a implementação da Ciência da Computação nas escolas, que considera essencial para “democratizar” um conjunto de conhecimentos. Ricardo Valente, vereador da Economia, Turismo e Comércio e da Gestão de Fundos Comunitários, subscreve a ideia de que “o digital, a computação, vai ser a nova escrita”. “Do mesmo modo que nós temos as competências escritas hoje ensinadas e que nos acompanham ao longo da vida, nas suas várias vertentes, a questão da computação é algo que nos vai acompanhar em todas as áreas, desde o pensamento, a medicina, a engenharia, a criatividade, a componente artística e até a música”, explica.

Para Ricardo Valente, a “ciência da computação permite sobretudo democratizar”. A computação “é um meio de democratizar um conjunto de conhecimentos, de reduzir muitas barreiras à entrada e, portanto, consideramos que é fundamental em todos os ciclos de ensino. Acreditamos que isso vai fazer uma mudança fundamental do ponto de vista do país e da capacidade que o país tem de competir no mundo global”, afirma.

O facto de a CMP estar a apostar na área digital é também uma das motivações da autarquia para abraçar o projeto da Ensico. “Um dos desejos e grandes desafios da cidade para os próximos anos é a questão da qualificação das pessoas, este tema da requalificação ao longo da vida. Faltava um projeto deste tipo, um projeto que envolvesse uma formação específica na área digital, mas que fosse feito por pessoas que estão no terreno”, refere. 

A principal mensagem que a CMP quer transmitir é que os intervenientes no projeto piloto “aproveitem” a oportunidade: “As crianças, os pais, os professores que estão neste projeto piloto são felizardos. Estão a beneficiar de algo que eu acho que é o futuro daquilo que vai ser o sistema de ensino que nós perspetivamos para os próximos tempos. Aproveitem e sejam ‘vendedores’ deste novo projeto, que isso também é fundamental”. 


“O Ponto PT (.PT) tinha de ser um dos fundadores, um dos principais fundadores da Ensico, que ensina a computação, ensina o pensamento computacional”, afirma por seu lado Luísa Ribeiro Lopes, Presidente do Conselho Diretivo do .PT. A responsável acredita que “todas e todos [os jovens] têm de ter um pensamento lógico, um pensamento computacional, um pensamento que os ajude a ter uma visão diferente deste mundo, que é um mundo mais digital”.

Luísa Ribeiro Lopes é também coordenadora-geral do programa INCODE.2030, “a maior iniciativa política pública de desenvolvimento de competências digitais”, que pretende “ver todas e todos com mais capacitação digital”. “O eixo 1 do INCODE.2030 é precisamente o eixo da educação e onde os nossos jovens vão aprender a ter competências digitais. Qual é o nosso melhor aliado nisto? É certamente um pensamento lógico, um pensamento computacional, um pensamento que nos ajude a ter uma visão diferente do que é a matemática, do que é a música, a educação. No fundo é a computação. Não necessitamos de computadores para ter um pensamento computacional, mas todos nós queremos ser mais digitais. Os nossos jovens são nativos digitais, precisam deste pensamento computacional”, explica.

A Ensico conta ainda com a colaboração e apoio de instituições de ensino superior públicas, como a Universidade do Minho e a Faculdade de Engenharia da Universidade do Porto, e de um conjunto de empresas e de organizações sem fins lucrativos.

Texto de Cynthia Valente

[Às quintas-feiras, o PÚBLICO na Escola dá espaço às ciências da computação, contando para o efeito com a Ensico]