AGRUPAMENTO DE ESCOLAS DE ÁGUAS SANTAS

Ser livre é ter opinião

“Viver Abril fechado em casa”. O PÚBLICO na Escola desafiou os alunos da Escola Secundária de Águas Santas a darem a sua opinião.

Luísa Gonçalves

25 de Abril de 2020, 0:00

aprender-publico,publico-escola, — ADRIANO MIRANDA

A nossa sugestão foi apresentada como proposta de trabalho numa aula de Português de 10º ano (turmas C, G e H) do Agrupamento de Escolas de Águas Santas, no âmbito do ensino à distância.

O formato proposto foi um texto de opinião que refletisse a contradição de vivenciar o dia da Liberdade, confinados e enclausurados em suas casas, em tempos de pandemia.

Os trabalhos apresentados foram selecionados para o Jornal Escolar em formato digital, do referido Agrupamento.

Destacamos algumas das opiniões destes alunos que podem ser lidas nos seus textos, publicados conforme os originais que nos enviaram.

“Todos fomos chamados para abdicarmos, temporariamente, da nossa liberdade e concordamos. Porque não é a liberdade ou a democracia que estão em risco, mas sim a vida.” Ana Beatriz

"Viver Abril fechado em casa" nas palavras de Ana Beatriz Silva

Em breve iremos comemorar o quadragésimo sexto aniversário do acontecimento que ficou para sempre marcado na História de Portugal, na memória dos portugueses que um dia viveram num regime ditatorial: 25 de Abril, a Revolução dos Cravos que nos devolveu a liberdade.

A minha geração deve ao 25 de Abril a liberdade de pensar, participar, exprimir e discordar. Já passaram 46 anos e já são muitos os portugueses que, felizmente, nunca viveram num país em que censura e medo eram as palavras de ordem.

Os desafios dos jovens antes do 25 de abril de 1974 estavam centrados em três objetivos: a paz em África, a democracia e o desenvolvimento. Em 2020, o desafio dos jovens é muito mais global, complexo e exigente com uma revolução digital em curso, rápidos avanços tecnológicos e científicos e problemas ambientais graves pelo efeito das alterações climáticas.

Hoje, Portugal vive em estado de emergência devido à Covid-19. Esta doença alterou a vida das pessoas. As populações estão em estado de alerta. Instalou-se o medo, a apreensão e a angústia, sentimentos outrora experimentados pelos nossos pais ou avós.

O país combate de forma desigual um inimigo invisível que não dá tréguas. Na linha da frente há um exército de bons soldados, aqueles que não podem ficar em casa para que os outros não integrem as listas dos infetados. São técnicos e auxiliares de saúde, médicos, enfermeiros, polícias, militares, bombeiros, autarcas, funcionários dos supermercados, de distribuição de correio e de produtos e serviços, e outros tantos que, no dia a dia, arriscam tudo, para o bem de todos nós.

O país obedeceu às decisões das autoridades, cumpriu as medidas impostas, e a grande maioria acatou. Os poucos que não cumpriram geraram uma onda de revolta generalizada. A exceção tornou-se normal. A oposição tornou-se colaboração. Há, pela primeira vez em democracia, uma unidade nacional e natural. O país mobilizou-se e uniu-se contra o inimigo comum.

Todos fomos chamados para abdicarmos “temporariamente” da nossa liberdade e concordamos. Porque não é a liberdade ou a democracia que estão em risco, mas sim a vida.

Esta é uma grande conquista de Abril: uma nação que se une para combater um inimigo comum.

“Esta situação permitiu-nos experienciar um pouco daquilo que se vivia antes do 25 de Abril e, com base nisso, refletir sobre as mudanças que teremos de realizar para aproveitarmos a vida, assim que tudo isto tiver terminado.” Ana Sofia

"Viver Abril fechado em casa" nas palavras da Ana Sofia Maia

Estamos há mais de um mês confinados às paredes de nossas casas! Por vezes, torna-se difícil encarar a mudança que ocorreu na nossa rotina, da noite para o dia, e ainda mais difícil se torna quando se avizinha o dia em que a nossa nação conseguiu colocar um fim à ditadura de Salazar, que tanto limitava os portugueses na sua socialização e liberdade de expressão.

Evidentemente, as circunstâncias que nos limitam são bastantes diferentes daquelas que limitavam os nossos pais ou avós, no entanto é igualmente difícil para nós, que estávamos habituados a uma realidade que nos permitia a liberdade “total”, termos de viver condicionados por uma pandemia.

Ouvimos e lemos, muitas vezes, nos meios de comunicação, comentários como “Só vos foi pedido para ficarem sentados no sofá” ou “Os vossos avós foram para a guerra e vocês queixam-se por ficarem em casa?”, porém, na minha opinião, não é fácil conseguirmos manter a estabilidade emocional quando vivemos num mundo que trava uma “guerra” constante contra um vírus que, apesar de ter uma taxa de letalidade relativamente baixa, tem uma capacidade de contaminação altíssima.

Como é óbvio, não existe comparação possível entre uma pandemia e uma repressão dos nossos direitos fundamentais, mas considero que neste momento são duas realidades semelhantes em diversos aspetos, tendo em conta que não nos é permitido viver plenamente em sociedade e que temos que seguir ordens restritivas que resultam da necessidade de isolamento e distanciamento social. Além disso, são já notórios os efeitos trágicos na nossa vida social, económica e escolar/profissional.

Na minha opinião esta situação permitiu-nos experienciar um pouco daquilo que se vivia antes do 25 de abril e, com base nisso, refletir sobre as mudanças que teremos de realizar para aproveitarmos a vida, assim que tudo isto tiver terminado.

“Que jamais nos esqueçamos deste 25 de Abril de 2020 que, para além de celebrar a liberdade, também celebra a resiliência e a esperança de vários milhões de pessoas num mundo melhor.” Ayla

"Viver Abril fechado em casa" nas palavras de Ayla Murata

Todos os anos desde 1974, o dia 25 de abril é celebrado pela população portuguesa como o “Dia da Liberdade”.

Este ano, completam-se 46 anos da revolução que pôs fim ao regime ditatorial do Estado Novo que governava Portugal desde 1933. Após anos de perseguição e opressão, a população comemorou a instauração de um regime democrático e a implantação de uma nova Constituição, que entrou em vigor em 1976.

Irónico o destino, que agora nos obriga a comemorar uma data de libertação encerrados dentro das nossas próprias casas.

Para ser sincera, era óbvio que isto ia acontecer; pelo menos era o que esperavam aqueles que acompanhavam atentamente as notícias, como eu. Esta doença, a COVID-19, espalhava-se pelo mundo a grande velocidade ceifando vidas sem olhar género, raça ou idade. Espanta-me saber que há pessoas que tem consciência disto, mas preferem continuar as suas vidas como de costume, achando que nada lhes irá acontecer. Dizem que é em nome da economia! Mas que tipo de pessoa dá primazia ao dinheiro sobre a sua própria vida? Essas pessoas não têm noção de que se estão a pôr, não só elas próprias, mas todos os que estão ao seu redor, em perigo? Indigna-me, profundamente. Já deveria ser mais do que óbvio que o isolamento social é extremamente necessário e indispensável na nossa atual situação.

É difícil? Sim. Até mesmos os introvertidos já se cansaram de encarar as paredes e o teto de seus quartos, digo-o por experiência própria. É um momento de extrema solidão para todos, não pela falta de contacto humano - existem pessoas que dividem a sua casa com mais três ou quatro pessoas - mas pelo medo e pela terrível sensação de impotência que nos agarra. Não sabemos o que acontecerá amanhã, nem quando a cura será encontrada, muito menos quando poderemos abraçar os nossos amigos novamente. A ansiedade desgasta-nos. Chega a ser engraçado o facto de comemorarmos o “dia da Liberdade” quando nos encontramos nesta situação, não?

Por outro lado, encaro esta situação paradoxal como um lembrete. De repente, no meio de tanta insegurança, cá estamos nós, vivos, prontos para relembrar um dia memorável desta nação. Deveria ser mais uma razão para nos mantermos firmes e dar ainda mais brilho à chama da esperança que está dentro de nós.

Que jamais nos esqueçamos deste 25 de abril de 2020 que, para além de celebrar a liberdade, também celebra a resiliência e a esperança de vários milhões de pessoas num mundo melhor.

“Nós, os mais jovens, temos a responsabilidade de não deixar esquecer esta data, o que ela simboliza, festejar e lutar para que continue garantida a liberdade de todos.” José

"Viver Abril fechado em casa" nas palavras de José Braga

25 de Abril de 1974 foi um dia que ficou para a História pois conseguimos conquistar a Liberdade. Atualmente, vivemos num regime político que tem por base a democracia. Então, por que estamos fechados em casa com regras e restrições?

O 25 de Abril foi uma data muito importante, pois o regime ditatorial foi derrubado definitivamente; conseguimos conquistar a liberdade e os nossos direitos; a PIDE (Polícia Internacional de Defesa do Estado) foi extinguida, a censura deixou de existir e, atualmente, podemos expressar a nossa opinião livremente sem sermos presos ou torturados. Embora seja do conhecimento comum que a ditadura foi um acontecimento negativo, ainda há pessoas que não festejam a nossa liberdade e são a favor da ditadura. Apesar do regime fascista ter sido destituído no dia 25 de Abril de 1974, não impede que, atualmente, partidos políticos com ideais ditatoriais tenham representação na sociedade.

Na minha opinião, devemos estar atentos a tudo que acontece à nossa volta, pois não podemos permitir que se volte a instalar este regime em Portugal. Nós, os mais jovens, temos a responsabilidade de não deixar esquecer esta data, o que ela simboliza, festejar e lutar para que continue garantida a liberdade de todos.

Normalmente, festejamos o 25 de Abril nas ruas, mas atualmente estamos com um problema de saúde pública que já afetou milhares de pessoas pelo mundo, o Coronavírus. Este vírus, que pode ser transmitido facilmente entre os humanos, obriga a que tenhamos de manter um certo distanciamento social, ou seja, não podemos estar muito próximos uns dos outros e a ter cuidados especiais de higiene pessoal. Devemos seguir as orientações da Organização Mundial de Saúde, saindo apenas para tarefas ou trabalhos essenciais. O cumprimento destas regras e recomendações, não implica que não tenhamos liberdade novamente. Elas só estão em vigor para que as pessoas se mantenham seguras, não transmitam ou se contagiem com o vírus e, assim, não piorem a situação. Antes de vivermos num regime democrático as pessoas não podiam sair à rua, mas por razões políticas. Muitas eram enclausuradas nas prisões, como garante para o regime fascista de que não “contagiariam” a restante população com os seus ideais democráticos.

Por isso, devemo-nos sentir felizes pelo facto de vivermos em liberdade, de escrevermos, falarmos e exprimirmos as nossas opiniões livremente, sem sermos censurados ou presos por isso.

Apesar do constrangimento de estarmos confinados em casa, na minha opinião, temos de pensar que a quarentena é por um bem maior e se nós a respeitarmos, o aborrecimento e a tristeza de estar em casa vai acabar mais cedo, porque tudo ficará resolvido mais rapidamente.

“Não acredito que o facto de termos de ficar enclausurados ponha em causa o que conquistámos com o 25 de abril.” Rita

"Viver Abril fechado em casa" nas palavras de Rita Ferreira

Como se sabe, com o 25 de abril conquistámos os nossos direitos como os conhecemos hoje. Antes desta data, não era permitido circular livremente, nem havia liberdade de expressão.

Comparando esses tempos com estes que estamos a viver nos dias de hoje devido à COVID-19, será que existem alguns aspetos em comum? A meu ver, o único aspeto em comum é que a nossa livre circulação está condicionada, ou seja, só podemos sair de casa por um motivo de força maior.

Mas será que, devido à COVID-19, estamos a perder um pouco do que conquistámos no 25 de abril? Para mim, a resposta é um claro não. Este controlo de circulação é um benefício para todos, uma vez que esta doença é altamente contagiosa e, se as pessoas andassem por aí livremente, sem controlo, o número de infetados e, consequentemente, o número de mortes seria muito maior.

Apesar de acreditar que tudo isto é necessário, não posso deixar de sentir saudades da escola, do desporto e do simples facto de poder sair à rua sem ter medo de ser infetada.

Concluindo, não acredito que o facto de termos de ficar enclausurados ponha em causa o que conquistámos com o 25 de abril. Apesar de ser difícil não sair de casa, não ir à escola, não podermos sair à rua como queremos, é necessário lembrar que esta situação é apenas temporária e que vai ficar tudo bem!

“O aparecimento deste vírus trouxe benefícios ao planeta, pois as limitações impostas conduziram, por exemplo, à redução dos níveis de CO2 e ao consequente abrandamento do aquecimento global.” Sofia

"Viver Abril fechado em casa" nas palavras de Sofia Resende

Nos últimos dias, temos vivenciado algo diferente: o terror de uma pandemia, desta vez, da COVID-19. Tendo em conta a sua expansão no mundo, em Portugal foi implementado um estado de emergência, aliado a uma quarentena que, infelizmente, já dura há mais de quarenta dias.

Do meu ponto de vista, as condições a que temos sido submetidos são indispensáveis para controlar este surto. Contudo, estas têm sido aceites pelas pessoas de formas distintas, havendo quem esteja a aguentar bem e pacientemente e quem se esteja a sentir em pânico por quase não poder sair de casa.

Pessoalmente, achei que seria muito mais complicado do que realmente tem sido, mas isso não me impede de sentir saudades de passear, de ir à escola, de ir às compras ou, simplesmente, de poder sair de casa sem qualquer restrição deste género.

Eu sei que há muitos indivíduos a não concordarem, porém, na minha opinião, o aparecimento deste vírus trouxe benefícios ao planeta, pois as limitações impostas conduziram, por exemplo, à redução dos níveis de CO2 e ao consequente abrandamento do aquecimento global. Há males que vêm por bem.

Agora que se aproxima o glorioso 25 de abril, data que marca a queda de uma ditadura que atormentou o país durante vários anos e assinala a conquista da liberdade, as pessoas queriam ir para a rua celebrá-lo, algo que este ano não acontecerá devido à clausura que nos foi imposta. Isto contradiz, de alguma maneira, o significado desse dia, mas apesar desta contingência, temos de ser positivos e pensarmos que tudo o que está a acontecer é o preço a pagar para voltarmos a ter uma vida normal e livre.

“Acredito que, brevemente, todos voltaremos a sair, nos abraçaremos e voltaremos a ser felizes, festejando a liberdade onde ela deve ser festejada, na rua.” Carolina

"Viver Abril fechado em casa" nas palavras de Carolina Pereira Alves

O 25 de abril foi uma data marcante para todos nós, em especial para quem o viveu. É o Dia da Liberdade e da voz de todos. É uma história de esperança.

Foi graças à Revolução dos Cravos que hoje podemos usufruir da liberdade que antes não existia, como a liberdade de expressão que na atualidade, em Portugal, acredito que seja respeitada. Quando se fala de 25 de Abril, para nós portugueses e, principalmente, para quem vive lá fora, as “coisas” que mais nos ocorrem são a mítica ‘Grândola Vila Morena’ e os cravos vermelhos, símbolos da Liberdade alcançada por uma revolução pacífica, sem confrontos nem baixas civis. Para muitos um dos grandes orgulhos em ser português: alcançar a liberdade moral e humana com uma revolução pacífica.

Até esse dia, a população portuguesa vivia com medo, restrições, receios, sem liberdade nem autonomia. Mas a partir desta data, tudo mudou.

Aquele 25 de Abril de 1974 aconteceu na rua iluminada por imensos sorrisos, abraços, crianças deslumbradas, mulheres e homens felizes, povo e militares alegres a verem florir a esperança no olhar de todos os que por ali passavam. Era um abril muito ansiado, muito amadurecido e muito sofrido no mais íntimo de cada um. Lá onde só a esperança e a confiança sobreviviam.

Não posso falar muito sobre o 25 de abril porque não o vivenciei, mas com as histórias que os meus familiares me contam, o que fui lendo e vendo associo-o a um momento único, muito comovente e libertador.

Bom, e estamos em 2020 e continuamos a falar do 25 de abril, o que reforça a ideia de que foi realmente muito importante.

Mas na atualidade, Portugal e o resto do mundo estão a passar por uma fase muito preocupante. A grande pandemia causada pelo Corona Vírus (COVID-19), ao contrário do 25 de abril que levou as pessoas para a rua, obriga-nos a todos a ficarmos em casa, em quarentena, para nos mantermos saudáveis.

Portugal e o resto do mundo já perderam muitas pessoas, muita população ao redor do mundo já morreu devido a esta doença. Todos estamos com medo de um vírus invisível aos olhos humanos, assim como a população portuguesa tinha medo/receio de Salazar.

Mas todos os momentos maus têm um fim. Tal como a ditadura caiu e a população portuguesa teve de volta a sua liberdade, acredito que esta pandemia não vai passar disso mesmo, de um mau momento que o mundo conseguirá ultrapassar, unido.

Assim, acredito que, brevemente, todos voltaremos a sair, nos abraçaremos e voltaremos a ser felizes, festejando a liberdade onde ela deve ser festejada, na rua.